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Na despedida da MTV, VJs brincam diante das câmeras e levam objetos para casa

Na última transmissão ao vivo da emissora na rede aberta, ex-diretores, cinegrafistas e produtores voltaram à emissora para ajudar no último programa ao vivo

Por João Fernando
Atualização:

“Eu achava incrível colocar uma TV no ar. Nunca imaginei que fosse encerrar”, disse Astrid Fontenelle, primeira apresentadora a dar as caras no canal, em outubro de 1990. “Não é tristeza, é um sentimento de felicidade com gratidão. Isso é uma celebração”, definiu Sarah Oliveira, que deixou a emissora em 2006, depois de gravar sua derradeira entrada ao vivo.

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Em clima anárquico típico da MTV, apresentadores da nova leva interagiam com seus antecessores em flashes ao vivo desde o térreo até o nono andar. “A gente até tem roteiro, mas ao vivo é assim”, contou Pathy de Jesus, com passagens por novelas na Globo e SBT. “Passei por várias casas, mas aqui é outro clima. É um amor mesmo, sem demagogia. Parece que a MTV é uma pessoa. Um pedaço de mim fica nesse prédio.”

Um dos pontos de mais movimento era o quinto andar, onde funcionava a produção. “Funcionários antigos para a Real, por favor. O prédio está muito cheio”, pedia Zico Goes, diretor de programação, que ajudava a coordenar a transmissão. Real é o nome da lanchonete ao lado da emissora, chamado de padaria pelos frequentadores.

Ex-diretores, cinegrafistas e produtores voltaram à emissora para ajudar no último programa ao vivo, com cerca de seis horas de duração e shows de Marcelo D2, Guilherme Arantes e Vanguart. Em seus textos, os VJs ironizavam a nova fase do canal, que a partir de terça-feira volta ao controle da Viacom, proprietária da marca, e passa a ir ao ar na TV por assinatura, com apenas uma hora e meia de conteúdo nacional. Até segunda, serão exibidas reprises e programas já gravados.

“Hoje, a MTV passa por um tratamento de choque para se adequar ao american way”, declarou Luiz Thunderbird. Bento Ribeiro, que comandou o derradeiro Furo, também alfinetou. “Não é o dia em que a MTV acaba. É só o dia que perde total relevância no cenário da televisão.” Vestido de pastor, em referência ao interesse de evangélicos em comprar o sinal aberto do canal, Daniel Furlan brincou. “Sou o novo dono dessa TV. Vamos explodir esse prédio que, durante anos, foi ocupado pelo consumo de álcool e é vítima da Lady Gaga e Restart, que o amaldiçoaram.”

No estúdio A, onde fica o conhecido fundo de chroma key, em que VJs chamavam clipes em cenários psicodélicos, apresentadores de diferentes gerações recebiam instruções para anunciar os novos vídeos e se abraçar nos reencontros. “Vamos saudar o reverendo”, convocou Edgard Piccoli ao ver o colega Fábio Massari, que ganhou o apelido na casa. E todos se curvaram diante do VJ.

Quando não estavam postando fotos do grupo nas redes sociais, os apresentadores conversavam sobre quais lembranças da emissora queriam levar para casa. Tanto VJs quanto ex-funcionários arrancaram placas que identificavam os andares e departamentos. Dani Calabresa carregava orgulhosa um dos pedaços de plástico. Alguns levavam copos com o logotipo da MTV e fotos antigas, penduradas em varais espalhados pelo prédio.

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“Vou pegar”, disse Marina Person ao saber que havia imagens suas. A VJ, que chorou ao final da transmissão, afirmou ter se espantado com as próprias reações. “Não pensei que fosse ficar triste, já que estou há dois anos e meio fora daqui. Mas a MTV nunca foi de se lamentar. Foram anos de trabalho coerente, sempre com ousadia. É o fim de um ciclo, uma obra fechada."

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