Série mergulha na mente de quatro diretores do palco

‘Terceiro Sinal’ estreia no Canal GNT com episódio dos bastidores do ‘Hamlet’ de Aderbal Freire-Filho, e com Wagner Moura

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colunista convidado
Por Leandro Nunes
Atualização:

“No começo, eu tinha a sensação de estar atrapalhando”, confessa a fotógrafa e documentarista Sandra Delgado. Foi ela que acompanhou com sua câmera os bastidores de quatro espetáculos pelas mãos de quatro importantes encenadores brasileiros. 

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O recorte final vai ao ar no canal GNT às sextas, à meia noite – um episódio por diretor –, a começar pelo Hamlet encenado em São Paulo, em 2008, por Aderbal Freire-Filho e protagonizado pelo marido da fotógrafa, o ator Wagner Moura. “Foi o primeiro Shakespeare dele e do Aderbal. Eu já imaginava que seria um projeto especial e que valeria a pena.” O segundo episódio traz Estrela Barzyleira a Vagar – Cacilda!!, de Zé Celso; seguido por Do Fundo do Lago Escuro, dirigido por Domingo Oliveira, e, por último, As Meninas, de Amir Haddad. 

O desconforto inicial de registrar os ensaios, conta ela, se dava pela própria natureza do palco. “O teatro não foi feito para ser filmado, muito menos o processo de montagem. Algumas vezes, e sem perceber, os atores estavam interpretando para a câmera, e aquilo deixava de ser teatro.” 

Sandra Delgado registra ensaio de 'Hamlet' com Aderbal Freire-Filho e Wagner Moura Foto: FERNANDO PHILBERT|DIVULGAÇÃO

A solução que veio a seguir e que deu continuidade ao projeto surgiu, curiosamente, pela direção de Aderbal. “Quando expliquei a ideia, ele topou com uma condição: que eu estivesse presente em todos os ensaios, desde o início do processo até o fim, quatro meses depois.” Com o tempo, o acordo surtiu efeito. “O elenco e a equipe já estavam acostumados comigo. Foram cerca de 250 horas de gravação e a câmera passou despercebida.”

No mesmo ano da estreia da montagem, Sandra finalizou o documentário intitulado Além Hamlet, veiculado no canal Multishow. Era apenas isso. “Eu pude enxergar a figura do diretor como um catalisador. Um ser que conduz os talentos da equipe para a concretização de uma obra”, conclui. Foi então que surgiu o desejo de continuar. “Fiquei com vontade falar com outros artistas.” 

Uma longa lista foi riscada e, de pronto, Zé Celso, Amir Haddad e Domingos Oliveira aceitaram. A montagem de Cacilda!!, do Teatro Oficina, integrava uma tetralogia sobre a vida e obra da atriz Cacilda Becker nos anos 4o. Para Sandra, a principal característica de Zé Celso está na capacidade de orquestrar o plural. “Ele traz mil referências sobre um assunto. Consegue relacionar vários tipos de conhecimento e criar um espetáculo que contém muitas camadas. Sua essência permite muita liberdade no palco.” 

No trabalho de Haddad em As Meninas, o texto de Maitê Proença foi erguido em um processo com bastante música, conta Sandra. “Ele odeia fazer marcações e costuma colocar os atores para ouvir canções que possam suscitar as emoções que deseja. Haddad é um diretor que dá bastante espaço e liberdade ao atores.”

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Já Domingos, autor da premiada peça que trazia Beatriz Segall no elenco original, em 1997, remontou o espetáculo autobiográfico que retrata uma família carioca dos anos 50. Além de dirigir, Domingos viveu sua avó, a Dona Mocinha. “Posso falar que ele é um diretor-autor. Consegue misturar os acontecimentos de sua vida e arte com muita sensibilidade.”

Na lista ainda continha nomes como Antunes Filho, mas o diretor do CPT “abriu uma janelinha mas não a porta”. “Mostrei algumas imagens do que eu vinha fazendo e ele disse: ‘Isso não é verdade, eles estão atuando!’.” Sandra também enumera Gracê Passo, Cibele Forjaz e Christiane Jatahy entre as diretoras que quer convidar. “Esses artistas são tão diferentes e possuem métodos muito singulares. O que os une é a busca por uma verdade cênica. E o teatro não pode sobrevive sem isso.”

TERCEIRO SINAL - ADERBAL FREIRE-FILHO from IsabelCastro | GuilhermeHoffmann on Vimeo.

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