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Revolta de estrelas como Scarlett Johansson era batalha anunciada contra Hollywood

Entenda processo movido pela atriz e possíveis mudanças para a indústria do cinema

Por Javier Romualdo
Atualização:

Hollywood assiste a uma batalha épica: Scarlett Johansson, uma das atriz mais bem pagas, processa a gigante Disney por estrear Viúva Negra nos cinemas e na televisão. Um conflito que é apenas a ponta do iceberg da virada radical que está acontecendo na indústria do cinema.

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Primeiro foram or proprietários das salas, depois, os diretores, e agora chega a vez dos atores. Grande parte do mundo do cinema não está de acordo com a aposta que os grandes estúdios estão fazendo pela televisão, acelerada pela pandemia.

Johansson, protagonista do filme mais recente da Marvel, processou a Disney na quinta-feira, 29, por descumprimento de contrato, já que assegura que o acordo que havia sido feito com o estúdio garantia uma estreia exclusiva nos cinemas e grande parte de seu salário estava baseado nos ganhos da bilheteria.

Scarlett Johansson em uma cena de 'Viúva Negra' Foto: Marvel Studios/Disney

Viúva Negra conseguiu no incício de julho a estreia mais lucrativa da pandemia ao arrecadar 80 milhões de dólares nos cinemas dos Estados Unidos. A empresa ganhou outros 60 milhões graças ao serviço pago Disney+, que ficaram fora do contrato assinado com a protagonista.

Mas em sua segunda semana, a venda de ingressos despencou até se transformar no pior lançamento da Marvel. Até hoje, a produção havia arrecadado 320 milhões de dólares em todo o mundo. Um valor baixo para uma franquia que alcançava os 900 milhões com facilidade.

Scarlett Johansson havia perdido US$ 50 milhões

Para mostrar sua decepção, Johansson mostrou uma troca de mensagens de 2019 em que a Marvel admitia que se os planos mudassem teriam que "chegar a um novo acordo". O The Wall Street Journal estima que ela perdeu cerca de 50 milhões de dólares.

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"Bom para ela. Muitos outros atores estão incentivando e apoiando Scarlett. Ela tem muito poder e isso faz com que esta seja uma discussão com visibilidade que põe a Disney em seu lugar. Ao fazer tudo em público, poderá mudar as regras", disse um agente à revista Variety, sem revelar sua identidade.

Pouquíssimas estrelas têm apoiado Johansson publicamente porque se opor à Disney, o maior estúdio do mundo, é como dar um tiro no pé. Dave Bautista e Alec Baldwin falaram sobre a situação.

Will Smith, Gal Gadot, Christopher Nolan, Pixar... Scarlett Johansson não é a única

O fato é que a Disney esperou um ano inteiro para estrear Viúva Negra e, finalmente, optou por um lançamento híbrido em cinemas e televisão. A pandemia lhe caiu como um anel ao dedo para divulgar o streaming Disney+, concorrente da Netflix.

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Em abril, o jornal Business Insider falou com diversos empregados da Pixar (propriedade da Disney) que estavam "desmotivados" porque seus dois últimos filmes, Soul e Luca, sequer passaram pelos cinemas e foram diretamente à plataforma televisiva. Algo que, anos atrás, era impensável para o estúdio de Toy Story

Sua reclamação foi anônima por conta das cláusulas de confidencialidade que impõem os contratos de Hollywood. Em dezembro do ano passado, a Warner Bros. gastou mais de 250 milhões de dólares para emendar contratos, alguns de estrelas como Will Smith, Denzel Washington e Gal Gadot. Mas nunca chegaram à Justiça porque a maioria dos acordos incluem disposições de arbitragem.

Cena da animação 'Soul', que estará na plataforma Disney+ Foto: Disney/Pixar

Quando o estúdio anunciou que estrearia todos os seus filmes de 2021 pelo HBO Max, as agências de atuação se revelaram e o diretor Christopher Nolan resumiu o sentimento de muitos.

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"Alguns dos cineastas e estrelas de cinema mais importantes da nossa indústria se deitaram na noite passada pensando que estavam trabalhando para o melhor estúdio cinematográfico e acordaram descobrindo que estavam trabalhando para o pior serviço televisivo", disse o cineasta, que trabalhava com a Warner Bros. desde 2002.

Igual ou maior é a insatisfação dos proprietários de cinemas, que além do coronavírus têm visto os próprios estúdios como outro inimigo.

Uma demanda com futuro incerto

No que diz respeito à batalha de Scarlett Johansson e Disney, não há nada claro. 

Scarlett Johansson posa para fotos no tapete vermelho do Oscar. Foto: REUTERS/Eric Gaillard

O estúdio não se conteve na hora de atacar à sua estrela. "Essa denúncia é especialmente triste e angustiante por sua cruel indiferença aos efeitos horríveis, prolongados e globais da pandemia do coronavírus", afirmou em um comunicado em que revelou que pagou à atriz 20 milhões além de seus honorários.

A defesa da Disney se apoiará no fato de que o contrato de Scarlett Johansson fala de "lançamento amplo" em cinemas e não de "lançamento exclusivo", ainda que a atriz insista que antes da pandemia ambos os conceitos eram equivalentes e não se dava margem a outra interpretação.

Mas o último ano e meio transformaram Hollywood.

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