Série leva filho ao divã

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Por Keila Jimenez
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Para ele, a vida é, sim, um filme, ou melhor, uma minissérie. Chegado a closes em suas produções, Jayme Monjardim teve de focar um ângulo diferente dessa vez: as janelas de seu passado. Difícil? O diretor assegura que não. Tenta, até em conversa com a reportagem do Estado, separar bem as coisas - ele não se refere a Maysa como "mãe" durante entrevista - mas confessa que dirigir cenas de uma vida real não é tão simples assim, ainda mais quando você conhece tão bem a protagonista. Por que demorou tanto tempo para você levar a vida de sua mãe para a TV? Não demorou muito, foi falta de oportunidade mesmo. As pessoas sempre perguntavam: "Quando você vai fazer algo sobre a Maysa?". É que eu estava esperando alguém legal para escrever. Quando o Maneco (Manoel Carlos) topou, saiu o projeto. Por que o Maneco? Tinha que ser ele. É a pessoa que mais fala e escreve sobre o universo das mulheres, era o mais indicado para isso. Você participou do processo de criação da minissérie? Claro. Foi um trabalho em conjunto a composição da personagem, apesar de a Maysa ser uma pessoa que você não precisa pensar muito como compô-la. Existem imagens, fotos, filmes, o que tinha de fazer era aprimorar o máximo possível as coisas para deixar a Larissa (Maciel, protagonista) o mais próximo da Maysa real. Mas houve uma coisa agora interessante: percebemos que não queremos perder também a visão pessoal da Larissa sobre a Maysa. Como foram dosadas a ficção e as histórias reais na trama? Tive tranquilidade de ceder para o Maneco todos os diários da Maysa, fotos, cartas pessoais, reportagens então ele conseguiu captar a essência dela ali. Essa essência é real, e os fatos da vida dela também. A forma que isso foi embalado, falas, roteiros, aí está a ficção. Você guarda todo esse acervo sobre sua mãe? Era ela quem colecionava tudo: fotos, poemas, jornais... Maluco isso... Talvez pressentisse que um dia pudesse ser usado. De quem foi a idéia de colocar seus filhos para viverem você na minissérie? Foi do Maneco (risos). O Dedé (André, filho do diretor com a atriz Daniela Escobar) já tem isso na veia, desde pequenino curte atuar. Acho que a tendência dele é ser ator... E o Jayminho foi uma insistência do Maneco. Acabei fazendo um teste com ele e foi bárbaro, deu supercerto. Durante as gravações, você teve flashbacks de coisas que viveu na vida real? Ah, claro. Tudo me marca emocionalmente nessa minissérie. Cada passo... Eu vivo essa produção dia a dia, cada segundo. Primeiro que estou fazendo uma coisa que gosto muito, que é contar histórias, e eu vivo para isso. E estou contando a história da Maysa. E não é uma história comum. Ela é muito novelesca, cheia de conflitos e muito bonita. A Maysa abriu mão de situações incríveis para poder buscar o sonho dela. Para mim, estou contando a história de uma heroína... Acho que estou me especializando em mulheres: Olga, Casa das Sete Mulheres. Haja mulher (risos). Não é maluco dirigir cenas de sua vida? Ah, é sim (risos). Mas tento pensar nisso como parte de uma história. Fica mais fácil assim. (risos) Você fez pedidos específicos para o autor : que incluísse o episódio do internato em que você estava doente, e que a minissérie não terminasse na cena do enterro de sua mãe... Na verdade, fiz comentários. Pensei que de repente a minissérie não acabasse na morte dela. Existe o acidente (Maysa morreu em um acidente de carro na ponte Rio Niterói, em 1977), é fato, mas queria evitar que a obra acabasse baixo astral... E também tem esse lance de mostrar quem era essa mulher em relação ao filho e tal... Mas tudo isso são coisas pequenas, Maysa é muito maior que esses pedidos. Mas relembrar cenas assim não são como uma análise de seu passado, um divã? Claro que às vezes passa um filme na minha cabeça. Tudo isso é muito forte. Mas não são cenas fortes só para mim. A história da Maysa é muito marcante mesmo. Ela era uma pessoa que tinha o desejo de conquistar o mundo com sua música e, ao mesmo tempo, de ser feliz, de viver por amor, viver pela razão de amar. Tudo isso é muito sofrido, mas é humano, e lindo demais.

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