10 de novembro de 2019 | 07h00
Rejeitada em sua primeira temporada, She-Ra e as Princesas do Poder é a prova de que as meninas estão com tudo. Nas estatísticas do IMDB – plataforma que reúne informações sobre música, filme e games, o público que negativou a produção de Netflix com a Dream Works tem nome e rosto: em sua grande parte homens com mais de 30 anos.
Não é estranho reconhecer que uma audiência goste de assistir uma produção por se sentir contemplado nela. Trata-se de algo que ultrapassa o tempo e as gerações. Talvez esteja aí parte do sucesso conquistado pela protagonista Adora entre o público jovem e feminino e reafirme o desapreço dos nostálgicos oitentistas.
Na saga original de He-Man e os Defensores do Universo, a jovem heroína foi tratada como coadjuvante, ofuscada pelo príncipe Adam. Sua exibição a partir de 1983 fazia parte dos planos da Mattel de promover sua linha de bonecos, os action figure, e manter o compromisso de comercializar os personagens de Etérnia.
Com uma trama repleta de roupas coladas no corpo e músculos a mostra, Adora surgia coma irmã gêmea de Adam e tinha lá os seus poderes. Após o primeiro episódio, a moça perdia espaço para as transformações de Adam/He-Man e sua luta com Hordak.
Essa repetição de homens recém-saídos da academia e mulheres com porte de modelo de passarela incomodou a show runner da produção, Noelle Stevenson. Desde a estreia da primeira temporada de She-Ra e as Princesas do Poder, em 2018, a cartunista tem batido de frente com as críticas nas redes sociais, diante de argumentos de que a história ficou “infantil demais”. Ao que ela respondeu: “Se não gostam, não vejam”.
Por outro lado, a série despertou nos fãs diversas contribuições. Em seu perfil no Twitter, Noelle recebe e compartilha ilustrações e releituras de personagens femininas, de todas as cores e corpos.
Para não dizer que o debate continua nas aparências, a quarta temporada estreou nesta semana (todas disponíveis na Netflix) com a morte à espreita. Sem dar nenhum spoiler, a despedida de uma personagem, ainda na temporada anterior, cria uma reviravolta no mundo colorido de Lua Clara. É preciso lidar com o luto vivendo em um mundo que não pausa o seu caos.
Com essa maturidade imposta, Adora, o arqueiro Bow e Glimmer, uma das líderes dos Rebeldes, enfrentam pouco mais que uma luta entre Bem e Mal. Aliás, o elenco de personagens femininas se estende até a escuridão de Zona do Medo e é capaz de superar esse antagonismo mais óbvio.
Na temporada anterior, um capítulo aprofunda a história do passado de Sombria, uma maga que nem sempre esteve a serviço de Hordak, o grande (e único?) vilão. Já a antiga amiga de Adora, Catra, constrói seus próprios motivos em uma batalha pelo poder e controle da Zona do Medo. Ao revirar o próprio passado, ela percebe que ali está uma fonte de grande força e de certa fraqueza, algo que precisa dominar.
Adora precisou encarar, durante três temporadas, a natureza de seu poder, aquela força que oprime todo herói ou escolhido para uma missão. Tantas vezes foi desacreditada e apoiada em todas. Agora, na quarta temporada, ela vai precisar de uma dose de generosidade para retribuir o suporte recebido.
Há também novos personagens chegando por aí. Entre eles está Double Trouble, um lagarto com vocação para artista de teatro e com habilidades de, bem, antes de qualquer spoiler, criar ilusões.
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