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O mau passo da linchadora da Portelinha

Por Mário Viana e mvianinha@hotmail.com
Atualização:

Foi o assunto da semana. A fanática maluca incentivou o linchamento do trio ternura da novela Duas Caras, a grávida deu à luz no lixo e tudo só não acabou em tragédia porque o chefão da favela botou ordem no barraco. Ninguém reparou que tudo o que se discutiu do enredo foi o fato da fanática ser seguidora de uma determinada seita religiosa. Isso se tornou mais importante do que o fato - em si, escandaloso - de alguém se julgar justo o suficiente para destruir quem não age ou pensa como ele. Edivânia (Susana Ribeiro) poderia ser hare krishna de manto laranja ou freira carmelita descalça, tanto faz. Chocante é presenciar o desrespeito à diferença. Pior ainda, é ver - como o Brasil inteiro viu - que a incitação à violência sempre encontra seguidores. Edivânia, boa de lábia como é, convenceu uns debilóides a linchar os imorais. Isso não chocou a audiência. Mais importante foi o fato de ela ser militante de uma religião ligada às origens da emissora concorrente. Numa novela cujo enredo gira justamente em torno da dupla face de todos nós - nem mesmo Jojô (Wilson de Santos) é o que parece, com mulher e quatro filhos escondidos - mostrar que Edivânia comete tamanha insanidade é bastante coerente. Uma personagem voltada para a palavra de Deus de modo algum combina com o olhar enlouquecido de linchadora fanática. É essa exatamente a contradição - ou a dualidade, como quer o autor - de Edivânia. Mais esquisita é a confusão feita com o conceito de cartão corporativo. Baseado nos escândalos recentes vindos de Brasília, Aguinaldo Silva fez com que Branca (Susana Vieira) seja denunciada pelo mau uso do cartão corporativo de sua faculdade. Como alertou, por e-mail, a procuradora Ana Lucia Amaral, a escola da novela é uma empresa privada e, portanto, não precisa seguir as normas que regem o uso do dinheiro público. Nem mesmo fazer licitação para comprar papel, como aconteceu. Viajar na ficção é mais que salutar, é necessário. Mas é bom não confundir alhos com bugalhos. Especialmente, quando a mensagem cai entre uma população que acha normalíssimo linchar os diferentes.

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