Série 'Bandidos na TV’, da Netflix, traz de volta caso Wallace Souza

Produção explora acusações de que apresentador brasileiro mandava matar para aumentar audiência de seu programa

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Por Thaís Ferraz
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Em 2009, o apresentador e político manauense Wallace Souza foi acusado de assassinato, associação com tráfico de drogas, intimidação de testemunhas, porte ilegal de armas e formação de quadrilha. 

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De acordo com testemunhas, Souza encomendava mortes para aumentar as taxas de audiência de seu popular programa policialesco, Canal Livre. Após ter o mandato cassado, o apresentador teve prisão preventiva decretada e morreu vítima de uma parada cardíaca.

Produzida pela Netflix, a série Bandidos na TV resgata essa história, que ficou conhecida como ‘caso Wallace Souza’. Com sete episódios, a docussérie mescla imagens de arquivo, depoimentos e reconstruções fictícias para explorar as acusações contra o apresentador, que construiu sua popularidade em cima de críticas ferrenhas às ‘galeras’ – grupos criminosos que atuavam em Manaus.

Cena do documentário 'Bandidos na TV', da Netflix, que conta a história do apresentador brasileiroWallace Souza Foto: Netflix/Divulgação

Nos seus programas, Wallace fazia discursos exaltados contra o crime e, principalmente, o tráfico de drogas. Defendia, inclusive, a pena de morte. Sua equipe acompanhava a polícia e exibia sem pudores sangue, cadáveres e até corpos carbonizados. Toda a crueza das cenas é reproduzida no documentário.

Diretor da série, Daniel Bogado afirma que, mesmo anos depois, o caso ainda mexe com o imaginário popular. “Nós entrevistamos cerca de 60 pessoas conectadas ao caso e havia um enorme clima de medo”, conta. “Um dos primeiros jornalistas para quem liguei, que havia trabalhado em todo o caso, se recusou a falar comigo porque ainda era muito perigoso.”

“A história de Wallace Souza tem uma premissa cativante – a história de um apresentador que supostamente matou pessoas só para transmitir suas mortes nos programas”, diz Bogado. “Mas, quando começamos a pesquisar, constatamos que isso era apenas o ponto de partida. Os acontecimentos seguintes eram repletos de reviravoltas.” 

Reconstruir a história foi desafiador, afirma. “Os eventos aconteceram há quase uma década e, desde aquela época, ninguém tinha feito nenhum tipo de trabalho sobre o caso. Tivemos que começar do zero”, explica. A pré-produção envolveu pesquisa sobre a cobertura de imprensa feita à época, reunião de materiais filmados pela polícia e em tribunais, e consulta a documentos legais com mais de mil páginas. 

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Bandidos na TV segue uma tendência recente de séries que resgatam crimes antigos ou reabrem casos solucionados, como Making a Murderer (2015), O Desaparecimento de Madeleine McCann (2019) e Olhos Que Condenam (2019). Making a Murderer trouxe à tona o caso de Steven Avery, que passou 18 anos na cadeia acusado de estupro e tentativa de assassinato.

O lançamento da série gerou opinião pública favorável a Steven – a Casa Branca recebeu um abaixo-assinado com mais de 130 mil assinaturas pedindo o perdão presidencial. 

Bogado confirma semelhanças entre as duas séries. “Logo no início, tomamos a decisão de mostrar os dois lados da história – o lado das pessoas acusadas, incluindo Wallace, seus amigos e sua família, e o lado dos investigadores, que perseguem a suposta organização criminosa, chamada de Força-Tarefa”, afirma. “Na época do caso, a família sentiu que a imprensa focou bastante na Força-Tarefa, mas nunca deram a chance para que os parentes contassem seu lado da história.”

O diretor conta que, durante o fim de semana da estreia da série, o Twitter foi bombardeado com menções ao caso, que chegou a entrar na lista de assuntos mais comentados na rede social em Manaus.

“Muitas pessoas diziam que, durante a série, em um momento, estavam convencidas da culpa de Wallace, mas viam o sentimento mudar conforme a história avançava”, conta. “Muitas pessoas agora estão discutindo todas as evidências, os depoimentos, as entrevistas para debater se ele era ou não culpado, o que é muito semelhante ao que aconteceu na cidade de Manaus há dez anos.”

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