'Nada Será Como Antes' conta sobre os primórdios da televisão brasileira

De época, a série mostra os dramas e os romances nos bastidores da TV

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Por Adriana Del Ré
Atualização:

Em 1950, era inaugurada a televisão no Brasil. A primeira transmissão foi realizada em caráter definitivo pela TV Tupi, que pertencia aos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, em 18 de setembro. O feito histórico deflagrava uma revolução sem volta nos meios de comunicação. O próprio Brasil passaria dali para frente por transformações. A nova série da Globo, Nada Será Como Antes, que estreia no dia 27, joga luz justamente sobre os pioneiros da TV brasileira. Criada por Guel Arraes e Jorge Furtado, é escrita por Guel, Furtado e João Falcão e tem direção-geral e artística de José Luiz Villamarim.

Mas, logo que pensaram em recontar sobre os primórdios da TV no País, Guel e Furtado descartaram uma série documental, com personagens reais. Preferiram a liberdade da ficção, só que escorados pelos acontecimentos históricos. “Achamos mais importante pegar a essência da nossa experiência. Há desde fatos históricos, cenas inspiradas em coisas que a gente leu que aconteceram realmente, até coisas que a gente viveu, porque também fazemos parte dessa história”, diz Guel ao Estado. E a trajetória conturbada do casal central, formado pelo dono de TV Saulo (Murilo Benício) e pela atriz Verônica (Débora Falabella), dá o tom do drama romântico tão almejado pelos autores. 

Casal de protagonistas. Saulo, o visionário, e Verônica, a estrela Foto: ESTEVAM AVELLAR|DIVULGAÇÃO

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Em Nada Será Como Antes, Verônica, personagem de Débora Falabella, é uma estrela das radionovelas. São dela os papéis das heroínas, das mocinhas. Com a chegada da TV, a atriz, assim como tantos outros profissionais que atuam nas rádios, migra para a telinha. É um caminho natural. A bela Verônica consegue fazer a transição sem perder seu status. No entanto, chega um momento em que surge a jovem Beatriz, aspirante a atriz interpretada por Bruna Marquezine, e o papel da mocinha parece cair melhor para ela. 

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Dono da TV Guanabara, Saulo, papel de Murilo Benício, tem de falar para Verônica, sua estrela, e também sua mulher, que ela não ficará mais com aquele personagem. “A crise do casal ocorre também a partir disso”, afirma Jorge Furtado. A vida pessoal da atriz acaba interferindo em sua carreira. “Outra coisa que a gente coloca é um personagem negro, que, no rádio, fazia todos os papéis e, na TV, ele não podia fazer um conde russo. Também tem isso: as novelas e os programas eram uma dramaturgia europeia, importada, então ele não podia mais fazer esses papéis”, completa ele. O relacionamento de Verônica e Saulo vem antes mesmo do sucesso profissional de ambos – remete aos anos 1940, quando ela era ainda locutora numa estação de rádio no interior e ele, um vendedor de aparelhos de rádio.

Há ainda outra figura importante nesse nascedouro da TV: a do anunciante, encarnado por Pompeu (Osmar Prado), empresário influente. “O patrocinador era um cara que até poderia interferir na escalação de uma novela”, conta João Falcão. Vale aqui um parênteses: Pompeu é pai de Otaviano (Daniel de Oliveira) e de Julia (Letícia Colin), e os dois irmãos acabam formando um triângulo amoroso com Beatriz – que namora o rapaz e tem um affaire com a moça. 

Hollywood. Enveredar-se por esse universo era um desejo antigo de Guel Arraes e Jorge Furtado. “A gente queria fazer uma história que fosse ambientada no momento do surgimento da televisão, as primeiras telenovelas, os primeiros comerciais. A gente achava que era um ambiente muito rico”, diz Furtado. “Fazendo a pesquisa, é muito curioso ver que as pessoas não tinham ideia do poder da TV. Ela estava começando e muita gente falava que a TV ia ser um rádio com imagem, até porque, naquele momento, o rádio era uma grande paixão nacional que estava se modernizando e sendo transistorizado.”  Para Guel, a televisão é como se fosse a “nossa Hollywood”. “A gente gosta muito de ver filmes de Hollywood falando de Hollywood.

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Rivais. A novata Beatriz (Bruna Marquezine) ameaça o reinado da experiente Verônica (Débora Falabella) Foto: ESTEVAM AVELLAR|DIVULGAÇÃO

Talvez 20 anos depois de ter começado, Hollywood já estava contando sua história. Temos 60 anos de TV e acho que nunca tivemos uma ficção mais consistente sobre seus primórdios”, avalia ele. “E é curioso, porque, de uma certa maneira, a TV é a nossa Hollywood, a influência da TV no Brasil é gigante. Quando começa a estudar sobre TV, você passa a ver que ela é um pouco um símbolo dessa entrada do Brasil na contemporaneidade”, continua Guel.

O processo de pesquisa ficou por conta dos próprios Guel e Furtado – que colecionam trabalhos em parceria há 26 anos, como Cidade dos Homens, Ó Pai Ó, entre outros. No entanto, depois que o roteiro ficou pronto, a dupla de criadores sentiu que a parte romântica da trama não estava a contento. Foi então que João Falcão, com habilidade apurada para construir relações afetivas nas tramas, foi convidado para o projeto. “O João entrou para trabalhar no enredo romântico, a gente reescreveu tudo de novo, pensando na relação amorosa dos personagens”, afirma Furtado. 

E João Falcão ajudou a dar o tom de telenovela, de folhetim à série. “Acho que minha colaboração entra mais no drama: tornar ela mais heroína, ele mais heroico. Tenho ligação histórica com novelas, sobretudo as antigas. Sabia todos os requisitos de uma mocinha de novela, de um galã. E a série tem muito disso”, conta Falcão. De época, Nada Será Como Antes tem 12 episódios e será exibida às terças, logo após a trama contemporânea da novela Velho Chico – dois universos bem distintos que poderão ser vistos na sequência.