PUBLICIDADE

Filme 'O Menino Que Descobriu o Vento', da Netflix, é inspirado em emocionante história real

Longa traz trajetória do garoto que cria sistema para acabar com a fome em sua comunidade no Malawi, um dos países mais pobres da África, usando a força do vento

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Havia dois filmes da Netflix na seleção do Festival de Berlim, em fevereiro. O de Isabel Coixet, Elisa e Marcela, aborda o casamento gay por meio da história real de duas mulheres que desafiaram as autoridades da Galícia para ficar juntas, nas primeiras décadas do século passado. Por participar da competição, produziu polêmica. Redes alemãs chegaram a divulgar um documento exigindo a retirada do filme – “Berlim defende a tela grande, Netflix, a tela pequena”.

O outro filme passou fora de concurso, numa sessão especial, e foi acolhido com mais simpatia. O Menino Que Descobriu o Vento assinala a estreia do ator Chiwetel Ejiofor na direção. “Há tempos queria dirigir, era uma experiência pela qual sentia que teria de passar. O problema era encontrar a história certa. O livro de William Kamkwamba foi uma descoberta para mim. Como afrodescendente, sou muito sensível à herança cultural africana e aos problemas sociais e políticos que a África enfrenta”, contou Ejiofor na coletiva de seu filme.

A relação pai/filho ganha intensidade e veracidade graças às interpretações de Chiwetel Ejiofor e do garoto Maxwell Simba. Foto: Netflix Foto:

PUBLICIDADE

O Menino Que Descobriu o Vento (The Boy Who Harnessed the Wind) está disponível na plataforma de streaming. De cara, o chefe da comunidade informa que Malawi enfrentará uma dura temporada de fome. E foi o que houve, no começo dos anos 2000. Para desenvolver o plantio do fumo, florestas foram dizimadas. Como consequência, as mudanças climáticas produziram ondas de chuva e seca que arruinaram as terras aráveis para agricultura. O filme baseia-se no livro de memórias de Kamkwamba. É o filho de Ejiofor. O garoto de 14 anos quer ir à escola, mas o pai não tem recursos. William é impedido de frequentar as aulas, mas não desiste de buscar uma solução para o problema da seca.

Investiga fontes de energia. Descobre a força do vento. Tenta convencer o pai de que será possível construir cata-ventos, e com eles cavar poços e irrigar as lavouras. Para isso, precisa que o pai abra mão de sua bicicleta, o único bem da família. Ejiofor resiste quanto pode à ideia. Vê o filho sofrer com a morte, por fome, de seu cachorro. A própria família parece que vai soçobrar. Cria-se um clima de turbulência social. O governo é brutal na repressão a toda oposição, o que inclui os dirigentes da aldeia de William.

Como filme, O Menino Que Descobriu o Vento não foge a uma fórmula dramática desenvolvida com eficiência, mas sem grande brilho. O que, no limite, imprime à história sua nobreza é o elenco. A relação pai/filho ganha intensidade e veracidade graças às interpretações de Chiwetel Ejiofor e do garoto Maxwell Simba. Eles tornam reais os sentimentos conflitantes dessas duas pessoas que se amam, e buscam a melhor solução para a família e a comunidade, mas tudo os separa. A mãe, amargurada pela deserção da filha – que abandonou a família por amor –, terá de costurar a reunião entre seus homens.

“Não podia trair a África”, disse um emocionado Ejiofor. O filme tem a cara dele, um ator que sempre foi honesto e virou diretor empenhado.

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.