Nada daqueles zumbis preguiçosos que caminham na maratona cansativa The Walking Dead. A série Kingdom, disponível na Netflix, chega com seis episódios que aceleram o mundo desse gênero de um jeito capaz até de renovar a cara feia dos mortos-vivos.
O estilo sul-coreano de representar zumbis não segue a linha dos caminhantes de muitas produções norte-americanas, que tomam as cidades à procura de carne fresca, sem tanta pressa. Um exemplo é Train to Busan (2016), filme eletrizante que retrata o surgimento de epidemia zumbi transportada nos trilhos de uma composição que sai de Seul para a segunda cidade mais populosa da Coreia do Sul. Aqui, eles correm tanto quanto um trem-bala, pulam e se aglomeram, o que lembra muito World War Z, com zumbis empilhados em formações monumentais.
Em Kingdom, os seis episódios dão a sensação de um grande longa, feito para assistir em maratona. A produção mergulha em um cenário turbulento, a Dinastia Joseon (1392-1897), quando diversos clãs negociavam forças e alianças para garantir a existência e, quem sabe, a tomada do poder.
No centro da trama, surge o boato de que o rei está morto. E, todas as manhãs, o corpo de uma jovem é retirado de seu quarto. A rainha, que está grávida, nega e diz que o governante está com varíola e não pode ser visitado por ninguém, inclusive pelo o príncipe herdeiro.
Ameaçado de traição, o filho do rei foge à procura do paradeiro do último médico que cuidou de seu pai. E é em uma cidade pobre do reino que acontece a primeira epidemia.
Um detalhe é que os mortos-vivos da série se comportam em ciclos. Durante a noite, eles caçam e, quando o sol nasce, todos se escondem em buracos em um estado de dormência. Ao fim dos últimos raios do sol, a matança começa novamente.
Com uma combinação singular, a série constrói uma narrativa de conspiração pelo poder, com cenas no interior de construções milenares, demonstrando os rituais mas também o abismo da desigualdade entre o luxo dos Joseon e a miséria do povo, expressos na variedade de figurinos, mantos coloridos, chapéus de diferentes formas, que representam os diferentes clãs, e classes de militares, além espadas e um tipo de arma de fogo, acionada com um pavio aceso que incendeia a pólvora.
A cada episódio, a ausência do rei em exercício desestabiliza os aliados e fortalece os interessados em tomar o reino à força. Do lado de fora, uma massa de mortos-vivos corre, faminta, e se aproxima. Há momentos de humor, para aliviar as batalha e Kingdom termina no auge da história. A boa notícia é que já foi confirmada a segunda temporada.