'Orange Is The New Black' terá humor mais ácido e obscuro

O primeiro episódio da nova temporada será exibido no dia 6

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Por Gabriel Perline
Atualização:
A atriz Taylor Schilling 

A sensação de caminhar por um ambiente carcerário não é das melhores, sobretudo quando não se tem uma pena a cumprir. E a fidelidade mantida pelo diretor de arte Michael Shaw na criação do set da série Orange Is The New Black – que retrata a vida de um grupo de detentas americanas – causa estranheza a quem nunca esteve por trás das grades. A reportagem do Estado visitou as instalações do Kaufman Astoria Studios, situado em uma pacata rua de Astoria, bairro de classe média do Queens, distrito de Nova York, onde está montada a principal estrutura da trama, o interior da fictícia prisão federal em que a protagonista Piper Chapman (Taylor Schilling) está reclusa por seu envolvimento com o tráfico de drogas.

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Produto de maior audiência entre os exclusivos do Netflix, plataforma de streaming, a série criada por Jenji Kohan – que carrega em seu currículo a extinta Weeds, sucesso do canal Showtime – ganhou fãs em todo o mundo assim que estreou no catálogo do site, em 2013. E justamente por não estar vinculada a nenhuma emissora tradicional, tem a liberdade de exibir cenas que possivelmente seriam censuradas, como nudez frontal, relações sexuais entre mulheres, abuso de poder, violência e até instantes escatológicos.

O roteiro é centrado na vida de Piper Chapman, uma patricinha que está prestes a se casar com o escritor Larry Bloom (Jason Biggs), mas é convocada a passar um período atrás das grades após sua ex-namorada, Alex Vause (Laura Prepon), ser capturada e denunciá-la como participante de sua quadrilha de tráfico de drogas. Na prisão, ela tenta cumprir sua pena sem cometer deslizes e poder sair antes do prazo estipulado. Mas o choque com os diferentes tipos e a péssima habilidade na formação de alianças a colocam em situações embaraçosas e dificultam sua permanência.

Os atores Jason Biggs e Taylor Schilling 

No caminho pelo set, a iluminação baixa e a falta de luz natural amplificam a tensão da detenção. No refeitório, local em que se arquitetam os planos das subdivisões internas e também onde as fofocas ventilam com mais rapidez, os utensílios de plástico delatam o perigo que simples artigos de uso diário podem oferecer no cárcere. A pintura descuidada, a sujeira proposital e outros pequenos detalhes foram minuciosamente reproduzidos com o objetivo de se aproximar da real estrutura de uma prisão americana.

Da esquerda para a direita, as atrizes Diane Guerrero, Jackie Cruz, Dascha Polanco e Kate Mulgrewatores 

“Primeiro, vem a realidade de uma detenção e tudo o que isso implica. Depois, o roteiro. Meu trabalho é convergir”, explica Shaw. “Sabemos o que é necessário em relação aos protocolos das prisões, mas também temos as necessidades narrativas do roteiro. Por isso, tive que tomar algumas liberdades na criação. Todas elas dentro de um universo possível, para não descaracterizar a realidade”.

O bege das paredes colabora significativamente para o clima triste que o ambiente emana. “Mas a ironia do texto quebra o tom depressivo para quem assiste”, afirma Shaw. O banheiro, por mais limpo e perfumado que estivesse no dia da visita, impulsiona o asco instantâneo. Manchas no chão, vasos sanitários danificados e paredes tomadas por lodo trazem à mente as cenas em que as detentas se banham, depilam e fazem suas necessidades, sempre sob o olhar de algum vigilante. “É o ponto do set que mais impressiona quem entra aqui pela primeira vez. Conseguimos imprimir uma aparência velha e suja ao banheiro. Recorri a algumas técnicas de pintura para dar a impressão de que em certo ponto da parede houvesse um buraco, como se alguém tivesse arrancado um cano dali de dentro. São detalhes importantes, porque, se você não acreditar que aquilo é uma prisão, consequentemente não dará crédito às personagens”, diz o diretor de arte.

Kate Mulgrew e Lorraine Toussaint 

Temeroso ao longo de todo o processo, mas confiante em sua linha de criação, Shaw ficou aliviado quando Piper Kerman, autora do livro homônimo que inspirou a série, disse ter se sentido incomodada por estar no estúdio. “Ao ouvir isso, tive a certeza de que o trabalho foi bem executado. Como a Piper passou meses de sua vida atrás das grades e, de certa forma, reproduzimos o local em que sua história real se passou, provocar uma reação como a que ela teve, para nós, foi muito gratificante”, lembra Shaw.

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Nova fase. A segunda temporada, com estreia prevista para o dia 6 de junho no Netflix, apresentará novos ambientes ao público. Após a batalha sangrenta entre Piper e Pennsatucky (Tarin Manning) no último episódio de 2013, a protagonista passará um mês numa solitária e depois será encaminhada a uma nova prisão, em outro estado, sem saber para onde está sendo transferida. Na chegada ao internato, sua fama de ‘casca grossa’ já circula entre os grupos das novas personagens. E todo o pesadelo vivido no início de sua entrada na cadeia voltará à tona, mas de um modo mais nojento e abusivo.

Para alívio dos fãs, que temiam a ausência de Laura Prepon, a personagem Alex Vause surge no primeiro episódio – e volta a frustrar a ex-namorada.

Nesta nova fase, o humor obscuro é trabalhado com mais habilidade e está presente até em cenas embaraçosas. As rápidas aparições de Crazy Eyes (Uzo Aduba) e Big Boo (Lea DeLaria), no segundo episódio, mostram a preocupação de Jenji Kohan em quebrar a tensão do dramalhão.

Cenas de flashback voltam a ser exploradas para contextualizar a história das detentas e também para introduzir novas personagens, como Vee (Lorraine Toussaint), líder da quadrilha à qual pertencia a divertida Taystee (Danielle Brooks). 

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