Ulisses pelo olhar de Theo Angelopoulos

O premiado diretor grego filma epopeia do mítico herói em busca de uma resposta para crise atual

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Por Antonio Gonçalves Filho
Atualização:

No lugar do mítico herói de Homero, Ulisses, está um cineasta moderno (Harvey Keitel) de volta à Grécia natal, após 35 anos de ausência, em busca de um filme raro, o primeiro que teria sido rodado nos Bálcãs. É preciso um pouco de paciência para acompanhar essa viagem, especialmente se você nunca viu um filme de Theo Angelopoulos, o mais prestigiado entre os diretores gregos. Seu ritmo é lento e seus filmes raramente têm menos de três horas de duração (caso deste). Mas o sacrifício compensa. Um Olhar a Cada Dia (To Vlemma tou Odysssea, 1995) é uma reflexão poética sobre a violenta história dos países balcânicos. Angelopoulos acompanha a jornada de seu herói por lugares marcados pela tragédia - Sarajevo, Belgrado, Bucareste. O herói-cineasta, identificado apenas pela letra A, chega ao norte da Grécia para exibir seu filme, que provoca reações de fanáticos religiosos. Aconselhado a deixar a cidade, ele embarca num táxi, reencontra a antiga amante (Maia Morgenstern) e, ao atravessar a fronteira, testemunha a humilhação de imigrantes albaneses, ao buscar a aldeia onde os pioneiros irmãos Manakis realizaram seu filmes, documentos que registram a alma dos Bálcãs. Angelopoulos usa os filmes de Manakis como metáforas da eterna guerra cultural nesse ponto explosivo do globo, em que multiculturalismo é quase palavrão. Um filme árido, mas essencial.

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