Terceira temporada de ‘The Handmaid’s Tale’ estreia no Paramount Channel
Em entrevista recente em Nova York, o roteirista Bruce Miller falou de cansaço de violência e de seus esforços para manter a série atraente
Entrevista com
Bruce Miller
Entrevista com
Bruce Miller
17 de agosto de 2019 | 15h45
Quando Bruce Miller começou a trabalhar numa adaptação para a TV do livro O Conto da Aia (The Handmaid’s Tale), de Margaret Atwood, as primárias para a eleição presidencial de 2016 ainda não tinham sido realizadas. A Suprema Corte era menos conservadora. Milhares de crianças ainda não haviam sido separadas dos pais na fronteira sul dos EUA. Os eventos do romance de Atwood, ambientado numa ditadura religiosa chamada Gilead, na qual as poucas mulheres férteis são separadas dos filhos e forçadas a gerar outros para casais poderosos -, pareciam, se não impossíveis, no mínimo longe de serem iminentes.
Desde então, parlamentares de vários Estados votaram pelo banimento ou pela limitação do acesso das mulheres ao aborto, e parece cada vez mais possível que o caso judicial Roe contra Wade (a partir do qual a Suprema Corte reconheceu o direito ao aborto nos EUA) venha a ser questionado. O isolacionismo floresceu. Muito do que ocorre na terceira temporada de The Handmaid’s Tale (O Conto da Aia) - que começa a ser exibida neste domingo, 18, às 20h, no Paramount Channel - “está próximo do que vem acontecendo nos EUA”, disse Miller. “É horrível. Nosso trabalho é imaginar o que acontece num dos piores lugares do mundo. E de repente esse lugar é o nosso.”
Após se aterem à trama do romance de Atwood na primeira temporada, Miller e seus redatores foram além da fonte na segunda, imaginando a transformação de June (Elisabeth Moss) de uma jovem comum em combatente da liberdade. Mesmo tendo oportunidade de fugir de Gilead no fim da temporada 2, ela escolhe ficar.
Em entrevista recente em Nova York, Miller falou de cansaço de violência, de seus esforços para manter a série atraente num clima político pesado e de como é dirigir um seriado tão intimamente ligado à dor feminina. Na sequência trechos editados da entrevista.
Depende de como você define violência. Gilead é um lugar brutal. O fato de estarmos cansados de violência não significa que ela vá parar. Tento mostrar apenas coisas que, se você não vir, pode não entender a história ou seus personagens. Eliminar isso é eliminar aquilo contra o que June luta. Tomamos também o cuidado de nunca inventar crueldade. Já existe muita crueldade verdadeira no mundo.
Comecei a escrever a primeira temporada antes do início das primárias. O fato de uma série política coincidir com um momento político forte ajuda - não é sempre que as pessoas param para avaliar se um governo está funcionando ou não. Não é só nos Estados Unidos. Em outros lugares também há a sensação de que a série reflete seu sistema político. Vi isso especialmente no Rio de Janeiro. Ali eles estão empolgados com a série porque está havendo um movimento #MeToo em sua cultura. Creio que você também vai ver um pouco dessa história em seu mundo político. Margaret é universal.
Quero que o programa entretenha. O mais importante é que, quando você assiste, queira continuar até o fim. A série é para ser vista como uma história interessante.
As mulheres são maioria no meu quadro de redatores. É uma série sobre uma mulher, June, em seu mundo. É preciso gente que não se sinta mal com perguntas sobre assédio sexual, gravidez, aborto...
Pesquisamos e consultamos especialistas. Por exemplo, Emily (aia vivida por Alexis Bledel) cruza a fronteira e se torna uma refugiada. Como é essa experiência? Que acontecerá se ela voltar para casa?
É uma citação do livro. Ela indica que uma cultura feminina pode ser tanto positiva quanto tóxica e voltar-se contra si mesma. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ
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