Série brasileira 'Psi', indicada ao Emmy Internacional, volta no terceiro ano cercada pela morte

Terceira temporada estreia neste domingo, às 21h, na HBO

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Por Pedro Antunes
Atualização:
Cena da série 'Psi' Foto: Ariela Bueno

Carlo Antonini está longe de ser um super-herói, embora o protagonista da série Psi, vivido por Emílio de Mello, constantemente seja encarado de forma romantizada, como um personagem em sua cruzada para salvar os outros – já que salvar a si mesmo parece ser impossível e a solidão é o que lhe aguarda. Herói ou não, Carlo está mais frágil do que nunca na terceira temporada do seriado, cuja estreia ocorre neste domingo, 9, às 21h, na emissora por assinatura HBO. 

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Contardo Calligaris, escritor e psicanalista (tal qual o seu personagem), espera que a nova leva de episódios – são 10 no total – ajude a desconstruir a imagem que o público tem de Carlo na série indicada em duas categorias do Emmy Internacional (como melhor série e melhor ator). “Suspeito que isso (considerar Carlo um super-herói) nasceu por um efeito de transferência”, avalia Calligaris. “Qualquer pessoa que consulta um psicanalista ou psicoterapeuta quer acreditar que ele seja uma espécie de Homem-Aranha do seu cérebro, que irá salvar e resolver as questões ali. A realidade claramente não é essa.” 

É possível encontrar na história que Calligaris escreve com Thiago Dottori (que já trabalhou no filme VIPs) pequenos traços de um herói não “super”, como as histórias em quadrinhos passaram a mostrar em meados da década de 1980, quando o gênero se reergueu graças a obras como Batman: O Cavaleiro das Trevas e Watchmen, cujas tramas afundavam garras na humanidade e mundanidade desses sujeitos que atuam como vigilantes mascarados. 

Carlo não usa uma máscara propriamente, embora ele se esconda. Foge de expressar os sentimentos, justamente quando seu trabalho é tentar entender os sentimentos alheios – talvez até por isso, diante do medo de entender o que ser exposto significa, ele se feche. É ali que reside a fragilidade do personagem, segundo o seu criador, inclusive. “Carlo tem uma dificuldade muito grande com relação a isso. Há uma tremenda desconfiança com sentimentos no geral”, explica Calligaris. “De qualquer forma, nunca achei ele especialmente forte.” 

A terceira temporada, contudo, traz uma manobra ainda mais certeira por parte dos roteiristas da série para quebrar ainda mais a figura heroica do personagem – e, se o leitor não quiser saber dela, embora seja revelada no primeiro episódio da nova temporada, é bom parar o texto por aqui. “É uma temporada em que vamos ver o Carlo de uma forma como nunca antes”, conta Emílio de Mello. Isso determinou uma nova maneira de conduzir esse personagem após os dois primeiros anos.” 

Carlo, o super-herói ou não, é diagnosticado com câncer. O tema da morte e a sombra da doença, segundo Calligaris e Mello, acompanharão o personagem, à espreita, enquanto ele lida com as questões trazidas por seus pacientes, como o caso da jovem que, com uma doença incurável, quer realizar um suicídio assistido. Como alguém que está com a morte no seu encalço, Carlo é acometido por sentimentos difusos a respeito do tema. Vida e morte disputam um jogo interessante na cabeça do protagonista. 

Psi se mantém procedural na terceira temporada, mas os casos tratados por Carlo passaram a durar dois episódios, em vez de um. Com isso, há mais luz para quem o psicanalista trata, garante o criador da série. “Não tínhamos ideia, de início, de quanta diferença essa forma de narrativa faria”, conta Calligaris. Cria-se, com isso, um fôlego para evitar diálogos explicativos demais. Há também mais espaço para que o tempo corra na trama, sem pressa. E a solidão de Carlo se torna mais evidente. 

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