'True Detective' tenta reinventar séries policiais

Com 8 episódios, atração que estreia na HBO evidencia êxodo de astros para TV

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Por Mariane Morisawa/Los Angeles
Atualização:

Dá para ter certeza de que a televisão americana está mesmo vivendo sua era de ouro quando astros e estrelas de primeira grandeza aceitam papéis em seriados, minisséries e filmes feitos para a telinha. Depois de Matt Damon e Michael Douglas (Minha Vida com Liberace), é a vez de Matthew McConaughey e Woody Harrelson na série policial em oito episódios True Detective, criada por Nic Pizzolatto, que estreia na HBO na madrugada de domingo para segunda, à 0h02.

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"Para mim, foi uma decisão simples: o roteiro era muito bom", contou McConaughey em entrevista, em Los Angeles. True Detective faz parte da reinvenção do ator texano de 44 anos: antes considerado apenas um bonitão perfeito para comédias românticas em que aparecia sem camisa, ele agora é sério. Tão sério que deve ser indicado para o Oscar de melhor ator na quinta-feira, por seu papel em Clube de Compras Dallas.

Quando seu agente lhe apresentou o projeto, disse que era uma série de oito episódios, com um único roteirista e um único diretor, Cary Fukunaga, de Jane Eyre - na televisão, normalmente, vários se revezam atrás das câmeras. "Então, para mim, era como um longa de 450 páginas que, por acaso, ia passar na televisão", afirmou o ator. Ele nem acompanha a chamada era de ouro porque não assiste televisão, ao contrário de seu companheiro de elenco e amigo pessoal, Woody Harrelson, fã de Breaking Bad, Homeland, Newsroom e, surpreendentemente, Downton Abbey. Mas é fácil de entender por que os dois embarcaram na série. A princípio, os produtores queriam McConaughey no papel de Martin Hart, o homem de família, temente a Deus, que investiga uma morte conforme os livros ensinam. Mas o ator se encantou por Rust Cohle, o novo detetive dado a filosofias, descrente, que enlouquece seu parceiro pé no chão. Segundo McConaughey, houve certa hesitação da outra parte, mas ele tinha certeza do que queria. E assim ficou com Cohle, enquanto Harrelson foi escalado como Hart. "Eu estava pertinho assim do melhor papel!", brincou Harrelson na entrevista.

A dupla nem tão dinâmica tem um mistério e tanto nas mãos no crime provavelmente cometido por um serial killer numa espécie de ritual. Mas a investigação, admite o autor Nic Pizzolatto, é apenas uma espécie de cortina de fumaça. "A ideia era usar esses clichês como uma maneira de colocar a audiência num terreno familiar. Fazendo isso, podia ir mais longe nas minhas ambições de discutir preocupações essenciais: morte, sexo, memória", informou Pizzolatto, um escritor de romances e ex-professor universitário de literatura cujos créditos na indústria audiovisual incluem apenas dois episódios da série policial The Killing. "True Detective não é sobre um serial killer, mas sobre dois homens e suas vidas. Não tenho interesse nem entusiasmo por serial killers, que na ficção não são reais. O lado sombrio vem da personalidade e da cultura humanas e do fato inescapável que é a morte."

A nova série, portanto, explora mais o relacionamento e os demônios pessoais de seus dois protagonistas do que o passo a passo de uma investigação. Quando leu um manual de investigação de crimes para se preparar para escrever a série, Pizzolatto ficou mais intrigado ao pensar como o confronto diário com morte, agressão e violência afeta um detetive, ainda mais se ele já tiver sua cota de problemas. "Nunca conversei com um policial que tivesse muita crença na humanidade."

Em termos de ritmo e atmosfera, True Detective tem menos ainda a ver com a maior parte dos seriados de televisão sobre crimes. A ação se desenrola lentamente e se alterna entre 1995, durante a busca do serial killer, e 2012, quando Cohle e Hart prestam depoimento a dois outros detetives que trabalham num caso parecido com aquele do passado, e o espectador descobre os efeitos daquela investigação nos dois homens.

Pizzolatto hesita um pouco, mas acaba definindo sua série como "literária". Até no formato, já que em oito episódios dá para explorar temas de uma maneira próxima à da literatura.

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True Detective

é uma antologia, ou seja, cada temporada, se houver outras, vai trazer um caso novo e personagens diferentes. Ao mesmo tempo, o escritor escolheu deixar de lado a literatura para se dedicar à TV, mas recusa qualquer noção de que tenha abandonado seus ideais. "Não tenho interesse de escrever uma peça que ninguém vê. Quero público, mas sem sacrificar minha ambição pessoal", acrescentou.

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