Série ‘The Crossing’ mostra o futuro ainda pior do que o presente

The Crossing (na tradução, “a travessia”), estreou no Brasil na sexta, 3, às 22h, no canal AXN

PUBLICIDADE

Por Mariane Morisawa  
Atualização:

LOS ANGELES - A foto de uma família de refugiados sírios chegando à Grécia – parte de uma série dos fotógrafos Sergey Ponomarev, Tyler Hicks, Daniel Etter e do brasileiro Mauricio Lima, publicadas no jornal The New York Times e premiadas com o Pulitzer – inspirou os criadores de The Crossing (na tradução, “a travessia”), que estreou no Brasil na sexta, 3, às 22h, no canal AXN.

Série The Crossing Foto: ABC/Bob D'Amico

PUBLICIDADE

Só que, na série, quem desembarca numa praia americana é um grupo de refugiados do próprio país, vindos de um futuro sombrio. Mas esse foi apenas o ponto de partida. “É a história de pessoas vindo de outro lugar em busca de uma vida melhor e enfrentando dificuldades ao chegar”, disse o produtor Dan Dworkin em entrevista em Los Angeles.

Segundo o também produtor Matt Olmstead, não há agenda política. “A não ser a vontade de lidar com a complexidade da situação, tanto da parte dos refugiados quanto de quem precisa enfrentar as consequências de sua chegada.” 

Um dos mais afetados é o xerife da pequena cidade fictícia de Port Canaan, no noroeste dos Estados Unidos. Jude Ellis (Steve Zahn) está tentando reconstruir sua vida após ter problemas como policial numa metrópole. A pacata Port Canaan parece o lugar ideal para se reconectar com o filho e ter uma vida mais equilibrada, até que dezenas de pessoas que dizem ter vindo de 180 anos adiante aparecem na praia – além de vários mortos na travessia (uma das imagens mais impressionantes é a dos corpos no fundo do mar).

“Vivo numa fazenda nos arredores de Midway, Kentucky”, contou o ator. “Pensei: como seria se isso acontecesse em Midway? Como eu reagiria? Como todos reagiríamos? Achei que o ambiente era importante.” 

Sua realidade vai ser ainda mais sacudida ao se aproximar da refugiada Reece (Natalie Martinez), que procura sua filha, perdida na travessia. Reece é uma Apex, ou seja, um ser humano geneticamente modificado, capaz de coisas que simples mortais não conseguem fazer. 

A combinação de pessoas aparecendo numa praia e mistérios quase sobrenaturais faz pensar em Lost. Os criadores já tinham tentado sua mão no gênero em séries como Surface e The Event, ambas canceladas após uma temporada, e fizeram a lição de casa para acertar desta vez.

Publicidade

Consultaram especialistas para determinar como vai ser nosso futuro, falando de pesquisas de modificação genética a mudança climática. “Uma das razões pelas quais quisemos escrever a série é que existe um debate sobre a direção que as coisas estão tomando. Qual o limite para criar bebês geneticamente modificados? Qual o limite para comida geneticamente modificada? Com a questão dos refugiados, há um debate. É um terreno fértil. Acho que é bom para a série fazer com que as pessoas conversem”, disse Dworkin.

Mas não se esqueceram do entretenimento e estruturaram a primeira temporada para dar um gostinho de quero mais ao espectador. “Fizemos cada episódio de forma que o espectador quisesse voltar para o próximo e um final de temporada para que ele ficasse com vontade de assistir à próxima”, contou ainda Dworkin.

E conseguiram, porque o piloto é bem empolgante, e os primeiros capítulos são realmente intrigantes. Mas o canal americano decidiu não apostar na série, que foi uma das muitas canceladas neste ano. Talvez porque o público não esteja no espírito de encarar um futuro ainda pior do que o presente, a ponto de as pessoas sonharem em voltar para os dias de hoje. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.