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Influencers estimulam gosto pela leitura em seus seguidores

Conhecidos como booktoks ou booktubes, criadores de conteúdo compartilham sugestões de livros em seus canais

Foto do author Ana Lourenço
Por Ana Lourenço
Atualização:
'Eu encontrei companhia, coisa que no meu dia a dia não tinha', afirma a influenciadora Mell Ferraz Foto: Acervo pessoal

A associação das redes sociais com os livros não é imediata. Pode-se até dizer que um dia a relação foi antagônica. Hoje, no entanto, é possível ver uma grande mudança neste cenário graças aos influencers literários, também conhecidos como booktoks, booktubes, bookgram e booktt (nomes dados aos leitores presentes nas respectivas redes sociais: TikTok, YouTube, Instagram e Twitter).

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“A parte mais legal desse crescimento (de influencers literários) é ver as pessoas entrando no mundo literário e até pessoas retornando para ele”, opina Pedro Henrique Baumgarten, de 16 anos, que já conta com mais de 45 mil seguidores no TikTok, plataforma na qual ele posta resenhas e indicações de livros. “Sempre gostei muito de ler, mas não sabia que existia uma comunidade online. Quando vi, comecei a fazer vídeos desse tipo”, diz.

Para Beatriz Ramos, de 18 anos, criadora da conta @leituradabia, o crescimento do TikTok está relacionado com o aumento da comunidade literária. “O algoritmo do aplicativo entrega os vídeos muito mais facilmente, e é mais simples começar a seguir alguém, porque a opção está ali dentro do vídeo”, explica ela. A facilidade de busca por vídeos do segmento também é importante. A hashtags #booktok, por exemplo, conta com mais de 6 bilhões de visualizações. Sua versão brasileira, #booktokbrasil, tem 82,6 milhões. 

A chamada geração Z – pessoas nascidas entre a segunda metade dos anos 90 e início de 2010 – é uma das mais presentes na plataforma. Seu formato, com vídeos de até 60 segundos e músicas dançantes, justificam a alta presença. Assim como o fato das crianças usarem smartphones cada vez mais cedo. 

Yasmin Lins, de 18 anos, sabe bem disso. Somando suas duas contas, são mais de 110 mil pessoas acompanhando as publicações da estudante – todas relacionadas com seus livros favoritos. “Eu gosto muito de usar as músicas no fundo para indicar os livros de acordo com os gêneros específicos”, divide ela. “Mas é difícil. É só um minutinho para falar todas as coisas, então eu tenho que resumir bastante. Foco na minha opinião e no que eu achei mais interessante do livro.”

São cerca de seis vídeos por dia postados pela booktoker. Ela explica que suas leituras são feitas de madrugada, para dar conta das leituras escolares, além das opcionais. “Eu vejo muita gente falar sobre os livros do vestibular, mas a gente quer algo que fuja dessa obrigação”, diz.

Hábito. Foi com Triste Fim de Policarpo Quaresma, romance de Lima Barreto frequentemente presente nas listas dos vestibulares, que a criadora de conteúdo Mell Ferraz percebeu que falar sobre literatura online ajudou a registrar, também, a sua vida. “Uma vez eu comentei sobre o livro e falei que eu queria reler, porque achava que tinha adorado. Mas um seguidor veio e falou: ‘olha, não foi isso que você contou no seu vídeo, não”, relata ela, que há onze anos comanda o blog Literature-se

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“Tira o Literature-se da minha vida, ou mesmo tira a literatura da minha vida. O que sobra? nada!”, brinca. Influenciada pelo blog, Mell se graduou em estudos literários na Universidade Estadual de Campinas e se tornou criadora de conteúdo com o canal. “Se eu não tivesse ficado na área, talvez o blog já não existisse”.

O motivo da criação do espaço foi unânime para todos os entrevistados: criar um local para conversar com outras pessoas sobre livros. “Foi um lugar de muito aconchego para mim. Eu encontrei companhia, coisa que no meu dia a dia não tinha, porque meus colegas não gostavam muito de ler”, conta Mell. 

Atualmente, no entanto, com mais de 155 mil inscritos no YouTube e quase 85 mil no Instagram, a troca não é mais a mesma. “É muito diferente para quem começa hoje porque já pega esse lugar de trabalho; naquela época era um hobby”, diz a jovem, explicando as questões de algoritmo, frequência e a chamada ‘spoilerfobia’.

Beatriz, que começou a produzir conteúdo no ano passado, evita falar até mesmo sobre a sinopse em seus vídeos. “Eu acho que fala muito do que vem da história e isso acaba tirando a graça. Então eu só falo o essencial e sobre o que eu senti.”

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A diversidade e possibilidades de formatos, hoje, conseguem satisfazer diferentes públicos. Mas as que servem para vários gêneros e vêm fazendo sucesso pelo mundo são as chamadas ‘sprints’ de leitura. “É um conteúdo que você literalmente lê junto com os espectadores. Pode ser esquisito, mas você se inspira a ler naquele momento”, divide Mell. 

No YouTube, as variações do estilo com estudos ganharam destaque. Já no TikTok foi a versão timelapse. “Acho muito legal porque eu não gosto de saber tudo sobre a história do livro, gosto de saber sobre o que ele fala, então ver a reação da pessoa é, às vezes, mais legal pra ter só uma ideia do conteúdo”, opina Bia.

Influência. Para muitos, os livros foram um escape da realidade durante a quarentena, mas para outros, a prática se tornou mais difícil. “Antes da pandemia conseguia ler três, quatro capítulos por dia. Hoje, leio um e está bom”, conta a relações-públicas Giovanna Saccoman, de 24 anos. Para ela, não cumprir com o rápido cronograma fornecido pelas influenciadoras de livros não é impedimento para segui-las. “Isso não me desestimula a acompanhar um clube do livro, porque eu pego as recomendações e vou lendo depois, no meu tempo”, diz.

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Motivada, Giovanna Saccoman hoje gosta de ler no Kindle Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A multiplicidade de assuntos também é uma das prioridades de Giovanna na hora de seguir um influenciador. “Eu gosto muito de ler, mas eu também gosto de viajar, comer fora, então eu me interesso quando a leitura está no meio do conteúdo dessa pessoa”, coloca ela.

Justamente o estilo de público da criadora de conteúdo Luisa Accorsi. Blogueira desde 2010, ela sempre tentou levar todos os seus interesses como pauta para o seu canal. “Acho que a gente tem a mania, principalmente com as mulheres, de colocá-las numa caixinha, sabe? ‘Ah, a mulher gosta de moda, então ela não gosta de ler’. E acho que as minhas seguidoras se identificam com isso de serem múltiplas”, diz ela. Percebendo um interesse de seu público pelos livros, ela decidiu criar o Books da Luli, em 2018. “Eu percebi que tinha um nicho para o assunto e criei o espaço para me aprofundar mais”, diz.

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Foi lá que Giovanna se apaixonou pela leitura através do Kindle, aparelho da Amazon que teve um crescimento de vendas em 2020. “Eu via que era muito prático para ela. Então comprei o aparelho na Black Friday e baixei A Última Festa, de Lucy Foley, que era o que ela estava lendo na época”, afirma Giovanna.

Para a profissional de relações públicas, o crescimento do assunto literário nas redes é muito positivo. “Por muito tempo, ser leitor era visto como alguém chato, ‘old school’, e quando você vê pessoas legais lendo, isso desconstrói. O TikTok, por exemplo, são 10 segundos que a pessoa vai ter contato com uma leitura, mas que pode sair algo muito bom de lá”, opina.

Dicas para melhorar sua leitura:

  • Não se cobre

O dia a dia já está muito difícil para você ter mais uma coisa sobrecarregando sua saúde mental. Se puder e quiser, leia nos dias em que estiver bem 

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  • Pouco a pouco

Não é preciso ler três horas seguidas para criar o hábito de ler. Tem 15 minutinhos sobrando? Aproveite! 

  • Comunidade

Encontre um clube do livro ou até mesmo amigos que gostem de ler estilos e tenham um ritmo parecido com o seu. Compartilhar a experiência pode ser um ótimo incentivo 

  • Familiar

Leia o que já conhece. Não, você não leu errado. A leitura de uma obra que foi inspirada em algum filme que você adorou, por exemplo, pode ser uma ótima forma de explorar ainda mais aquele universo querido

  • Ressaca literária

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O desinteresse ou dificuldade de concentração na hora de ler um livro é comum. Para a cura, os entrevistados indicam leituras leves e com poucas páginas

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