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Um caldeirão sem mágica

Luciano Huck diz que não há calculismos na trajetória que o levou ao topo no sábado à tarde

Por Patricia Villalba
Atualização:

Não é difícil imaginar Luciano Huck lançando pó de asa de morcego e pirlimpimpins num caldeirão. Mas ele se apressa em dizer que não há mágica na trajetória do cara que já foi considerado o "porta-voz dos mauricinhos" e que, hoje, é um dos apresentadores mais bem-sucedidos da TV, com carisma entre todo tipo de público e trânsito em todas as classes sociais.   Veja também: 'Zezé, soletre obsessão' Trabalho, trabalho e trabalho - e nada do "loucura, loucura, loucura" que lançou como bordão. Foi isso, mais uma boa dose de paciência, que levaram o Caldeirão do Huck, da Globo, à liderança no sábado à tarde, depois de perder em audiência para o Programa Raul Gil, da Record. Essa é uma disputa que ficou no passado, assim como o programa Circulando (CNT), onde Huck invadia festas ou o H, da Band, que lançou beldades seminuas ao estrelato. Há nove anos, Huck é global - "Estou no lugar certo", constata. Assim, no lugar certo - os divertidos bastidores de gravação do Caldeirão -, ele recebeu o Estado para esta entrevista. Você conseguiu se firmar em um horário histórico, que já foi do Chacrinha, mas em uma linha bem diferente. O êxito indica que a audiência mudou? Hoje, a televisão é diferente. Acho que (a conquista) do sábado à tarde foi um exercício mútuo de paciência e de trabalho com a Globo, e também a sensibilidade de entender o que o público esperava do horário, do Caldeirão e de mim. E você começou a acertar quando entrou na onda dos reality shows? Eu não faço reality. A palavra reality é muito ampla, se você parar para pensar. A televisão é reality, tudo é reality. O Caldeirão foi um exercício de paciência e trabalho, muito trabalho. Sofreu muito quando chegou à Globo e perdia em audiência para o Raul Gil? Isso aconteceu por muito pouco tempo, só nos dois primeiros anos. E eu acho natural, tinha um processo de acomodação que era necessário. Em televisão, você não pode ser ansioso. Televisão é paciência, calma. Hoje, eu sou da casa, ando por isso aqui e adoro. Adoro o Projac. E gosto de televisão. Estou no lugar certo. Desde a época em que começou na TV, invadindo festas, já pensava em estar na Globo? Nunca planejei o que sou hoje. Sou um cara que gosta de comunicação e que está aprendendo a fazer televisão no dia-a-dia. E sempre gostei de trabalhar. É clichê, mas é verdade: o único lugar onde sucesso vem antes de trabalho é no dicionário. Não tem mágica. Não vou perguntar qual é o segredo do sucesso, mas você deve saber que tem fama de Midas. Como faz isso sem planejamento? Lógico que tem planejamento, depende do quê. Eu sempre trabalhei muito e não tenho vergonha disso, gosto de trabalhar. Para mim, é muito difícil separar onde começa o trabalho e termina o lazer, são coisas muito misturadas. Eu venho todos os dias aqui por prazer. A minha turma de trabalho são os meus amigos. A gente senta para fazer reunião de pauta e chora de rir. O programa hoje é muito planejado. Em televisão de alto rendimento, que é o que a gente faz, você tem de planejar. O Caldeirão faz uma mistura que vai do educativo Soletrando ao deseducativo funk do Créu. Como você dosa isso? Eu não tenho esse tipo de policiamento, mesmo. Faço um programa que respeita o telespectador, mas não significa que vou botar menos ou mais disso. Vou tocar o que o povo quer ouvir, e não tocar o que o povo não quer ouvir. E a música está mais na trilha. O programa é embalado por música, mas poucos cantores se apresentam nele hoje em dia. O Pancadão do Caldeirão é o terceiro CD mais vendido do País há 3 meses. Na Bandeirantes, você tinha um programa jovem. Na Globo, você usa o carisma que tem com a juventude, mas não faz um programa apenas para jovens... Passaram 12 anos. Eu tenho 36, tinha 24. Muda muita coisa, imagine o que aconteceu na sua vida em 12 anos. Na Globo não dá para segmentar sua audiência. Ou você fala para todo mundo ou não vai dar certo, ainda mais num sábado à tarde. Ele leva ao público jovem, e de classe média, histórias de gente do povo, como o endividado que vai tentar a sorte... Não tem isso no programa. Eu nunca vou pelo viés da dívida. Não é isso que estou dizendo. Digo que tem a banda do momento e também o cara que vai cumprir a tarefa para subir na vida. Tem mesmo. Eu sou um cara que não tem o menor preconceito de nada. Podem até ter preconceito com relação a mim, mas eu não tenho preconceito com relação a nada. Tenho todo tipo de amigo, acho que todo mundo tem uma boa história para contar. E acho que o programa não tem de ter preconceito de nada, qualquer boa história interessa.

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