De tempos em tempos, a questão dos direitos autorais de O Diário de Anne Frank, um dos maiores best-sellers de todos os tempos, volta ao debate. Temos a ideia de que a obra que escontramos nas livrarias, escrita pela garota no esconderijo em que ela viveu com a família e amigos, é tal qual seu diário. Mas as páginas daquele famoso caderno xadrez que ela ganhou no aniversário de 13 anos logo foram preenchidas e ela foi escrevendo em outros cadernos e em folhas avulsas que ia conseguindo.
Então, ao recuperar o pacote com os escritos da filha, morta no campo de concentração de Bergen-Belsen, em 1945, Otto Frank tratou de organizar esses registros para então transformar o diário em livro. Páginas podem ter ficado fora da edição. Outras podem ter sido incluídas.
Otto distribuiu o legado de Anne entre duas fundações, que ele criou ou ajudou a criar. A Fundação Casa de Anne Frank, de Amsterdã, se tornou um museu obrigatório e, portanto, sempre lotado, na cidade. A da Suíça ficou com os direitos do diário publicado por Otto com a condição, imposta por ele, de que o dinheiro ganho seria doado para instituições como a Unesco. As vendas nunca diminuíram, já que sua leitura também é obrigatória. As duas nunca se entenderam, e sempre quiseram mais do que já tinham.
Na edição que circula e que já ganhou mais de 160 traduções, está gravado que os direitos pertencem a Otto, e não a Anne. E o que todos esperavam - que a obra entrasse em domínio público no dia 1.º de janeiro - talvez não se concretize. Se ele é o detentor dos direitos e se ele morreu em 1980 vão aí mais uns bons anos até que O Diário de Anne Frank possa ser publicado por quem bem entender.
"Se seguirmos o argumento (da fundação suíça), isso significa que, por anos, eles mentiram sobre o fato de que o diário foi escrito apenas por Anne", disse Agnès Tricoire, advogada especializada em propriedade intelectual, ao New York Times.
Há pelo menos cinco anos, a Fundação Casa de Anne Frank trabalha, com historiadores e pesquisadores, para criar uma versão on-line da obra, que ela pretendia publicar, também em papel, em 2016.
No Brasil, O Diário de Anne Frank é publicado pela Record e já vendeu, ao longo dos anos, mais de 400 mil exemplares. A editora brasileira também espera que tudo permaneça como está até 2051, quando a obra, segundo alguns argumentos, entrará em domínio público.
Se a briga for por dinheiro, O Pequeno Príncipe tem uma lição a dar.
A famosa obra de Saint-Exupéry caiu em domínio público este ano em diversos países (ironicamente, não na França). Dezenas de novos títulos chegaram às livrarias brasileiras por editoras variadas, e todos estão vendendo como pão quente.
Se em 2014, último ano do reinado da Agir, que lançou a obra aqui em 1952, foram comercializados, segundo a Nielsen, 140 mil exemplares, os números serão muito melhores este ano. Só no primeiro semestre, a obra somava 152 mil cópias vendidas - e a Agir seguia na liderança.
A ver quais serão as cenas dos próximos capítulos.
Leia também: 'O Pequeno Príncipe' é best-seller há mais de meio século Sobrevivente do Holocausto, Nanette Blitz Konig lança livro sobre sua históriaHistória de Anne Frank ganha versão ilustrada para criançasFãs de 'A Culpa é das Estrelas' descobrem Anne Frank