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Só um pouquinho de paciência, please

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Karim Aïnouz não precisou de mais do que dois filmes - Madame Satã e O Céu de Suely - para se afirmar como um dos diretores mais talentosos (o mais?) da sua geração no cinema brasileiro. São filmes que possuem uma marca, aquilo que se pode chamar de assinatura. Para ser autor de seus filmes, ele não precisa escrever os roteiros. Aliás, não gosta. Karim prefere que outros o façam, mas ele sabe, como poucos, detectar os possíveis problemas de roteiros e dar sugestões valiosas para a solução. É com base neste sexto sentido que o próprio diretor geral de Alice afirma. Se pudesse, ele começaria mostrando o segundo, terceiro e quarto episódios da minissérie que começa hoje na HBO. Karim sabe que o primeiro episódio, por ser expositivo dos personagens e da linha geral da narração, tende a ser meio dispersivo. E seu medo é que o público não fique imediatamente seduzido pela personagem de Alice. Sendo o tema da minissérie a transformação de uma mulher na grande cidade, o arco dramático de Alice situa-se no amadurecimento, ou evolução pessoal, da personagem de Andréia Horta. Alice não começa particularmente bonito e também tem uma linha de comportamento que não a torna imediatamente simpática. A garota que está para se casar em Palmas e deixa o interior com urgência para assistir ao enterro do pai, que se suicidou em São Paulo, parece ser empurrada pelas circunstâncias. Ela pode até ser antipática, ou ser julgada moralmente, porque além de deixar o noivo, Alice encadeia um enterro com uma festa e logo está indo para a cama com um estranho que encontrou por acaso, tudo isso no primeiro episódio, sem que o espectador tenha tempo de pensar, afinal de contas, quem é essa mulher. As coisas melhoram muito e começam a fazer sentido já no segundo episódio. No terceiro, melhoram ainda mais. Alice só vai precisar de uma pacienciazinha para engrenar. Depois, sim, você ficará seduzido por ela.

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