‘Mayans M.C.’ faz o produtor de 'Sons of Anarchy' voltar ao mundo das motos

Derivada de ‘Sons of Anarchy’, nova série tem 2ª temporada já confirmada

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Por Mariane Morisawa
Atualização:

LOS ANGELES — Quatro anos depois do fim do sucesso Sons of Anarchy, o produtor Kurt Sutter volta ao universo das motocicletas com Mayans M.C., cujos dez primeiros episódios estão no ar na FOX Premium 2 (sextas, 23h) e no app da FOX – a segunda temporada já foi confirmada. O spin-off tem algumas diferenças importantes: em vez de se passar na fictícia Charming, no centro da Califórnia, a história acontece quatro anos depois da morte de Jax (Charlie Hunnam), o protagonista de SOA, na região da fronteira entre os Estados Unidos e o México, na fictícia Santo Padre. 

Em vez de homens e mulheres loiros e brancos, aqui praticamente todos são latinos. O personagem principal é EZ, apelido de Ezekiel Reyes (JD Pardo), um rapaz que parecia ter um futuro brilhante, mas acabou na cadeia, onde ficou detido por dois anos, e agora tenta reconstruir a vida com ajuda de seu pai Felipe (Edward James Olmos) e seu irmão Angel (Clayton Cardenas), membro do clube Mayans M.C., liderado por Obispo (Michael Irby). Os integrantes do clube estão envolvidos em atividades ilegais, como tráfico de drogas, venda de armas e prostituição. 

Ezekiel Reyes. Vivido por JD Pardo, EZ parecia ter um futuro brilhante, mas foi preso e ao sair quer entrar para os Mayans Foto: FX

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EZ é o aprendiz do grupo, que tenta provar seu valor e navegar entre interesses divergentes e dramas pessoais no relacionamento com o irmão, o pai e a ex. “Sempre tive a ideia de expandir o universo”, disse Sutter em entrevista, em Los Angeles. Mas ele queria dar um tempo depois do fim de Sons of Anarchy, sucesso do FX com sete temporadas. O fracasso de The Bastard Executioner (2015) acabou apressando os planos. 

Com um elenco formado por atores com sobrenomes como Pardo, Cardenas, Cabral, Jaramillo, Pino, Olmos, Mayans M.C. faz muito para aumentar a representatividade dos hispânicos na televisão americana – eles são 58 milhões de pessoas, cerca de 18% da população, mas têm apenas 6% dos papéis com falas em Hollywood. Entre esses personagens, muitos são traficantes e criminosos em geral, e Mayans M.C. não foge à regra. 

O clube de motociclistas que já foram tanto rivais como aliados do grupo Sons of Anarchy faz serviços para um cartel chefiado por Miguel Galindo (Danny Pino), hoje marido da ex de EZ, Emily (Sarah Bolger). Mas Elgin James, que Kurt Sutter escolheu para ser seu parceiro nos roteiros da série, tem sua própria visão sobre o tema. “É algo em que pensei muito, porque eu cresci no mundo das gangues e da violência e dizia que era algo que jamais faria como artista. Mas aí percebi que é exatamente o que tenho de fazer como artista, em vez de fingir que não existe”, disse. “Ao longo da vida, vi muitos personagens negros e marrons mostrados como criminosos unidimensionais. E temos muita gente na frente e atrás das câmeras dessa série que realmente cresceu no círculo vicioso de pobreza, violência e encarceramento. Então é a primeira vez que podemos contar nossas histórias de dentro e colocar uma face humana nessas pessoas.” 

James afirmou que jamais poderia escrever um The Cosby Show latino – a série estrelada por Bill Cosby fez história por mostrar uma família negra comum, de classe média. 

“Eu não sei o que é crescer numa família comum, que dá suporte a você. Mas eu sei que tenho histórias a contar. Não quero saber se pessoas de bem vão fica preocupadas com a violência ou como os latinos são representados. Porque eu não faço arte para a sociedade, mas para aqueles que a sociedade rejeita”, confessou.

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A violência, por mais explícita que seja, costuma ter consequências no mundo de Mayans M.C. E não existe no vácuo. “Os traumas são passados pelo DNA. O que seus bisavós sofreram de alguma maneira continua em você”, explicou Elgin James. A série também mostra como o ambiente produz indivíduos violentos. Mesmo quem tinha perspectiva, como EZ, aluno brilhante, com memória fotográfica, atleta dos bons, carismático, vê seu futuro desmoronar em questão de dias. E mostra que, para alguns, o sonho americano é impossível de alcançar. 

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