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Qual é o seu tipo?

Tudo que foge do padrão Gianecchini tem espaço nessa indústria de casting exótico alimentada pela TV

Por Keila Jimenez
Atualização:

"Falei com o Michael Jackson, ele não pode ir, tem um evento em Araçatuba! O Cid Moreira já morreu e a Cindy Lauper tá viajando. Troca pelo Martinho da Vila? Ixi, ator com mais de 150 quilos tá difícil, pode ser um com 100?", pergunta Marcelo Aguiar, dono de uma agência de casting, a um produtor de um programa de auditório aflito ao telefone. O Michael do diálogo em questão é um sósia do pai de Triller, assim como os dos outros astros citados. Já o ator mais avantajado teria papel garantido em um esquete de humor. Seja bem-vindo ao mundo dos não-Gianechinni. Veja Também: Jogo dos sete erros O que importa é a beleza interior Afinal, a TV também é feita de gordinhos, magricelos, gigantes, anões, idosos, gente exótica e tipos comuns. "O meu trabalho é encontrá-los. Chamo esse pessoal de ?tipos específicos?. E a TV precisa muito deles, quase todo programa tem", conta Marcelo Aguiar, da Estação das Artes, que fornece atores e modelos para programas como Casseta & Planeta, Pânico, Show do Tom e novelas em geral. Não, a agência de Marcelo não é caçadora de feios. Opa, feio não pode, lá a palavra é "exótico". "Trabalhamos também com a beleza convencional, as modeletes e as tipo gostosas, aquelas figurantes de Casseta e Zorra (Total)", continua ele. "Mas nosso forte é outro. No mercado já me conhecem por descolar os tipos mais diferenciados." Ex-produtor do Projac, Marcelo caça seus "talentos" nos lugares mais estranhos. Começou a formar o cast de sua agência abordando pessoas em filas de ônibus, na rua... "Estava em um auditório quando o Marcelo me perguntou se não queria trabalhar na agência de modelos dele ", conta Marizete Rosa, dona de traços, digamos assim, peculiares, e hoje cara conhecida de programas como Pânico. "Desatei a rir. Achei que fosse uma brincadeira de mau gosto, mas fui", continua. "Sempre me falaram que eu era feia de doer. Resolvi acreditar e ganhar dinheiro com isso (risos)", brinca a bem resolvida Marizete. SANTA CACHACEIRA Entre os seus " sucessos" recentes de audiência estão o concurso de Miss Canabrava, do Tom Cavalcante (Record), em que foi vencedora, e a dramatização da história da "Santa que chorava cachaça", coisa da turma do Pânico na TV! "Eu era a dona da Santa, e tinha que falar para a Sabrina (Sato) dos milagres que a imagem fez", conta Marizete. " Pedi perdão a Deus e jurei ter vistos todos os milagres (risos). Falei que a cachaça da imagem curava tudo, o pessoal do programa morreu de rir." Humor, por sinal, é o forte dessa turma. Menos por opção deles do que pela imposição da beleza na ditadura estética da TV. "Claro que sonho em fazer novela, mas o humor transforma o preconceito em diversão, é mais democrático com a imagem, nos dá espaço para trabalhar", fala a atriz Ellen Yorrah, que usa os quilos a mais a seu favor em atrações como Pânico e Show do Tom. Com Therezinha Alves são os cabelos brancos e as rugas - poucas para uma mulher de 77 anos - que chamam a atenção da TV. De figuração em novelas (como Belíssima) a simulações de casos do mundo-cão no Ratinho, Therezinha tem um currículo vasto para uma carreira de apenas 8 anos. "Já fiz a dona de um bordel no Ratinho, a irmã da Hebe no Pânico, um monte de comerciais, pontas em novelas...", continua. "Também fui contratada pelo Namoro na TV, do Silvio, para fingir que queria um marido, mas o cara de quem gostei pegou a minha amiga", continua, rindo. "O segredo para alguém assim, como nós, conseguir ser artista é não ter preconceito." Antítese do que a sociedade e a TV costumam lhes reservar.

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