Após atrações caras, que chegaram a custar cerca de R$ 800 mil por capítulo, como o caso de José do Egito, exibida ao longo de 2013, a Record viu que era a hora de enxugar as contas da casa. Sem ajuda divina para rodar a nova série bíblica, a emissora recorreu a uma produtora, a Academia de Filmes, para reduzir os custos e dar início a Milagres de Jesus, com estreia prevista para 22 de janeiro.
O atores dizem que a dinâmica do trabalho fora do canal pouco mudou. “A maneira de conduzir o trabalho talvez seja um pouco diferente, já que a equipe está familiarizada com a linguagem do cinema, e o trabalho foi feito assim, no ritmo e com o perfeccionismo que essa estética privilegia”, avalia Roberta Gualda, que protagoniza o episódio A Mulher Encurvada.
Diferentemente de José do Egito, em que o elenco gravou fora do País e a equipe técnica foi ao Oriente Médio para filmar imagens de passagem de tempo, Milagres de Jesus teve as cenas rodadas no Paraná e no Piauí, além do Rio. Mesmo com a redução de custos, haverá efeitos de computação gráfica para tramas como A Pesca Maravilhosa, em que Cristo multiplica os peixes do rio e o pescador Simão (Caio Junqueira) passa a se chamar Pedro e se torna um discípulo, personagem presente em toda a série.
Apesar de a série girar em torno da figura de Cristo, ele só aparecerá de costas. A participação do protagonista está restrita às cenas em que realiza o milagre. A maioria dos capítulos, cujo número ainda não foi definido pela Record, trata de doentes graves ou pessoas com problemas com a família.
A história de Miriam (Roberta Gualda) é sobre uma mulher que, além de ter de se prostituir, vai ficando curvada por causa do trabalho braçal feito na juventude. A atriz passou os dias de gravação andando torta. “Mas nada que um banho quente e uma boa noite de sono não resolvessem”, garante ela, que só voltou a ficar ereta quando a personagem encontra Jesus.
No episódio O Endemoniado de Gerasa, Quenate (Claudio Gabriel) é um homem pacato que gosta de beber muito e começa a agir de acordo com orientações de espíritos malignos que vê. O ator garante que a trama abordada não vai parecer caricata na tela. “Acredito que esses doentes eram considerados loucos, sem nenhum diagnóstico. Ou, ainda, tidos como criaturas endemoniadas e banidos do convívio social. Ainda hoje, em muitos casos acontece o mesmo. Considerei esse personagem um esquizofrênico. Ele ouve vozes, tem alucinações, sofre muito e luta para sair deste quadro.”
Em outro caso, como o de A Cura do Servo do Centurião, a história aborda a questão de mudança na fé, com a chegada do messias. Nele, o centurião Fídeas, interpretado por João Vitti passar por apuros por perceber que não segue mais as crenças de Roma e sente-se culpado por oprimir os hebreus na região da Palestina no momento em que seu servo fica paralítico.
Mesmo já tendo dado expediente em outras produções bíblicas da Record, como Sansão e Dalila e Rei Davi, o ator afirma ter ficado mais sensibilizado com o novo trabalho, que traz um trecho menos conhecido do livro sagrado. “Na adolescência, estudei em colégio de padres, portanto, era comum o meu contato com passagens da Bíblia, sobretudo o novo testamento e a trajetória de Jesus. Ao ler o roteiro do meu episódio, reconheci uma frase que havia no missal. Curiosamente, essa frase está na boca do meu personagem”, relembra Vitti.