'Narcos' concorre em duas categorias no Globo de Ouro

Premiação que acontece neste domingo, 10, testa o grau de entendimento do mundo pelo personagem Pablo Escobar

PUBLICIDADE

Foto do author Julio Maria
Por Julio Maria
Atualização:

Atualizado às 19h50 A simples indicação de Narcos em duas categorias do Globo de Ouro, a de melhor série e a de melhor ator para Wagner Moura, responde questões colocadas desde que o produção foi ao ar, em abril de 2015. Afinal, o quanto o sotaque escorregadio de Wagner realmente importava na recriação do colombiano Pablo Escobar, o maior traficante da história? E qual a atual relevância das produções realizadas pelos sistemas de streaming, como Netflix, Amazon e YouTube.  Se vencer seus concorrentes na noite de hoje, quando será realizada a 73ª edição, em Los Angeles (exibida a partir das 23h pelo canal pago TNT), os detratores sumirão. Wagner tem a seu favor o arrebatamento de boa parte dos críticos internacionais e vive uma popularidade crescente nos Estados Unidos. O Globo de Ouro tem a força dos críticos integrantes da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, o que comprova a boa vontade com Wagner. Mas a parada é dura. A seu lado, estarão na mesma categoria ‘melhor série de drama’ Empire, Game of Thrones, Mr. Robot e Outlander. Assim, uma vitória consagraria Wagner, o diretor José Padilha e o modelo considerado libertário pelos autores. “Cada vez mais, a Netflix e os outros sistemas de streaming, como Amazon e YouTube, vão ocupar espaço no mercado audiovisual. Isto é inevitável, tanto na distribuição como na produção de conteúdo internacional. O próximo passo será a produção de conteúdo local, séries feitas em países que não os EUA, para competir com a mídia local. O audiovisual no mundo vai mudar, e no Brasil também”, acredita Padilha. E qual mudança de comportamento fica mais evidente com a mudança do eixo? “Como a receita do streaming é de assinatura, há muito menos ingerência na criação dos programas. Mais coragem, menos referência ao ‘ibope’... Melhora a vida dos autores”. Com oito indicações, o streaming acumula oito indicações, mais do que qualquer emissora concorrente.

Wagner Moura, que teve o sotaque criticado no Brasil, foi abraçado pela imprensa estrangeira Foto: Divulgação

Ao tornar-se monarca de um império erguido com toneladas de cocaína, Pablo Escobar não apenas centralizou em Medellín os maiores negócios do narcotráfico nos anos 80 – polarizado logo com o rival Cartel de Cali – como também midiatizou seu crime. Afinal, quem era aquele homem capaz de construir casas aos pobres ao mesmo tempo em que mandava derrubar aviões? Que criava os filhos com amor ao mesmo tempo em que sequestrava impiedosamente pais e mães de família para atingir seus inimigos? Quem foi o homem com força para negociar a própria prisão com o governo de seu país, definindo como seria cada cômodo de seu luxuoso retiro para receber músicos, mulheres de programa e familiares? Ao realizar-se na ficção, Pablo Escobar roteirizou um filme muito antes que José Padilha chegasse com sua equipe. Ao contrário do que houve com os dois Tropa de Elite, da mesma dupla Padilha-Moura, o mundo consegue entender a trama de Narcos com facilidade. Tropa 1 venceu o Urso de Ouro em Berlim, em 2008, mas parou na incompreensão geral dos que não falam português de uma teia acéfala, sem líderes, na qual o mal causado por um mesmo vírus corrói do guarda de trânsito ao governador do Estado. O mesmo acontece na Colômbia mas, por lá, Pablo Escobar facilitou bem as coisas para os policiais torturadores do Estado, os guerrilheiros do M-19, as milícias assassinas e as práticas do DEA, a agência antidrogas dos Estados Unidos. Vaidoso, Escobar assumiu a cena e pagou a conta. “Tropa de Elite fala sobre a situação específica das drogas e da polícia no Rio de Janeiro”, diz Padilha. “Lida com a teia de relações sociais que definem como a polícia e o tráfico interagem com os usuários e a política no Brasil, e questiona as posições éticas de cada um dos grupos sociais envolvidos neste processo. Não é, de fato, fácil para estrangeiros entender... Foi um filme feito para o Brasil.”  E qual seria a diferença de Pablo dos chefões das drogas no Brasil? Fernandinho Beira Mar ou outro capo não concentraria o mesmo poder cinematográfico? “Pablo Escobar estava diretamente ligado à distribuição de drogas no mercado norte-americano. Os traficantes brasileiros são pequenos distribuidores dos grandes traficantes internacionais”, diz Padilha. Com ou sem estatueta na noite de hoje, é certo que Narcos 2, sobre o qual o diretor não diz nada, está sendo programada para este ano. E há outro projeto, também escondido nos três pontos finais do diretor: “Estou considerando uma série da Netflix específica para o Brasil, em português. De grande alcance popular e com liberdade criativa. Se rolar, vai ser bacana...”

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.