Vera Holtz encanta como Magnólia, a mulher má destaque de 'A Lei do Amor'

Atriz conversou com o 'Estado' sobre sua carreira e o sucesso que faz nas redes sociais

PUBLICIDADE

Foto do author Ubiratan Brasil
Por Ubiratan Brasil
Atualização:

Uma particularidade na voz de Vera Holtz impressiona - e não é seu indisfarçável sotaque do interior paulista. O timbre soa forte e suave ao mesmo tempo, além de uma inflexão que deixa a música verbal fluir sem deixar de desenhar o sentido das frases. É o que se observa agora na novela A Lei do Amor, em que vive Magnólia Costa Leitão, madrasta do protagonista Pedro, interpretado por Reynaldo Gianecchini. “É um personagem exuberante porque é a vilã da trama”, conta ela, em uma conversa por telefone em uma tarde da semana passada, enquanto se maquiava para gravar mais uma cena, no Projac, o hollywoodiano estúdio da Globo.

“Com um papel assim, é possível modular os graves e os agudos. Essa qualidade multifacetada encanta o público, que percebe a humanidade da personagem, que aquela mulher existe”, continua ela. Com seu longo cabelo platinado, Mag, como é chamada, é uma mulher ambiciosa, manipuladora, que não mede esforços para viabilizar seus planos. Vera conta que aproveitou o tempo que o elenco teve para gravar boa parte dos capítulos antes da estreia para descobrir detalhes daquela vilã. “Uso algumas referências da ficção e também da realidade em um lento trabalho até descobrir o caminho ideal a ser seguido, ou seja, quando consigo injetar sangue no personagem.” Segundo seu raciocínio, o ator tem domínio sobre a conduta desse personagem até o capítulo 20 da novela. “A partir daí, a resposta do público começa a interferir. Aliás, a primeira pessoa a reagir em relação a Magnólia foi o motorista que me leva até o Projac: certo dia, ele me disse: ‘Dona Vera, odeio a senhora’. Adorei.”

PUBLICIDADE

A experiência em folhetins (estreou em 1989, em Que Rei Sou Eu?, de Cassiano Gabus Mendes) permite a Vera colecionar uma série de truques bem sucedidos. Agora, como a vilã Mag, ela consegue a proeza de, mesmo sendo do mal, conquistar a simpatia, ainda que enviesada, dos telespectadores. “Quando a cena tem uma forte carga emocional, procuro fazer com a maior leveza possível”, ensina ela.

Vera, assim como boa parte do elenco de A Lei do Amor, tem norteado sua atuação por uma pequena obra-prima do escritor italiano Italo Calvino (1923-1985), o livro Seis Propostas para o Próximo Milênio (Companhia das Letras), série de conferências escritas por ele para a Universidade de Harvard, no ano de sua morte. Lá, Calvino descreve as seis qualidades que julgava essencial para a literatura: leveza, rapidez, exatidão, visibilidade, multiplicidade e consistência. “A sugestão partiu do Eduardo Milewicz, que cuida da preparação do elenco da novela, e foi muito importante para, por exemplo, dizer um texto cruel com leveza, sem precisar gritar”, explica. Tamanha experiência só não foi suficiente para conter o nervosismo quando começou a encenar ao lado de Tarcísio Meira, que vive seu marido na trama. Estar diante do homem que personifica a história da telenovela brasileira não foi tarefa fácil. “Logo no primeiro dia, para quebrar o gelo, brinquei com Tarcísio dizendo que eu causaria a maior inveja no pessoal de Tatuí (sua cidade natal) quando me vissem em seus braços”, diz Vera, completando com uma sonora gargalhada.

Segundo ele, não é fácil dividir o espaço com monstros sagrados da arte nacional. Ela se lembra, por exemplo, de sua estreia em Que Rei Sou Eu?. “Eu tinha uma cena em que devia bater numa porta e entrar. Na hora H, porém, não consegui nem dar as batidas. O diretor (Jorge Fernando) veio falar comigo e justifiquei: ‘Gente, do outro lado da porta está uma rainha de verdade, a Tereza Rachel, não é fácil isso’.”

Foi nesse folhetim que Vera tomou preciosas lições de dramaturgia televisiva com o veterano ator e diretor Antônio Abujamra. “Ele me fez entender a diferença entre atuar no teatro e em uma novela”, conta ela, que aos poucos criou um método próprio, tornando-se uma exímia pesquisadora de todos os contextos que envolvem seus personagens. Isso possibilita uma gama variada de interpretações, o que o espectador poderá conferir também no cinema - em breve, Vera poderá ser vista em diversos filmes. Como Maresia, de Marcos Guttmann, que estreia na quinta-feira, 3, além de Berenice Procura, de Flavia Lacerda, e TOC, de Paulinho Caruso e Teo Poppovick, que devem chegar aos cinemas em março.

Enquanto isso, Vera administra o sucesso na novela e nas redes sociais, onde se tornou enorme sucesso com seus inusitados retratos. “Todos pensam que há uma grande produção envolvida, mas somos apenas dois”, diverte-se ela, autodenominada Vera Viral.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.