'Nem todo mundo é gênio. Eu não sou'

Miele admite que foi uma estupidez ter saído da Globo, mas diz que quer voltar à mídia

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Por Etienne Jacintho
Atualização:

Para alguns, Miele dispensa apresentações, mas para os mais novos, o veterano da televisão é um desconhecido. Ele participou do nascimento da TV no Brasil e trabalhou na Tupi, na Excelsior, na Record, na Manchete, no SBT... Foi uma época de ouro para Miele, mas ele confessa que fez escolhas ruins. Agora, o showman quer voltar aos tempos áureos, mas a TV não lhe oferece espaço. A única emissora que aceitou o veterano foi a HBO e Miele volta à telinha para a segunda parte da primeira temporada de Mandrake, série feita pela Conspiração Filmes e HBO, que estreiou domingo, 18, às 22 horas. O Estado conversou com Miele e constatou que ele é um verdadeiro showman. Quando há platéia, ele faz rir, conta piadas, fala bobagens... Mas, se não há público, Miele é reservado, sério e um tanto nostálgico. Qual é a grande diferença entre o início da TV e os dias de hoje? Trabalhei na TV desde o começo, na Tupi, lá no gigante da Sumaré, onde hoje é a MTV. A TV naquela época era feita por pessoas que vieram do rádio e não existia escola nem profissionais de TV. Fomos nos formando com o nosso próprio aprendizado. Uma coisa engraçada na produção hoje é que há uma grande expansão feminina... É curioso. Os diretores preferem as mulheres. E você não tem uma teoria sobre isso? Não, não tenho, prefiro olhá-las e apreciá-las (risos)! O que deu errado no seu relacionamento com a TV? Quando a Globo atingiu um estado em que podia tudo na produção, fui para a Manchete. Fui completamente idiota e comi o pão que o diabo amassou. Na Manchete não podia nada. Não tinha audiência nem know-how nem dinheiro. Foi um suicídio, mas aí entra a vaidade do artista. Fazia pouca coisa na Globo e tinha de esperar meu momento, mas na Manchete eu teria um programa meu. No fim, fiz uma carreira diversificada. Mas isso é bom... Tem um lado que ajuda e outro que atrapalha. Você fica mais solicitado e pode fazer mais coisas. Na idade em que estou, isso é bom, mas você deixa de se aprofundar. Nem todo mundo é gênio. Eu, por exemplo, não sou. Essa diversidade deu a você o título de showman. É mais só agora que estou com a possibilidade de fazer um espetáculo pretensioso porque não tenho nada a perder. Nesse show, canto, danço, converso com pessoas no vídeo, que é algo que domino - e aí vem a experiência. Vou cantar com Toquinho, com Paulinho da Viola. Para você, o que Mandrake representa? Nem sei por que me chamaram para fazer Mandrake, mas, para mim, principalmente - já que fiquei longe de TV -, o mais importante é ter contato com os diretores novos e vê-los dominar tudo isso. Trabalhei com seis diretores e foi algo gratificante e tranqüilo. Não sou um ator de carreira e não podia me arriscar a representar, mas acho que imito um ator. Sou rato de cinema desde pequeno. O que você achou de seu personagem em Mandrake? Fiquei triste de ler a indicação do personagem: "Judeu de 70 anos". Pensei: "Putz, como estou velho". Percebi que estava velho quando o SBT fez uma paródia de Romeu e Julieta e fui chamado para fazer o pai da Hebe Camargo (risos)! Por que você está longe da TV? Não entendo muito bem isso... Sou péssimo comerciante de mim mesmo. Pedi demissão três vezes da Globo, o que foi uma estupidez. Não sei se acham que minha fase já passou. Todo artista se acha injustiçado, mas a vida é essa. Não adianta se chatear e sim lutar para voltar à mídia. Isso é o que vou fazer. Causos de Miele Mandrake: "A produção de Mandrake é exaustiva, começava a gravar cedo e tinha de estar pronto às 6 horas, para gravar. Às 5h30 a produção ligava: "Já acordou? O carro passa aí às 6." Aí chegava 6h10 e a produção ligava: "Onde você está?" Um dia respondi: "Estou no carro, sentado do lado do volante." TV Manchete: "A Manchete perguntou: ? O que você quer fazer?? E aí eu mesmo sugeri; eu mesmo fiz; eu mesmo não dei audiência; e eu mesmo me demiti." Coquetel e SBT: "A idéia foi do Silvio. Existe esse programa na Alemanha, o Tutti-Frutti - e tinha aquela música Tutti-Fruti, Tutti-Fruti... O Silvio me chamou. Estava fora da TV, como estou agora, querendo voltar. Pensei: 'Pego essa nudez e faço uma Playboy, ou seja, depois do strip-tease, boto conto do Millôr Fernandes, faço coluna de jazz... Comecei a dar palpites, mas o Silvio me disse: 'Você não entende nada de SBT. Te chamei para fazer o programa que eu trouxe. Não quero o seu.'"

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