
24 de março de 2019 | 03h00
Se a paranoia tem uma história consolidada no século 20, nos últimos anos ela parece ter adquirido protagonismo nas relações sociais: a quarta temporada da série PSI, da HBO, traz o tema para o centro da debate com cinco histórias, divididas em dez capítulos, exibidos a partir deste domingo, 24, sempre às 21h (e também no HBO GO).
Nos dois primeiros episódios, dirigidos por Max Calligaris, o arquiteto André (Nicola Lama) e a restauradora Renata (uma atuação intensa de Natalia Lage) vão buscar uma análise em casal com o psicanalista Carlo Antonini (Emílio de Mello, no quarto ano à frente do papel, que já lhe rendeu uma indicação ao Emmy Internacional). O espectador sabe que um crime foi cometido, porque a narração se dá com flashbacks, e a direção acompanha o depoimento do analista à justiça na tentativa de destrinchar o que ocorreu.
Nessa primeira história, fica claro que o ciúme paranoico de um dos personagens logo se torna um problema. Em outros episódios, a série aborda outros casos, como de hipocondria e mania de perseguição. “Existe uma diferença entre ‘o mundo nos persegue’”, diz o personagem, “e ‘o mundo quer nos perseguir e existe para isso’”. As redes sociais exercem papel importante na vida dos personagens e em como eles lidam com as situações.
A paranoia foi escolhida há dois anos como tema da nova temporada, mas Contardo Calligaris, psicanalista e criador da série, acredita que ela é a tinta dominante das explicações do mundo no momento. “Um mundo atravessado por raivas e ódios sem freios morais, quase psicopáticos, é um fenômeno global”, diz. “Se eu tivesse que definir em termos diagnósticos e psiquiátricos qual é o ar dos tempos, seria isso, um fundo paranoico, em alguns casos e o Brasil é um deles com uma parte de psicopatia.”
Ele ressalta, porém, que as paranoias se consolidaram no estabelecimento dos fascismos do século 20, e mesmo antes existem exemplos. “Mas o forte das teorias conspiratórias começa nos anos 1960 e 70, e daí nos 90 o nascimento da internet dá uma fortalecida extraordinária nisso. Um dos motivos pelo qual há tanto ódio é porque já não vemos adversários, apenas conspiradores. Não existe espaço de diálogo porque os outros estão sempre escondidos querendo a nossa ruína.”
A nova temporada de PSI começa, explica, com a mais trivial das paranoias, o ciúme (“todo mundo sofre desse tipo de loucura”), e termina com uma interpretação possível da paranoia como sendo o que funda a cultura ocidental. “Não apenas machista, mas profundamente misógina, construída ao redor do ódio pela mulher e pelo desejo feminino, e isso não é pouca coisa.”
A personagem moradora de rua Malu, vivida por Renata Becker, volta e ganha mais destaque na trama este ano. Liliana De Castro, Marcelo Airoldi, Paula Picarelli e Karen Menatti também estão no elenco.
Emílio de Mello conta que desde o início sentiu grande identificação com o jeito do personagem, mas que ele cresceu ao longo dos anos com seu trabalho junto aos escritores e diretores.
Sobre a paranoia geral, ele vê uma necessidade de reação. “Ser artista hoje no Rio de Janeiro é um motivo para ser paranoico. Os governantes nos demonizam e a impressão que tenho hoje como artista é que vivo num lugar que não é meu. A nossa luta é para ocupar esse espaço, deixar a paranoia de lado. É importante que a série faça essa discussão: a de encarar a paranoia como uma realidade, sim, e não uma fantasia, mas não como a única realidade. Existem caminhos.”
O ator comenta como as situações de paranoia, na série, se equilibram entre o humor e a tragédia – nos dois primeiros episódios da temporada, cenas que provocam risos nervosos pipocam no enredo tenso de thriller. “Quando se olha de perto a solidão de alguns personagens após uma situação cômica, gera uma sensação estranha. É engraçado, e muito triste. Esse binômio é um ótimo tempero para a temporada.” A produção refinada de PSI, situada na cidade de São Paulo, é da HBO Latin America Originals e da O2 filmes.
A série é considerada a melhor de todos os tempos por muita gente, e boa parte dela se desenvolve no escritório da Dra. Melfi, vivida por Lorraine Bracco.
Série da HBO foi ao ar entre 2008 e 2010 e conta a história do Dr. Paul Weston (interpretado por Gabriel Byrne, de ‘Hereditário’).
Produção do GNT criada por Selton Mello terá sua quarta temporada no segundo semestre.
Clássico da TV americana, a sitcom conta a história do psiquiatra freudiano Dr. Frasier Crane (Kelsey Grammer) e ganhou 37 prêmios Emmy nas 11 temporadas entre 1993 e 2004.
Produção da BBC de 2005, a comédia é criada e estrelada por Paul Whitehouse, que faz os pacientes, e Chris Langham, que vive o analista.
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