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João Baldasserini, o antagonista que ganha força de mocinho

Humor da novela das 7, 'Haja Coração', conspira a favor de ator em franca ascensão: 'Beto tem despertado o lado bom do João'

Por Cristina Padiglione
Atualização:
 Foto: ALEX SANTANA/DIVULGAÇÃO

Quando Beto, seu personagem nasceu, ainda na novela Sassaricando (1987), então interpretado por Marcos Frota, João Baldasserini mal falava. Apresentado ao mundo três anos antes, o ator vai ganhando torcida no papel do sujeito disposto a tomar dos braços do herói a mocinha da novela das 7. “O Beto é carismático, acho que as pessoas gostam da história dele e do fato de um cara que se acha tão seguro sair desse conforto porque está apaixonado: essa superação como homem, eu acho muito bonito”, diz o ator ao Estado sobre a empatia da plateia com sua criatura em Haja Coração, novela de Daniel Ortiz baseada em Sassaricando, de Silvio de Abreu.

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É a primeira comédia de Baldasserini na TV, mas ele avisa: “não me acho engraçado”. Está tudo no texto, não há nada a inventar. “A Marisa Orth falou: a comédia está no texto, está na direção, se a gente respeitar isso e for fiel ao que está ali, vai rolar o humor. Eu não me vejo como um cara que está numa rodinha e fica fazendo piada, sou um cara tranquilo, espontâneo, mas não concordo com essa ligação de que você faz comédia porque é engraçado.”

Nascido e criado em Indaiatuba, interior de São Paulo, Baldasserini começou a estudar teatro ainda no Ensino Médio. Depois foi cursar artes dramáticas no Conservatório Dramático e Musical de Tatuí, onde passou três anos. Mudou-se para São Paulo, juntou-se aos Satyros, da Praça Roosevelt, e, em um ano, estava na Alemanha, com a trupe de teatro. Mas sua primeira grande vitrine foi o filme Linha de Passe, de Walter Salles Jr., dono de boa trajetória em Cannes e outros festivais. A Globo farejou a fotogenia e o talento do rapaz para o ofício e o procurou para participar de sua oficina de atores no Rio. “Foi tudo muito rápido. Eu morava com outros atores, dividia casa em São Paulo com amigos, e vinha de uma escola de teatro, sabia que a carreira era difícil. Meus amigos realmente diziam que eu tinha a bunda virada para o céu”, conta, para gargalhar, satisfeito com as surpresas que a vida lhe promoveu.

Dali veio Tempos Modernos, novela dirigida por José Luiz Villamarim, sua estreia na Globo. Participou de O Astro, das séries A Teia, também na Globo, e Passionais, no GNT – em par com Betty Faria, fazia uma espécie de michê, rapaz bonito que se casava com uma mulher mais velha, interessado na conta bancária dela. Ainda no GNT, participou da série Surtadas na Yoga, de Fernanda Young. E voltou a ganhar uma grande vitrine com o desequilibrado Joel, de Felizes para Sempre?, série de Fernando Meirelles para a Globo. 

Na época, o cineasta disse ao Estado, ainda no set, que Baldasserini estava pronto para sair dali direto para uma vaga de galã na novela das 9. Ainda não seria como galã – que o crime, na ficção até compensa – mas Baldasserini se prestou ao papel de comparsa que traía Atena (Giovanna Antonelli), a vigarista número 1 de A Regra do Jogo. “Felizes me deixou feliz para sempre, foi muito bom.”

E ele quase teria mesmo ido parar em outra novela das 9, não fosse o adiamento de A Lei do Amor, novela de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villares para a qual estava escalado e que acabou cedendo a vez a Velho Chico. Foi nessa brecha que o autor Daniel Ortiz e o diretor Fred Mayrink o chamaram para testar sua performance como Beto. “Fiquei receoso, no começo. Eles me perguntaram se eu já tinha feito comédia. Eu venho de uma leva de vilões, bandidos, dramas, só tinha feito comédia no teatro. Agora é que eu estou me sentindo mais dono do Beto”.

Encantado com o personagem, Baldasserini se refere a Beto como se fosse um ser real. “Ele é como um irmão pra mim, estamos sempre juntos”, fala. Arrisca dizer que “a criatura vem fazendo tão bem ao João”, que, há dois anos solteiro, ele tem sido fortemente inspirado pelo tom romântico da ficção a encontrar alguém novamente. Ponta do triângulo que veio atrapalhar o amor de Tancinha (Mariana Ximenes) e Apolo (Malvino Salvador), Beto “tem desencadeado em mim esse sentimento, de procurar uma pessoa”, fala.

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À vontade também ele está com o sotaque paulistano equivalente ao cenário da trama. O “erre” caipira de Indaiatuba e Tatuí foi neutralizado há anos, desde que se mudou para São Paulo e se empenhou em tantos exercícios de voz. Às vezes, confessa, no auge da emoção, escapa um “porrrta”, um “amorrr”. Não que a Globo o pressione a inibir o sotaque de origem. Mas, manda a cartilha da boa interpretação que um ator não fique refém de seu acento, e Baldasserini segue a regra.

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