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Série 'Dear White People' expõe as feridas abertas do racismo contemporâneo

Série ‘Dear White People’, disponível na Netflix, amplia as questões do filme destaque no festival de Sundance

Por Pedro Antunes
Atualização:

NOVA YORK - Eis uma lista de fantasias para Halloween permitidas e não ofensivas: um pirata, uma enfermeira de roupas mínimas, qualquer um dos primeiros 43 presidentes dos Estados Unidos. “No topo das lista das fantasias inaceitáveis? Eu.” E assim, com um soco bem dado no queixo de quem diz que o racismo está acabado (nos Estados Unidos, Brasil, ou qualquer lugar que seja), que tem início a nova série da Netflix, Dear White People, cujo título no País ganhou a tradução de Cara Gente Branca. 

Cena da série Dear White People Foto: Adam Rose/Netflix

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rata-se da expansão do filme que sacudiu o festival de cinema de Sundance, realizado nos Estados Unidos, em 2014, e deu, ao diretor e criador Justin Simien o prêmio especial do júri dedicado aos novos nomes a ingressar na indústria cinematográfica. Ao atingir um novo público, de consumidores de TV por streaming, abordando com as mesmas questões de apropriação e assimilação cultural e conflitos raciais, Dear White People mostrou uma ferida muito mais putrefata do que o circuito de cinema independente exibia. 

Um curto teaser da série, publicado em 8 de fevereiro deste ano, com 34 segundos de duração, foi visto 4,9 milhões de vezes no YouTube. Nele, a personagem Samantha White, interpretada por Logan Browning (da série Powers) narra as regras de etiqueta (ou bom senso) a respeito das fantasias para as festas do Dia das Bruxas norte-americano. Só isso foi suficiente para o vídeo receber mais de 400 mil avaliações negativas no YouTube (aqueles símbolos de polegares para cima e para baixo que aparecem próximos dos vídeos). Petições online foram criadas na tentativa de fazer com que Dear White People tivesse sua estreia cancelada na Netflix. Outros fizeram ameaças online prometendo cancelar a assinatura do serviço. Acusaram o trabalho de Justin Simien de racismo reverso, antes mesmo de assistirem aos episódios. 

E, se assim o tivessem feito, teriam respostas para suas questões, da inexistência de algo como “racismo reverso” e, principalmente, das questões que jovens negros enfrentam desde os primeiros anos até a vida adulta. Ali, foca-se no ambiente universitário norte-americano e na realidade dos poucos estudantes negros naquele ambiente. 

A série da Netflix expande o universo satírico criado por Simien no filme de 2014 ao ter mais tempo para trabalhar no ponto de vista de cada um dos personagens que protagonizam a trama, Samantha White (Logan Browning), Lionel Higgins (DeRon Horton), Troy Fairbanks (Brandon P Bell), Colandrea ‘Coco’ Conners (Antoinette Robertson e Reggie Green (Marque Richardson). Em um texto encharcado de sarcasmo e tiradas inteligentes o bastante para desconstruir argumentos de gente que diz “racismo não existe mais”, Simien apresenta diferentes pontos de vista diante da questão central da série, a luta pela igualdade racial. “Eu quis levar toda a questão muito mais à frente do que havia conseguido ir com o filme”, disse Simien, em um painel realizado em Nova York, que debatia a liberdade criativa nas séries de TV. “Estava esperando que eles (Netflix) surgissem com uma lista de coisas que deveríamos cortar da série. E eles praticamente deixaram que a gente fizesse exatamente o que queríamos. Foi uma experiência única para alguém que está em seu segundo projeto como esse.” 

Para o criador, filme e seriado lidam com mais questões do que apenas o racismo. “Para mim, são histórias sobre buscas da própria identidade”, garante – e infeliz é aquele que enxerga o racismo onde não existe e deixa de ver aquele que está logo ali, diante do seu nariz. “Não estamos só dizendo: ‘Ei, pessoas brancas, é isso que vocês precisam saber’. A série também permite que as pessoas negras se enxerguem ali.” 

* O repórter viajou a convite do serviço de streaming

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