Rindo à toa

Diretor de Aline, Maurício Farias tem quatro seriados de humor sob seu guarda-chuva

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Por Patricia Villalba
Atualização:

Tranquilo, de fala segura e pausada, ninguém diria, mas a especialidade de Maurício Farias é fazer rir. Desde 2004, a assinatura dele está no seriado A Grande Família, que segue firme para sua 11.ª temporada na Globo, onde ele ainda comandou no ano passado Junto e Misturado, que tem grande possibilidade de repeteco neste ano, e Aline, série dirigida em parceria com Mauro Farias e Clara Kutner e cuja 2.ª temporada estreia nesta quinta-feira, às 23h25. Isso acontece pouco antes de ele iniciar as filmagens de mais uma série - Tapas e Beijos, de Claudio Paiva e Nilton Braga, no qual Andréa Beltrão e Fernanda Torres são vendedoras de uma loja de noivas.

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Sentado à mesa de um restaurante no Leblon, Maurício conta nesta entrevista ao Estado como tem se dividido atrás das câmeras de programas tão variados, mas que têm a comédia e a excelência estética em comum. E, de quebra, entrega o que julga ser o segredo da piada filmada.

Aline fará referência a seriados como 24 Horas e Glee. Vocês quiseram criar uma identificação com as séries americanas?

É muito interessante observar como se desenvolvem os seriados em outros países. Mas a dramaturgia de Aline é original e a trajetória do seriado segue as nossas experiências. Há, sim, uma brincadeira com 24 Horas em um episódio chamado 24 Minutos, em que Aline, Otto e Pedro têm que salvar uma desesperada ouvinte de um programa de rádio. E há também uma inspiração em O Diabo Veste Prada, no episódio O Diabo Veste Aline, em que Aline é chamada para trabalhar com uma grande costureira. Aline continua sendo um seriado muito musical mas, mesmo assim, Glee não foi uma referência.

Do ponto de vista do diretor, qual é a diferença em dirigir um programa como A Grande Família e outro como Aline?

Do ponto de vista da piada, do fazer rir, não vejo diferença no trabalho do diretor. Cabe a ele realizar toda cena sempre da maneira mais eficiente - mais compreensível, bela, emocionante, surpreendente e engraçada, se for o caso. Cada programa tem seu estilo, seu andamento e, para fazer rir, é preciso respeitar tudo isso e correr atrás da piada somente quando ela está lá. O humor é uma questão de compreensão, identificação e gosto, tanto para quem vê, como para quem faz.

Você está à frente de quatro programas de humor. Existe algo especial no trabalho do diretor que lida com comédia o tempo todo?

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Existe. Tive a felicidade de trabalhar com o Guel (Arraes), entrei no humor por causa dele. Eu era diretor de novela, já tinha feito minisséries e cinema, mas não humor. No final dos anos 90, acabei me aproximando do Guel, que foi um mestre para mim. Daí, o que veio depois foi juntar o estilo que eu tinha com as coisas que fui vendo que funcionavam para o humor. A Grande Família foi minha grande escola, depois fiz outras coisas. O humor reforça uma coisa que a boa dramaturgia deve ter sempre, que é a concisão, a precisão, não ter nada que impeça a história de avançar. Isso não vale só para o humor, mas para o humor é cruel. Nesse caso, não tem meio-termo. Quando você está fazendo um drama, algumas pessoas podem achar um pouco arrastado outras não e, às vezes, você pode dar uma regência especial a uma história que não é de humor. Mas, na comédia, a sensação é que esse andamento é menor, praticamente um só.

Pode-se concluir, então, que o diretor é o orientador da piada?

Acho que sim, mas isso é mais subjetivo pra mim, porque raramente leio a cena de duas maneiras. O que percebo é que o trabalho obcecado da direção deve ser isso que estou lhe dizendo: o que naquela narrativa é realmente necessário para fazer o conteúdo avançar até chegar à piada. É como um jogo de vôlei em que um levanta e o outro corta. Se essa preparação for longa, a piada não acontece, fica chocha. O grande trabalho do diretor de comédia é esse.

No seu caso, acaba influenciando toda sua maneira de trabalhar, até no drama?

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Sim. Verônica (longa-metragem dirigido por ele em 2008), por exemplo, era um drama. E eu fiquei impressionado comigo mesmo ao fazer o filme quando percebi como a experiência com a comédia não me deixa andar um pouco mais devagar. Não conseguia ver aquilo de uma maneira lenta, apesar de ser um drama. Na televisão, especialmente, os tempos são longos para determinados produtos e se criou mesmo uma dramaturgia mais lenta. Numa novela não tão boa, a pessoa entra em casa, acende a luz, dá boa noite e papapá... As cenas são muito longas, porque há uma luta enorme com o tempo - o cara (diretor) tem 200 capítulos para preencher e acaba brigando com isso. Mas não tenho dúvida de que o controle do ritmo é o segredo da comédia.

Quando você entra num novo projeto, pensa em chegar ao sucesso de A Grande Família?

Não. A Grande Família se tornou uma referência, mas isso aconteceu à medida que o tempo foi passando. No segundo ano, a gente se reunia e dizia "caramba, acho que esse ano acaba". Só paramos de pensar assim depois de cinco anos. Não porque a gente desconfiasse do programa, mas porque não tínhamos a dimensão exata do que estávamos fazendo. Hoje em dia se fala isso, da grande audiência, de que atinge um público de A a Z, virou uma referência. Mas não foi sempre assim. E, no momento, não estamos procurando nada para substituir ou igualar o programa.

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Olhando seu currículo, posso dizer que se tiver de escolher entre uma cena de humor ou drama, você escolhe dirigir uma de humor?

É... Acho que sim... Mas como diretor sinto vontade de fazer coisas variadas. Às vezes, fico com vontade de fazer drama, musical e até filme de terror. Imagina, se a gente pudesse fazer um filme de lobisomem... Encontrar a partitura de um gênero é um desafio delicioso. Por isso, digo que adoro fazer humor, mas se me chamassem para dirigir uma boa história de terror, faria encantadíssimo.

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