Zendaya fala sobre ‘Malcolm & Marie’ e relacionamento tóxico retratado no filme

A atriz recebeu elogios por sua atuação e críticas ao filme. Ela vê a produção de forma diferente

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Por Gina Cherelus
Atualização:
Quando Zendaya começou a produção de 'Malcolm & Marie', o drama da Netflix feito durante o lockdown queela estrelou com John David Washington, nunca imaginou que iria despertar fortes críticas e burburinho na temporada de prêmios. Foto: Brad Ogbonna/The New York Times

Quando Zendaya começou a produção de Malcolm & Marie, o drama da Netflix filmado durante o lockdown que ela estrelou com John David Washington, nunca imaginou que iria despertar fortes críticas e burburinho na temporada de prêmios.

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O interesse de tantas pessoas não deveria ter sido uma surpresa: no ano passado, a jovem de 24 anos se tornou a mais jovem vencedora do Emmy de melhor atriz por sua emocionante atuação como Rue, uma adolescente viciada em drogas na série dramática da HBO Euphoria. Ela agora está concorrendo ao Prêmio de Escolha da Crítica por Malcolm & Marie.

Depois que a produção da 2ª temporada de Euphoria foi suspensa por causa da pandemia, Zendaya e o criador do programa, Sam Levinson, queriam ver se eles poderiam criar um filme durante a quarentena no ano passado. O resultado foi Malcolm & Marie, filmado em uma casa no norte da Califórnia, fazendo de conta ser Malibu, por um elenco e uma equipe que tinha o total de 22 pessoas (a maioria delas tendo trabalhado em Euphoria) em apenas duas semanas.

“Sabe, é engraçado se você tivesse nos contado que haveria uma conversa por aí, sabe, prêmios ou o que seja, isso é loucura! Estávamos todos apenas tentando descobrir juntos como fazer tudo”, disse Zendaya.

Zendaya atuou em 'Malcolm & Marie' e também trabalhou como produtora do filme. Foto: Brad Ogbonna/The New York Times

No filme, escrito e dirigido por Levinson, um cineasta chamado Malcolm (Washington) e sua namorada, Marie (Zendaya), entram em uma discussão que dura uma noite inteira após a estreia do filme dele. Suas idas e vindas às vezes abusivas e cheias de monólogos envolvem, entre outras coisas, o fato de ele esquecer de agradecê-la por suas contribuições para seu projeto, que se concentra em uma viciada em recuperação, muito parecida com Marie.

O roteiro do filme foi amplamente criticado e desencadeou várias discussões nas redes sociais em relação à diferença de idade entre os atores (Washington tem 36 anos), sobre uma história com personagens negros escrita por um cineasta branco e a respeito do romance tóxico dos personagens.

“Nenhum de nós que fez o filme pensa que eles estão, tipo, em um relacionamento saudável, você sabe o que quero dizer?”, Zendaya disse. “Acho que ele era para explorar essas inseguranças e essas coisas sombrias sobre nós mesmos que às vezes os relacionamentos podem trazer para fora de nós”.

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A atriz, que também trabalhou como produtora do filme, conversou por vídeo de Atlanta, onde está filmando o próximo Homem-Aranha, a respeito das reações ao filme e sua esperança de se tornar uma cineasta que cria mais papéis para mulheres negras. Estes são trechos editados da conversa.

Houve críticas ao retrato do filme de relacionamentos tóxicos e Sam Levinson escrevendo sobre um casal negro sendo um homem branco. Houve espaço para você e John David Washington colaborarem e fornecerem informações a respeito de diferentes aspectos da experiência negra?

Sim, claro. Acho interessante que excluem um pouco da nossa atuação ao falar isso. Como se ela fosse apenas um meio para que Sam vomitasse coisas por meio de nós, sem falar que não somos apenas atores no filme, mas somos co-financiadores e produtores que aparecem nos créditos. Você não consegue esses créditos a menos que realmente faça o trabalho.

Acho que também espelha um pouco a situação de Marie, certo? É como Marie dizendo que todo o filme (o filme de Malcolm) também é meu. Mas, na verdade, na vida real, nós temos o crédito, este é nosso, e John David, eu e Sam somos os proprietários deste filme. Não é como se pertencesse a outra pessoa e eu tivesse apenas sido escalada para ele. Ele escreveu para nós também, e eu acho que se você vai escrever algo, você tem que reconhecer as experiências do personagem (negro) que você está escrevendo. Achei que muitas conversas que tive com Sam apareceram no meio do texto.

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Também houve muito debate quanto a diferença de idade. Mas parece que a diferença se encaixa no contexto do filme. Como você lida com certas expectativas colocadas em você como ex-atriz infantil?

É interessante que isso tenha se tornado tão gritante porque meus pais têm, tipo, 13 anos de diferença entre eles. Mas também tento olhar para mim mesma de fora e percebo que interpreto uma adolescente desde que era adolescente. Ainda faço uma garota de 17 anos na televisão e no cinema. Sou grata pela minha pele negra não enrugar tão fácil, então posso continuar fazendo isso.

Existe alguma coisa que você espera que as pessoas que possam se identificar com partes do filme tirem dele?

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Não há uma mensagem específica. É mais uma peça para abrir um diálogo. Vocês são a mosca na parede. Vocês estão observando a codependência, o narcisismo, os altos e baixos de algo que tem muita toxicidade.

Ele desencadeia gatilhos para pessoas diferentes de maneiras diferentes, porque elas se encontram conectadas a diferentes partes dos personagens. Se há algo a tirar disso, é essa ideia de gratidão (com) as pessoas em nossas vidas que tornam possível fazer o que fazemos.

Para qualquer jovem passando por algum tipo de relacionamento e ou algo como toxicidade ou qualquer que seja o caso, acho que uma coisa importante é entender o seu valor.

Percebi nas suas redes sociais que você posta algumas fotos que tirou. Fotografia ou cinematografia é algo em que você se interessa profissionalmente?

Extremamente. Quer dizer, eu adoraria ser cineasta. Eu não sei quando isso vai acontecer. Sam sempre diz coisas como, eu te dou um ano até que você esteja dirigindo algo, e eu digo, tudo certo, bem, isso significa que você tem um ano para me ensinar. Então, eu não sei como é isso pessoalmente, mas realmente gostei de ser uma produtora. E eu gosto dessa ideia de, com sorte, um dia ser capaz de fazer as coisas que quero ver, os papéis que quero ver para mulheres negras. Isso seria emocionante e um objetivo meu.

TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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