Ozon, o insólito acima de tudo

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Por Antonio Gonçalves Filho
Atualização:

Quando surgiu como diretor, há pouco mais de sete anos, o francês François Ozon, que completa 40 anos no dia 15, foi visto como um novo Fassbinder, por eleger temas insólitos e títulos não menos bizarros (seu primeiro grande sucesso chama-se Gotas d''''Água Sobre Pedras Escaldantes, não por acaso adaptado de uma peça juvenil de Fassbinder). Ozon amadureceu, mas não perdeu a verve irônica e o gosto pelo inaudito. Tanto que seu filme de maior sucesso, o desconcertante Oito Mulheres (2002), tenta forjar uma nova linguagem ao recorrer a uma fusão híbrida de dois gêneros, o policial e o musical, aparentemente inconciliáveis. Com um elenco de estrelas (Catherine Deneuve, Isabelle Huppert), Oito Mulheres reúne numa mesma casa patroas e empregadas, suspeitas de ter matado um homem, todas com bons motivos - sexuais, inclusive, o que estabelece uma ponte com outros filmes do diretor, obcecado pela pulsão do desejo fora de lugar. Em outros dois filmes já lançados em DVD, Amor em Cinco Tempos e Swimming Pool - À Beira da Piscina, ele trata desse deslocamento com igual intensidade. No primeiro, a revolução formal consiste em contar a história de um casal de trás para a frente, do divórcio ao namoro. Em Swimming Pool, Charlotte Rampling é uma escritora em crise e às voltas com a voluptuosa filha de seu editor. Ozon, como Fassbinder, está convicto que o mundo moderno já não entende a tragédia. Brinca com o kitsch e faz melodramas intelectuais. Há quem goste, há quem odeie. Mas ninguém fica indiferente.

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