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Para ele, menos é mais

Selton Mello: com aparições cada vez mais raras na TV, ator usa aprendizado que teve com Paulo José

Por Patricia Villalba
Atualização:

 

No set de filmagens em Diamantina, há algo diferente em Selton Mello e deve ter a ver com o fato de que, dias antes, ele estava do outro lado da câmera, como diretor de O Palhaço, seu segundo filme. Ao contrário dos tipos charmosamente esquisitões que ele interpretou em comédias, Dimas, de A Cura, que estreia na terça-feira, é um sujeito comum à primeira vista. "À medida em que você vai envelhecendo, vai se tornando um ator mais simples", analisa ele, influenciado demais pela convivência com Paulo José, protagonista de O Palhaço.

 

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Selton tem 37 anos, 30 de carreira. Começou em 1979 na novela Marron Glacê. E desde que fez o Emanuel de A Indomada, em 1997, se tornou um sonho de consumo de diretores e autores. Por isso, ele se dá ao luxo de fazer só o que gosta e ficou bastante entusiasmado com o Dimas de A Cura. O médico curandeiro é um prato cheio para ele.

 

Você volta de novo à TV num seriado. Por que prefere esse tipo de trabalho?

É. Só fiz seriados nos últimos dez anos. Minha última novela foi em 1999, Força de Um Desejo. De lá pra cá só fiz séries, como Os Maias, Aspones, A Invenção do Brasil, O Sistema. A aposta que a Globo está fazendo em seriados neste ano é bem positiva, porque hoje não é mais todo mundo que tem paciência de acompanhar uma história em 200 capítulos. Uma coisa que eu gostei de A Cura é que é um drama, que não aparece com frequência para mim na TV. Por gostar de fazer coisas mais curtas, sempre aparecem papéis em comédia.

 

O Dimas me pareceu um cara bastante comum, sem a composição mais forte que você usou em outros personagens.

Sim, ele é comum. É que quando você é um jovem ator, quer fazer muita coisa na composição. E à medida em que vai envelhecendo, vai se tornando um ator mais simples, no melhor sentido. Acabei de fazer um filme com o Paulo José, que é um mestre nisso. Ele diz muito com pouca coisa. Me preparei para este personagem, mas muito pouco. Quando você se prepara muito, fica muito armado.

 

Você acaba de dirigir seu segundo flme. Como é voltar para o set como ator?

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Estou achando ótimo porque é muito mais tranquilo ser ator (risos). Hoje gravei minha última cena na hora do almoço e posso descansar. Gosto de dirigir, mas me dá um prazer enorme ser ator e vir aqui contar essa história com a cabeça do Ricardo (Waddington).

 

Por que está cada vez mais difícil ver você na TV?

Eu gostaria de fazer mais, mas nem sempre é possível e não é sempre que aparece um personagem assim. Adoro fazer cinema, mas é um exercício de frustração. Faço filmes que amo e são vistos por 20 mil pessoas. Mesmo sucessos como Meu Nome Não É Johnny e Mulher Invisível, que fazem 2 milhões de expectadores, deveriam ser vistos por 20 milhões. É romântico, quixotesco, o negócio. E o episódio de um seriado pode ser visto na TV por 60 milhões. A gente quer ser visto.

 

Quando está fora da TV ficam tentando te laçar para uma novela?

Ficam. Recebi convite para Paraíso Tropical, Caminho das Índias... Mas estou sempre envolvido em projetos de cinema e a novela dura um ano. Não dá para me liberarem no meio para ir fazer um filme. Mas tenho vontade de fazer. A Favorita, por exemplo, é uma novela que eu assistia e ficava pensando que gostaria de estar ali.

 

Você foi muito bem recebido como diretor. Não passou pela sua cabeça em abandonar a carreira de ator?

Passou, sim. Fiquei balançado depois do meu primeiro filme. 2008 foi um ano estranho. Estava tão entusiasmado, e foi tão bom perceber que poderia fazer aquilo, que fiquei em crise como ator. Mas passou.

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Não quer dirigir na TV?

Sim, mas não tenho ideia do quê nem em quê circunstância. Vou te dizer o que eu gostaria: fazer parte da criação de uma série em que eu atuasse e dirigisse. Como acontece lá fora. O House, por exemplo, teve um episódio dirigido pelo Hugh Laurie. Se A Cura fizer sucesso, quem sabe eu não convenço o Ricardo a me deixar dirigir um episódio na segunda temporada. Vontade eu tenho.

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