Orlando Drummond faz 100 anos distribuindo amor e bom humor

Com trajetória marcada por dublar personagens como o Scooby-Doo e divertir com o Seu Peru, ator, dublador e humorista recebe homenagem ao participar da Escolinha do Professor Raimundo no domingo, 20

PUBLICIDADE

Por Eliana Silva de Souza
Atualização:
O humorista e dublador Orlando Drummond, em sua casa, no Rio Foto: Estevam Avellar/ Globo

Não é para qualquer um. Completar 100 anos esbanjando alegria e muito bom humor é para poucos. E Orlando Drumond pode se vangloriar de ter chegado a essa avançada idade cheio de energia e consagrado pelos fãs. Além de viver o icônico Seu Peru, na Escolinha do Professor Raimundo, o humorista e dublador deu voz a inúmeros personagens, como é o caso do Scooby-Doo. Aliás, no domingo vai ao ar o episódio da Escolinha com homenagem a ele, que faz aniversário nesta sexta, 18. Veja a seguir, trechos da entrevista que ele concedeu ao Estado

PUBLICIDADE

A alegria e o humor ajudaram a ter uma vida mais longeva e feliz?

Sim, sem dúvida nenhuma. Antes do humor, tem o bom humor, que eu sempre tive, graças a Deus. Por isso, eu andei pelos caminhos que andei e cheguei aonde cheguei. Na verdade, eu sempre defendi a tese de que as duas coisas mais importantes da vida são amor e humor. A alegria sempre esteve na minha vida. Então a melhor forma de retribuir tanta alegria que a vida me deu foi espalhando a alegria com o meu trabalho.

Como é se sentir tão querido pelo público, depois de tantos anos de trabalho?

É maravilhoso, gratificante. O artista não se realiza se não tiver o reconhecimento do seu público. Então, quando recebo o carinho das pessoas, fico com a impressão de que fiz bem o meu papel. E essa é a minha realização.

Lembra como foi estrear como o Seu Peru? As frases dele são criações sua?

Eu lembro que o papel foi oferecido a um ator mais jovem que eu e ele recusou com medo de ficar rotulado. Foi quando o Chico Anysio disse: "chama o Drummond". Agora, as frases e os bordões do Seu Peru, sinceramente, não me lembro muito bem como surgiram. Acho que fomos desenvolvendo algumas coisas de forma conjunta.

Publicidade

Orlando Drummond, o Seu Peru,recebe homenagem do colegas da Escolinha do Professor Raimundo Foto: Estevam Avellar/ Globo

Como é receber uma homenagem da 'Escolinha', foi um momento de realização? O que sentiu ao ver todos os atores o aplaudindo em cena?

Olha, eu sabia que gravaria uma participação. Só não sabia que seria o centro das atenções. E para ser franco, me causou surpresa a reação emocionada de todos. Eu não sabia que era tão querido e respeitado por todos aqueles atores consagrados. Artistas que estou habituado a admirar. Me senti muito lisonjeado e aproveito para mandar um abraço a todos.

Como é ver o personagem que criou sendo interpretado por Marcos Caruso? Ele está aprovado?

O Caruso é um artista extraordinário, dotado de grande talento, mas, acima de tudo, um ser humano muito especial, raro. Ele teve a gentileza e a grandeza de me telefonar, antes de gravar como Seu Peru, para me pedir licença, a minha bênção para assumir a responsabilidade de incorporar o personagem. Ele ganhou a mim e a minha família com aquele gesto, que só um grande artista como ele poderia fazer.

O Seu Peru teria algo para dizer para os fãs dele?

Amados, usem-me e abusem-me, com carinho e com Caruso. Muito obrigado por todas as manifestações de amor que tenho recebido e que, com certeza, me ajudam a chegar aos cem anos com saúde. Que Marcos Caruso também chegue aos cem anos defendendo o nosso personagem.

Qual a importância da família em sua trajetória profissional e pessoal? Como é estar casado há tantos anos com a mesma pessoa?

Publicidade

A família teve sempre papel fundamental na minha vida. Sabe por que? Porque tudo que fiz sempre foi pensando na minha família. Então a minha família foi a força que me animou, desde sempre, a insistir na difícil arte de viver da arte. Porque ser artista tem glamour, mas também tem sacrifício. A família me ajudou a enfrentar tudo isso. Estou casado há 68 anos com a minha Glória (Drummond). Ela e meus filhos, genro e nora, meus netos com suas esposas, além dos meus bisnetos são o meu maior sucesso.

O humorista e dublador Orlando Drummond com sua mulher, Gloria Foto: Estevam Avellar/ Globo

É importante manter contato com a juventude, como é o caso de decidir estar nas redes sociais?

Pois é... meus netos me introduziram e me conduzem até hoje neste universo das redes sociais. Eles me mantêm atualizado, lendo as mensagens que chegam e me ajudando a respondê-las.

O que é ser um dublador? Gostaria de ter dublado algum personagem e não foi possível?

Ser dublador é emprestar emoção a uma cena onde você não está presente fisicamente. Você precisa ser bom ator e dominar a técnica. Então é algo bem complexo e que deveria ser mais reconhecido como arte. Nem todo ator é necessariamente bom dublador, mas te asseguro que todo bom dublador é excelente ator.

O que significa o Scooby-Doo em sua vida?

Scooby-Doo é um acontecimento na minha vida. Foi ele que me levou ao Guiness Book como o personagem dublado há mais tempo pelo mesmo dublador. Além disso, é a voz que as crianças de 5 a 95 anos mais me pedem para fazer, quando sou abordado na rua.

Publicidade

Está realizado com sua trajetória?

Sim, plenamente realizado. Tive tudo que sempre quis e muito mais. Veja, por exemplo: não tive netas, só netos. Cinco ao todo. Mas cheguei aos cem para ver quatro bisnetos, sendo dois meninos e duas meninas. Então tem sido uma vida maravilhosa, graças a Deus. Eu me sinto muito bem e vou vencendo os pedaços da vida. Trabalhos foram muitos. Vocês viveram parte disso e podem lembrar também. De modo geral, me dei muito bem nessa aventura que é fazer os personagens. O tempo vai passando, a gente vai esquecendo e vai lembrando. Assim como todo mundo, eu fiz o que fiz e dei o meu recado. Felicidade é a base de tudo e eu sempre fui uma pessoa muito feliz. O meu casamento foi mais feliz ainda – alcancei meu objetivo. Eu desejo a todos que casem com a pessoa certa. Estou aqui para o que der e vier. Se Deus quiser me dar mais vida, eu encaro, com amor e com humor. Quisera poder viver semanas e mais semanas, mas o nosso Pai é quem sabe.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.