Ó paí, Obama, ó

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Por Mário Viana e e-mail: mvianinha@hotmail.com
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A cor da pele esteve em todas as conversas na semana que passou, puxadas obviamente pela vitória de Barack Obama à presidência dos Estados Unidos. No mundo da teledramaturgia, a notícia foi a rejeição sofrida pelo personagem de Fábio Assunção em Negócio da China. Na contramão do sucesso de Obama, o "branco de olho azul" Heitor não conquistou o público. Foi considerado fraco, sem rumo e submisso à mãe - em suma, um frouxo. Pejorativo quando aplicado a qualquer um de nós, o termo é uma catástrofe quando define o mocinho da novela. Por mais moderninho que esteja o mundo, há valores inabaláveis no folhetim. A mocinha já pode experimentar outros homens que não o galã (Lara, de A Favorita, transava com o primeiro namorado e agora dorme com o segundo na casa dos avós, e a Lívia, vivida por Grazi Massafera, começou Negócio com um filho). Mas o mocinho, o herói romântico e bonitão, tem que ser tudo isso e ainda reservar espaço pra sensibilidade. E tudo isso sem parecer fraco, capacho, Maria-vai-com-as-outras. É claro que isso também pode ser um aviso para o ator: ou ele se comporta direitinho, sem atrasar as gravações, ou seu personagem tende a murchar ao longo da história. Precedentes existem: em Pátria Minha (1994), Gilberto Braga literalmente atirou a protagonista Vera Fischer na fogueira para aliviar o clima nos bastidores. Ser branco na TV foi complicado nos últimos dias. No seriado Ó Paí ó, uma divertida crônica ambientada no Pelourinho de Salvador, não havia um branco que prestasse - do delegado e do gerente do banco até o astro Matheus Nachtergaele (em uma versão urbana e malévola do João Grilo, de O Auto da Compadecida). Ter a pele mais clarinha bastava para o personagem figurar como explorador dos pobres negros sofridos, porém espertos. Isso pode ser influência da dramaturgia, às vezes polêmica, desenvolvida pelo grupo de teatro do Olodum, de onde saiu boa parte dos novos rostos do programa. Na série recém-lançada, o único personagem negro de comportamento reprovável era um pastor evangélico que percorria as casas dos fiéis cobrando dízimo e matando a fome. Numa emissora que vive às turras com a concorrência ligada a uma igreja, isso não deve ter sido casual.

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