Séries brasileiras avançam o sinal

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Por Mário Vianna
Atualização:

Quem não gosta de ver seios expostos, detesta ouvir palavrões e se constrange com entusiasmadas simulações de ato sexual deve ignorar as séries independentes brasileiras. De maneira bem superficial, é isso o que Alice e 9 Milímetros: São Paulo apresentam. No fundo, é outra a mensagem que as atrações dos canais de TV paga nos enviam. Em meio a suspiros arfantes e termos impublicáveis num jornal de família, o telespectador descobre outras maneiras de se fazer televisão. É nisso que as séries independentes diferem das produzidas por Globo ou Record, que repetem a narrativa típica de novela, com menos capítulos. As indies avançam sinais. Só isso já merece elogios. Alice tem os dois pés enfiados até os joelhos no cinema. A maneira de filmar e de contar a história é típica de filme - e daí a sensação de estar diante de algo ?estranho? à telinha. Os roteiros fecham o foco nas aventuras da jovem de Tocantins que descobre São Paulo - mas não uma São Paulo qualquer: a cidade de Alice é descolada, com personagens que falam da Mostra de Cinema como quem compra pãozinho, fumam um cigarrinho de maconha à vontade e variam o cardápio sexual sem maior dor de cabeça. Às vezes, as tramas têm furos dignos de telenovela mexicana, mas no fim das contas fica na memória o luxo de ver as atrizes Teresa Rachel, Denise Weinberg e Regina Braga - sem falar nos ótimos Antonio Petrin e Jorge Loredo (o eterno Zé Bonitinho) - ocupando um espaço que as emissoras convencionais reservaram para rostinhos bonitos e inexpressivos. Alice não fala para quem é fã de novela colombiana, mas abre uma ponte para os que torcem o nariz a qualquer teledramaturgia nacional. Inspirada em seriados policiais americanos, 9 Milímetros deve voltar em breve à Fox. Tomara que a produção mantenha o nível dos primeiros roteiros, bem elaborados, densos e crus - os palavrões não são disfarçados e a violência é explícita, como convém à história. Apesar dos ótimos protagonistas, 9mm tropeça no elenco coadjuvante - às vezes, com atores talentosos, porém mal dirigidos. A câmera, que treme a maior parte do tempo, também enjoa. Mesmo assim, com reparos, é estimulante poder ver outras linguagens na TV. Tomara que a moda pegue. e-mail: mvianinha@hotmail.com

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