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Série ‘Sintonia’ vai do baile ao culto cristão

Kondzilla emplaca série na Netflix com história de amizade ao ritmo do funk paulistano e da música evangélica

Por Leandro Nunes
Atualização:

O canal de música Kondzilla estava longe de ter os atuais 50 milhões de inscritos no Youtube quando o produtor e empresário Konrad Dantas pensou em contar uma história: o desafio de três amigos, moradores de uma favela em São Paulo, para comprar um tão sonhado tênis que custa R$ 1 mil. A narrativa ia virar apenas um curta metragem, mas a vocação do trabalho era do tamanho do canal de música homônimo, o maior do mundo e primeiro da América Latina. 

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Estreia na sexta, 9, a primeira temporada com os seis episódios de Sintonia na Netflix, série brasileira original idealizada por Dantas. A busca por um tênis caro, símbolo da conquista e da ostentação na favela, deu lugar a um papo mais sério, conta Dantas, em entrevista ao Estado. “Ao lado da produtora Rita Moraes, percebemos que não se tratava apenas de um curta, mas de uma série inteira. Com um tamanho maior, a história poderia ganhar mais personagens e temas.”

O primeiro episódio de 'Sintonia' fica disponível no Youtube por 48 horas. Veja:

Na trama, os três amigos continuam como na ideia original. Donizete, interpretado pelo MC Jottapê, é o rostinho que quer fazer sucesso no funk. Sua música de estreia (“não é você que gostava de brincar de iludir? tô nem aí, tô nem aí”) gruda na cabeça desde o início e representa a voz do jovem na busca por seu sonho. Já Rita (Bruna Mascarenhas), mora sozinha e trabalha como marreteira, nas estações de trem. Ao enfrentar a instabilidade do emprego, seu caminho se cruza com a religião evangélica. O terceiro escudeiro dessa amizade é Nando (Christian Malheiros), jovem traficante que tem ambição de crescer na “família.” “Cada um vai atrás do seu sonho e no meio do caminho é claro que vão enfrentar dificuldades. A relação dos três também será afetada”, explica a produtora Rita, também o nome da protagonista. 

A partir do ponto de vista do trio, a série revela a dinâmica cultural da favela, permeada pela música que funciona como pano de fundo da trama. Na igreja frequentada por Rita, o responsável pelo louvor é grande conhecido do público evangélico, conta Dantas. “Buscamos licenciar alguns hinos da Harpa Cristã para então construir uma linguagem musical que pudesse dar a dimensão dessa fusão de culturas. Nas cenas da igreja, trouxemos o cantor evangélico Ton Carfi, conhecido entre o seu público”, explica. 

Também há espaço para narrar a difícil trajetória do MC Doni. Ao apresentar sua música para uma gravadora, a resposta não é como ele espera. O pai do garoto, interpretado por Vanderlei Bernardino, é um cristão fervoroso e desaprova seu sonho de cantar “música do mundo.” “Doni mostra um pouco dos primeiros passos para se tornar um MC. Ele vai enfrentar a rotina de fazer shows até perceber que nem tudo é fácil.”

Trio. Série com Mc Jottapê, Christian Malheiros e Bruna Mascarenhas foi gravada na Comunidade Jaguaré, zona oeste Foto: Netflix

O suspense da série fica nas mãos de Nando. Visto nos palcos paulistanos, a baixa estatura do ator não interrompe a gravidade que seu personagem enfrenta e entrega. Enquanto Rita e Doni se divertem, Nando é mais calado e isso pode custar um preço. Ele tem a ambição de crescer e ganhar o respeito dos outros parceiros do crime. No entanto, a lealdade é considerada moeda de alto valor. E, para algumas coisas, não há negociação. “Os dois amigos sabem que Nando está envolvido com coisas perigosas, mesmo assim não há discriminação. Eles se preocupam e existe respeito”, diz Dantas.

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A curta viagem de Sintonia, com seus seis episódios, cria uma São Paulo sem distâncias. Gravada no coração da Comunidade Jaguaré, ao lado do Butantã, é possível avistar a cidade do alto de uma cobertura no centro, nas cenas de MC Doni, para depois percorrer as ruas numa moto até a Vila Áurea – mais uma homenagem, dessa vez para a mãe de Kondzilla. “Eles sempre vão voltar para o núcleo, a família. Seja no caminho da fé, da música ou do crime, nada impede que eles busquem dias melhores”, diz a produtora.

Entrevista - Konrad Dantas, o Kodzilla

‘Muito gente ainda não viu a favela’

O que você queria quando pensou na história de três jovens da periferia que sonhavam em comprar um tênis de R$ 1 mil? 

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Em 2013, o funk ostentação recebeu muitas críticas de que estava incentivando os jovens a fazer coisas erradas para aquisição de bens materiais. Pensei na história como uma forma de pegar essa energia contrária e revertê-la em algo positivo.

Em Sintonia, a música guia muitas cenas, não só o funk como a música evangélica. 

É a fusão da cultura urbana da favela de uma das maiores metrópoles do mundo. O personagem Doni tem a força desse funk paulista enquanto música evangélica é mais tradicional, com versões reais da Harpa Cristã. Para cantar essas músicas na série, convidamos artistas evangélicos.

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As gírias e o estilo de falar dos personagens é bem particular. Como foi montar esse elenco?

Não bastava ter um roteiro legal, as falas precisavam soar reais. Convidamos alguns parceiros para dar consultoria e nos ensaios os textos ia brotando. Desde gírias como “poucas ideias” até a “se o sangue dele pingar, o nosso vai jorrar.” No fim, os parceiros ganharam papéis na série.

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