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Investigação em era pré-CSI

FX estreia a versão americana de 'Life on Mars', com Harvey Keitel no elenco

Por Etienne Jacintho
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Nova York, anos 1970. Em uma delegacia, sem as tecnologias dos laboratórios atuais de investigação criminal, um bando de policiais aplica a lei com base na pancadaria. Nada de ternos, uniformes ou luminol, esses homens parecem mais saídos do filme Scarface ou, em momentos de descontração, dos Embalos de Sábado à Noite. Entre esses machões detetives estão os atores Michael Imperioli (Os Sopranos) e "mr." Harvey Keitel. O cenário e o forte elenco são grande trunfo na versão americana da série britânica Life on Mars, que estreia nesta quinta-feira, às 23 horas, no canal FX. O remake é tão bom quanto o original, senão melhor, e ainda tem Jason O'Mara (The Agency e In Justice) como protagonista e a bela Gretchen Mol. Quem assistiu à versão original, na HBO, sabe que a série tem um enredo bem maluco, mantido no remake. Começa nos dias atuais com uma investigação que envolve o detetive Sam Tyler (O'Mara) e sua parceira Maya Daniels (Lisa Bonet). Durante uma perseguição, Maya é pega pelo assassino e Sam, ao tentar resgatá-la, sofre um acidente de carro, ao som de Life on Mars, de David Bowie. Misteriosamente, Sam acorda nos anos 70, escutando a mesma canção do camaleão do rock. Lá, ele é aguardado na delegacia dos machões, onde há uma vaga em seu nome. Sam perdido entra na rotina da delegacia e conta com o apoio da policial Annie (Gretchen Mol) para tentar saber o que está acontecendo. As coisas ficam ainda mais bizarras, quando Sam começa a ver, por meio do televisor, pessoas, nos dias atuais, falando com ele, como se estivesse em coma. TABUS TELEVISIVOS"O conceito é fascinante", afirma Keitel. "Alguém que está perdido tentando encontrar seu caminho é mitológico. Acho que todos os personagens parecem fazer esse esforço de encontrar o caminho de casa. Quem somos? Por que estamos aqui? Para onde vamos? Isso é demais!" O ator encontrou a imprensa internacional no set de filmagem de Life on Mars, em Nova York, e disse que há um medo, claro, de se envolver em uma produção televisiva, tão diferente do universo cinematográfico. "O que me chocou foi que estava gravando, sentado no carro, com um dos meus colegas e acendi um cigarro. O diretor disse: 'Você não pode fazer isso.' Como não? 'Você não pode fumar o cigarro', ele me disse. Respondi: 'Você quer que eu acenda o cigarro, mas não posso fumar?' E ele disse: 'Sim, você não pode fumar.' Esse tipo de coisa é interessante para mim", fala o ator. "Como chegamos nesse ponto em que estamos tentando representar a vida, a cultura da época e somos proibidos de mostrar certas coisas, banais como essa?" Keitel não faz apologia ao fumo, mas defende a recriação do modo de vida nos anos 70. Em Life on Mars há cigarros em todas as cenas seja na delegacia, no bar, até na sala de autópsia, mas ninguém aparece fumando. "Todo mundo já sabe que cigarro faz mal. E Deus sabe quanta gente parou de fumar, pois agora sabemos o que o cigarro faz. Não faz sentido esconder o fato de que, em uma época, fumar era algo cultural. A rede de televisão transforma isso em tabu, enquanto as imagens de alguém atingido por uma bomba são mostradas no noticiário." Para ele, o barato de Life on Mars é ver, perceber e discutir as mudanças sociais e culturais que estão ocorrendo desde aquela época. "Veja a era Woodstock, por exemplo, o que aconteceu ali foi algo fenomenal", recorda. "Lembro-me de estar na Madison Square e ser abordado por pessoas, amigos, que tentavam me levar para suas comunidades. 'Traga sua namorada', diziam." COISAS DE MESTREEnquanto Keitel tinha seu momento nostálgico, um jornalista perguntou se os colegas de elenco pediam conselhos ao mestre. "Acho melhor perguntar a eles", respondeu. Michel Imperioli não hesitou: "Observo Keitel bem de perto (risos). Jason O'Mara, menos experiente, disse que faz perguntas ao ator todos os dias. A lição se repete na ficção, mas de uma forma mais brutal. Nos primeiros episódios, os dois protagonizam uma divertida cena de briga nos papéis do capitão e de seu detetive, que precisa aprender como as coisas funcionam na era da discoteca.

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