'Participo (da indústria) na contramão'

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Ele é dos poucos na TV que desfruta de um ano inteiro para se dedicar a um único projeto. E, apesar de ser e extremamente exigente, os atores ficam em polvorosa para participar, nem que seja por uma ponta, de seus trabalhos. Luiz Fernando Carvalho é grife. Em posição invejada, o diretor da elogiada minissérie Hoje É Dia de Maria e do premiado filme Lavoura Arcaica é o criador do Projeto Quadrante, da qual faz parte sua nova microssérie Capitu - A Pedra do Reino, de Ariano Suassuna, foi sua primeira adaptação literária para a TV e ainda faltam as obras Dançar Tango em Porto Alegre, de Sérgio Faraco, e Dois Irmãos, de Miltom Hatoum. A primeira atriz que você pensou para Capitu foi Maria Fernanda Cândido? Não. Foi Letícia (Persiles). E o critério foi a força dos olhos. Vi a imagem dela numa foto de jornal, numa matéria sobre a banda dela (Manacá), e fiquei impressionado. Porque Machado não fala de uma beleza de modelo. E sim de uma menina simples. Precisava ser alguém com outra percepção da arte. E por ser de uma banda de rock independente e ter feito teatro de rua, ela tem outra atitude, mais desglamourizada. Você aposta sempre em novos rostos. O que pesou para juntar esse elenco? Faz parte do Projeto Quadrante trabalhar com atores excluídos da grande mídia. Estamos acostumados a ver sempre as mesmas caras. Existe uma enorme quantidade de talentos desperdiçados. E também convido alguns atores que chamo de participações especiais, como a Eliane Giardini. O público de TV aberta está preparado para sua linguagem? Infelizmente, o nível educacional e cultural do povo tem sido rebaixado no que chamam de indústria cultural, que quer produtos para o consumo imediato. Pensei em fazer uma versão de Machado para os jovens e incultos. Mas você concorda que faz parte dessa indústria? Sim, mas não concordo (com ela). Participo na contramão. É quase uma guerra santa. Existe alguma expectativa de audiência? Eu nunca penso no ibope. Quero é comunicar. Você pode ter 30 pontos de audiência e as pessoas estarem anestesiadas diante da TV. Essa apatia do espectador não me interessa. O que qualquer artista busca é uma reação. Se você pudesse refazer A Pedra do Reino, faria diferente? Tenho uma dificuldade imensa em assistir a meus trabalhos, porque sempre me dá vontade de fazer diferente. Eu nunca revejo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.