PUBLICIDADE

Polêmica desde o início, 'O Mecanismo' estreia segunda temporada

José Padilha e o elenco de 'O Mecanismo' apresentaram a segunda temporada da série que estreia na sexta, 10, e falaram sobre corrupção, Jair Bolsonaro, Sérgio Moro, Dilma, Lula e liberdade de expressão

Por Roberta Jansen
Atualização:

RIO - A política deu o tom na coletiva de lançamento da segunda temporada da série O Mecanismo, da Netflix, que estreia nesta sexta, 10, e que trata dos recentes escândalos de corrupção no País. O diretor José Padilha, entusiasta da Operação Lava Jato e do juiz Sérgio Moro, abriu a sua participação criticando duramente o atual ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro e comparando-o a um salame fatiado. 

“Sérgio Moro, se for inteligente, deve estar extremamente arrependido das escolhas que fez”, disse Padilha, referindo-se a sua participação no governo. “Bolsonaro não tem maioria no Congresso e está negociando para aprovar suas reformas. Ele está usando Moro como moeda de troca. O Moro foi de herói nacional a salame fatiado, entregue em pedaços ao Centrão para aprovar a Reforma da Previdência.”

Netflix apresenta sengunda temporada de O Mecanismo Foto: Bruna Prado/Netflix

PUBLICIDADE

Padilha sugeriu que Moro deveria ter deixado o governo, ao constatar que Flávio Bolsonaro estava ligado ao ex-policial Fabrício Queiróz. O ex-assessor na Assembleia Legislativa fluminense, segundo o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), movimentou R$ 1,2 milhão em uma conta bancária de janeiro de 2016 a janeiro de 2017 – a quantia é incompatível com sua renda. Há suspeita da prática de “rachadinha”, quando a maior parte ou todo o salário do servidor é repassado ao deputado. Tanto Flávio como Queiroz negam irregularidades.

Inspirada na Operação Lava Jato, a série O Mecanismo foi marcada pela polêmica já em sua estreia, no ano passado, a cinco meses das eleições presidenciais. Muita gente acusou Padilha de criar uma peça antipetista, contribuindo ainda mais para o clima de polarização política reinante no País e para a eleição de Jair Bolsonaro. Na época, o diretor afirmou que o mecanismo de corrupção criado no País não tinha ideologia e abarcava todos os partidos, apesar de o foco da primeira temporada estar no PT.

A segunda temporada deixa essa premissa bem mais clara. A começar pela abertura. Ao som do samba de Bezerra da Silva Reunião de Bacana, mais conhecido pelo refrão “se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão”, a abertura exibe imagens dos mais diversos políticos que estiveram no poder no País desde a redemocratização. 

A segunda temporada começa seguindo os eventos de 2014, com a presidente Dilma Rousseff ainda no poder e 12 dos 13 maiores empreiteiros do Brasil já atrás das grades. A força-tarefa liderada pela delegada Verena (Caroline Abras) com a ajuda do ex-policial Marco Ruffo (Selton Mello) está tentando prender o mais importante dos empreiteiros, Ricardo Brecht (Emílio Orciollo Netto). 

O impeachment da então presidente e a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparecem no centro de uma manipulação orquestrada por políticos de diferentes partidos interessados em perpetuar seus interesses no poder. Procuradores, policiais e um certo juiz de Curitiba tentam investigar os crimes de corrupção sem politizar o trabalho, mas a tarefa se revela impossível. 

Publicidade

“Sempre falei que o mecanismo não tinha ideologia, que era apartidário, isso não mudou, minha opinião é a mesma”, afirmou Padilha. “Sempre falei que o PSDB era o mecanismo, que o PMDB era o patriarca do mecanismo, que o PT entrou para o mecanismo. Entre as condições necessárias que alguém tem de satisfazer para chegar à Presidência no Brasil está participar do mecanismo.” Padilha confirma que mudou de opinião sobre Moro, mas não se arrepende da forma como o retratou na primeira temporada de O Mecanismo. Agora, na segunda, o juiz Paulo Riggo surge bem mais envaidecido pela fama adquirida e já pensando em eventuais passos políticos.

“A série é inspirada em eventos reais, estava contando a história do começo da Lava Jato, quando várias coisas não tinham acontecido”, justificou. “Eu e a torcida do Flamengo víamos os jogos em que o goleiro Bruno agarrava pênaltis e achávamos maravilhoso. Depois disso, ele cometeu um assassinato. Agora, quando ele agarrava um pênalti, eu não podia reclamar porque não sabia que ele ia cometer um assassinato.”

Selton Mello reclamou dos ataques sofridos pelos atores do elenco por fazerem parte da série. “Muita gente que levanta o punho para defender a liberdade de expressão bateu na gente”, afirmou. “Que liberdade de expressão é essa? Esse é o nosso trabalho. Eu quero fazer essa série, quero fazer qualquer coisa. Achei um pouco triste e um tanto patético os atores apanharem.”

PUBLICIDADE

O ator Enrique Diaz, que vive o doleiro Ibrahim na série, concorda com o colega de elenco, mas faz uma ressalva. “Eu também entendo que naquele momento, na primeira temporada, era um momento político decisivo e as pessoas precisavam gritar; faz parte da liberdade de expressão também”, disse. “Naquelas eleições o antipetismo nos levou à cagada monstra (sic) que estamos vendo agora.”

Outra crítica importante à primeira temporada dizia respeito ao som. Não dava para entender direito o que Selton Mello, que é o principal narrador da história, falava. Segundo o ator e o diretor, houve um problema de mixagem, corrigido na segunda temporada. “O que aconteceu na primeira temporada não foi um problema meu, foi de mixagem”, afirmou Selton Mello. “Agora que mixaram certo, as pessoas vão entender.”

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.