Agora que a série de sucesso de Lee Daniels, Empire, voltou ao ar, com sua 2.ª temporada, no último dia 23, o público assistirá às últimas revelações escandalosas do clã dos Lyon. E o que significa para Jussie Smollett, o cantor de 23 anos, interpretar o papel de Jamal, filho gay e hostilizado pelos pais Lucious (Terrence Howard) e Cookie (Taraji P. Henson) na série – que, no Brasil, é exibida na Fox. “O que significa é o seguinte”, respondeu o ator em uma entrevista por telefone do set de Empire, em Chicago, durante uma filmagem.
“Uma jovem lésbica se aproximou de mim com os braços cheios de cortes. Ela me disse que estava tentando se matar, quando me viu em Empire e ficou interessada no meu personagem. ‘Por sua causa, não acabei com a minha vida’, ela falou.”
“Eu sou de câncer, por isso choro, consigo chorar de verdade”, disse Jussie. “Chorei, a abracei e falei: ‘Prometa que você nunca mais vai tentar uma coisa dessas’. Ela concordou.”
“A arte pode mudar tudo”, ele concluiu. “Você entretém as pessoas e pode transmitir alguma coisa. Se milhões de pessoas estão prestando atenção, é porque você tem algo a dizer, não é verdade?”
Na nova temporada de Empire, Jamal ainda luta para obter a aprovação do pai enquanto lida com os ardis da mãe (uma ex-detenta), que tem seus próprios projetos.
Na primeira temporada, Cookie estava na cadeia. Na segunda, quem está na cadeia é Lucious, o que significa que Cookie está mexendo os seus pauzinhos. O que atrai em Empire é procurar descobrir quem é o bonzinho e quem é o vilão. Segundo Smollett, a resposta não é nenhum dos dois acima. Quanto a Jamal, “ele é um bom cara, mas comete erros”, acrescenta.
Faz escolhas erradas, mas todo mundo deveria ter a sorte de tê-lo como amigo e conhecer o que é lealdade. “Sou como Jamal. Me identifico com ele porque, quando percebo alguma deslealdade, fico arrasado.”
O personagem de Jamal já foi definido no início da série. Incapaz de lidar com o filho ‘diferente’, Lucious o arrastou num beco e enfiou o menino numa lata de lixo. “Nesse momento, o público se apaixonou por Jamal”, disse o ator. “Você compreende de onde ele vem e sua triste condição. Isso aconteceu de fato com Lee Daniels, um dos criadores da série, quando menino. É a sua história, nada disso é ficção.”
“Em Empire, você tem o brilho da celebridade e a cultura pop, uma novela e uma família real. O mais importante é que trata de questões do mundo real, como a brutalidade da polícia, a sexualidade e até a doença mental.”
“Nós somos reais. É isso que tocou o público. Todo mundo pode se identificar com um aspecto de cada personagem.”
Como o personagem de Smollett é gay, ele atraiu uma atenção particular. “A resposta dos fãs é uma coisa que não posso menosprezar de modo algum”, disse o jovem ator. “Recebo as cartas mais incríveis de jovens lésbicas, de gays e também de crianças que dizem coisas como: ‘Você me compreende’.”
É claro que nem tudo foram elogios. “O dia mais difícil para mim foi depois que a Suprema Corte deu a sentença sobre o casamento gay”, ele lembra. “Postei alguma coisa falando de igualdade, e nunca recebi tantas mensagens repletas de ódio. Pensei: ‘Puxa. Eles não conseguem entender. Não entendem o conceito de amor’.”
“Um dia, estava falando a respeito dessas mensagens com um amigo num restaurante, quando um sujeito se aproximou. Ele não queria uma foto nem um autógrafo. Ele disse: ‘Só quero que você saiba que, por sua causa e por causa do que você disse, foi muito mais fácil para mim ter uma conversa com meu filho. Agora temos muito o que conversar por causa do seu programa’.”
E graças à série, Smollett pôde mostrar também seu talento musical. Cantor e compositor na vida real, escreveu as canções de sucesso I Wanna Love You e You’re So Beautiful, do álbum da trilha da primeira temporada de Empire.
No início do ano, ele assinou um contrato com a Columbia Records. Muito discreto a respeito de sua vida pessoal, nunca confirmou nem desmentiu os boatos de que é gay na vida real. Numa entrevista a Ellen DeGeneres, chegou perto de confirmá-los. “Não há nenhum armários onde eu poderia ficar”, ele disse, “talvez uma cômoda. Tenho uma em casa, e é minha responsabilidade proteger a minha casa.” / TRADUÇÃO ANNA CAPOVILLA