PUBLICIDADE

Marta? Que Marta?

Ninguém odeia mais a vilã de Páginas da Vida. Todos querem consolar[br]Catarina, de A Favorita

Por Keila Jimenez
Atualização:

Ao ver a pobre Catarina pela primeira vez no ar em A Favorita, da Globo, houve quem pensasse: "A hora da vingança chegou, ela vai pagar por todos os pecados da cruel Marta, de Páginas da Vida." Não, não vai. Catarina tem um sofrimento só dela e uma intérprete talentosa, Lília Cabral, capaz de nos fazer esquecer as maldades da última vilã vivida por ela já na primeira lágrima. Tamanho antagonismo assustou até a atriz, que não sabia o que esperar agora do público nas ruas. Simples: quem antes queria bater em Marta, agora quer abraçar Catarina e livrá-la de um marido abominável e agressor. Está todo mundo sofrendo muito com a Catarina... Nossa. Quando vi a sinopse não tinha muito idéia do que seria. Bom (risos), sinopse a gente nunca lê (risos). Mas no encontro com o João (Emanuel Carneiro, autor de ?A Favorita?) conversamos sobre essa mulher completamente submissa ao marido, e ele achava que teria muito caldo, que as mulheres iriam se enxergar nela. Mas uma coisa me preocupou muito. Pensei: ?Será que vou ficar 180 capítulos muda, sofrendo, e só no final vou virar o jogo?? Mas não, o autor tem essa coisa de bom, ele não aquece a história, vai adiante, a novela dele é um trem. O João vai logo até as últimas conseqüências em um personagem, e eu tenho que fazer essa mulher até as últimas conseqüências. Ela é o contrário da Marta, de Páginas da Vida... Totalmente o oposto, e confesso que fiquei com muito medo disso. Mas fui pela simplicidade da Catarina para compô-la, não fui me apoiando em nada. A roupa simples, cabelo simples, só a meinha que fiz questão de colocar... Meia? Porque ela é paulista, e paulista põe meia no pé quando tá com frio, põe o chinelinho e põe a meia... (risos) É mais desgastante fazer a Catarina? Bem mais que a Marta. Eu me divertia com aquelas palavras da Marta (risos). Mas veja, não sou uma pessoa má, não gosto de fazer ninguém sofrer. Mas adorava trabalhar com aquelas palavras que doem no fundo da alma, falar aquelas coisas horríveis para o marido ... (risos) Com a Catarina não, ela é humilhada o tempo inteiro, então eu sofro muito mais e tenho que estar aberta a esse sofrimento. O que eu não imaginava era como seria a resposta do público. Mas a maioria, quando fala da Catarina, se refere ao marido abominável dela. Poucas pessoas dizem que têm ódio do comportamento dela, de ver essa mulher não fazer nada. O que é muito estranho, porque esse ódio vem de gente que tem uma família bacana. O problema é que esse tipo de aceitação demonstra que existem muitas Catarinas por aí. Você pode não apanhar, mas pode passar 20 anos ao lado de uma pessoa que coloca toda a frustração em cima de você. É uma identificação ruim. Você leva personagem para casa? Não. Respeito meus colegas no set, nos ensaios, nas gravações, mas não tenho esse perfil de: ?Silêncio, estou me concentrando.? O personagem termina onde começou, na cena. Não sou de me martirizar por ele, nem antes nem depois. A Catarina ainda vai sofrer muito na novela? Muito, mas não a novela inteira. A partir do capítulo 60 começa uma outra história da Catarina, quando entra a Paula (Burlamaqui), que não tem nada a ver com lesbianismo. Mas ela não ia ter um romance com outra mulher ? Não sei de onde surgiu isso. A personagem da Paula tem uma história triste como a da Catarina. É uma relação de solidariedade e amizade a das duas.E como transformar a Catarina em lésbica vindo de um casamento que não deu certo? Não tem cabimento isso. Seria uma bandeira equivocada. A cena de agressão (Catarina apanhou do marido Léo (Jackson Antunes) foi complicada ? Foi, mas não como a cena em que fiz com o (Paulo) Caruso em Páginas da Vida, em que me machuquei de verdade. Todo mundo me protegeu, colocaram tudo falso, os pratos, os copos, os garfos, mas esqueceram de um tampo de mármore. Eu bati com meu maxilar nele e fiquei um mês toda roxa. Só aparecia de um lado na novela, ninguém via. Dessa vez, na Catarina, eu não me machuquei, mas, mesmo assim, levei duas horas para ficar pronta. Quando você sai de uma cena dessas sua pilha já era? Eu só penso em um gigante milk-shake de chocolate. Fica como um mantra na minha cabeça, só ele me salva. (risos).

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.