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Fábio Assunção se vê descoberto pela comédia

Galã das novelas da Globo e indicado ao Emmy por drama 'Dalva e Erivelto', ator está em 'Tapas e Beijos'

Por Patrícia Villalba - O Estado de S. Paulo
Atualização:

RIO DE JANEIRO -  É tradição do humor, mania com um pé no preconceito, que gente bonita não pode ser engraçada. Mas eis que Fábio Assunção, ator com bela coleção de heróis românticos de novelas, aparece agora em duas comédias ao mesmo tempo: na TV, ele é o Jorge do seriado Tapas & Beijos, que entrou para bagunçar o coreto de Sueli (Andréa Beltrão) e se fixou no elenco, com presença garantida no ano que vem; e na peça Adultérios - no teatro ele é Fred, um mendigo que mais parece o alter ego de um escritor, em texto de Woody Allen em cartaz no Frei Caneca, sob a direção de Alexandre Reinecke. “A comédia me achou, e estou nela”, reflete ele, indicado ao Emmy Internacional de melhor ator por dramalhão dos melhores - a minissérie Dalva & Herivelto, de Maria Adelaide Amaral.

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Em longa conversa com o Estado, duas sessões nos bastidores de gravação da série, o ator foi o bom entrevistado de sempre: educado, firme ao defender suas posições, apaixonado ao falar de seus projetos, divagante sem ser prolixo, positivo sem ser nada pedante. “Acho que a gente tem mais é que propagar o amor, todo mundo tem uma coisa boa”, lança, sem medo de ecos desagradáveis.

É coincidência você, que quase não faz humor, estar em duas comédias ao mesmo tempo?

Coincidência nunca nada é... Tudo tem um porquê. Eu já tinha sido convidado para essa peça um ano antes, e não poderia fazer. Mas ela atrasou, e acabou voltando pra mim. Sou convidado pra muita coisa, mas tem projeto que não me interessa ou que não afino. Mas neste caso é Woody Allen, uma peça curta (1h10) de um texto afinadíssimo. Acho que o público se sente valorizado por ver uma peça do Woody Allen.

Nós conversamos durante as filmagens de Dalva & Herivelto, e eu me lembro de que você fez um mergulho profundo na vida do Herivelto, sobre o qual falava com bastante intensidade. Agora, com a indicação ao Emmy tem revivido aqueles tempos?

Completamente. Engraçado, o Herivelto... Tenho mesmo uma relação espiritual com esse cara, não foi um personagem qualquer. Mas não esperava a indicação pelo papel. Acho que eu faço bem dramaturgia, me preparei para cantar e tocar, mas não acho que seja um trabalho assim... sabe... Mas todo mundo diz que estou maluco e que foi excelente. Não construí um mimetismo, como o Daniel Oliveira fez com o Cazuza, por exemplo. Mas consegui trazer o Herivelto para mim.

Tem expectativa para a cerimônia, mexe com sua cabeça? (Sorri) Estou bem tranquilo. Pra ser sincero, comecei a pensar nisso ontem, porque estava falando com a Adriana (Esteves, também indicada pelo papel de Dalva) sobre os nossos “adversários”. O páreo é duro. Mas independentemente de qualquer coisa, é um grande momento para o Brasil e para a televisão brasileira. Por ser indicado, a gente ganha uma medalha. Então, já estou amarradão. É bacana ter um reconhecimento internacional trabalhando aqui, na minha casa.

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E como veio a ser o Jorge do Tapas & Beijos?

O Maurício Farias me ligou, e disse que me queria no elenco fixo. Me disse “se você topar, a gente cria um personagem pra você”. Foi perfeito, porque gravamos de segunda a quinta, nunca às sextas, sábados e domingos - então todo mundo pode fazer teatro. É muito legal fazer a série. Novela são 200 capítulos, então lá pelo capítulo 30 seus amigos não fazem mais comentário nenhum. Aqui, não. Toda terça é como se fosse o melhor capítulo da novela.

E você participou da criação, já que o papel foi sob medida?

Eu me ofereci, sabe. Mas daí, a gente foi comer uma pizza, e o Cláudio (Paiva, autor) contou a trama que tinha criado - era irretocável. Acho que é perfeito ter um dono de boate na história, porque dá uma vida noturna para aquele pedaço. E o personagem é um boêmio romântico, incrível. Ele ronca, fuma, bebe. Vem aí um episódio em que o Vlad (Vladimir Brichta, o Armane) quer que o Jorge pare de fumar, me leva para correr na praia - é divertidíssimo.

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No início da carreira, chegou a manter distância da comédia?

Não... Fiz A Comédia da Vida Privada, três episódios de A Grande Família. Fiz coisas de humor, mas tem um pensamento da TV Globo de me querer mais para novela, porque estou muito mais para o herói romântico do que para o comediante, por causa da carreira que construí. Mesmo no Tapas & Beijos, meu personagem vem como um herói romântico, trago uma informação que não é 100% da comédia. Você não olha pra mim ali e fala “esse programa é comédia”. Tenho, por exemplo, que cortar meus tempos (de fala) toda hora, porque na novela o texto é mais lento, e na comédia é tudo muito mais rápido. Tudo isso é um aprendizado. São coisas assim que estou buscando agora. Comprei os direitos de uma peça chamada Sunset Limited (de Cormac McCarthy). É um texto maravilhoso de dois atores, e vou produzir e dirigir no ano que vem. São dois caras de 40/50 anos, um suicida e um religioso, num embate sobre o que pensam da vida.

E não vai atuar nela?

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Não. Mas espero ter dois excelentes atores - melhores do que eu (risos).

Você está mais ligado ao teatro do que já esteve, não?

Sim. Comecei com teatro em São Paulo, depois vim para a televisão. Nestes 20 anos, os primeiros 15 foram uma fase de construir meu nome, de criar a minha marca de interpretação. Claro que fiz isso sem pensar no que estou falando agora. Mas me deu uma consciência de que na televisão eu faço projetos de outras pessoas, sou convidado. E no teatro, tenho a possibilidade de ser mais autor, tenho poder sobre o que vou falar. Fiquei 11 anos sem fazer, não sei por quê. Mas na fase de vida em que estou, começo a plantar outras coisas. O contato que você tem com o público é na hora. E fiquei muito tempo atuando de forma fragmentada - grava, corta, muda a luz... E eu adoro não interromper, começar a peça e ir até o fim.

Hoje há o contato direto com o público também pela web. Como tem visto isso?

No Facebook? É interessante... Estou faz cinco meses e ainda descobrindo o que é, mas escrevo bastante. Mas não tenho uma postura de formador de opinião ou de ser referência. Falo o que acontece comigo, ponho foto da peça. A experiência é positiva, então. Não está se sentindo menos amado como o Chico Buarque...

É que tem uma parte que é bem chula, bem ruim. Sou muito positivo no meu Facebook. Não curto nada que possa ofender, sou contrário ao constrangimento de qualquer pessoa. Estou em outro movimento, acho que a gente tem de propagar o amor e as coisas boas. Na estreia da peça, o teatro cheio de amigos, eu saí do camarim e uma repórter perguntou: “o Gabriel Braga Nunes (o ator substituiu Fábio em Insensato Coração) está na plateia, vocês se falam?”. Eu respondi que sim. E ela insistiu “você vê a novela?”. Ela estava querendo mudar a energia da parada, botando intriga. O Dennis (Carvalho, diretor) e o Gilberto (Braga, autor) deixaram muito claro que não houve nenhuma falta de profissionalismo na minha saída da novela. Todo mundo entendeu perfeitamente a minha situação, e te falo isso com toda a verdade do mundo. Tiveram de regravar 18 cenas, não foram 20 capítulos como foi divulgado. Eu já regravei 18 cenas porque um autor resolveu mudar o cabelo! Qual era o problema, então, se era uma questão importante minha, pessoal, sobre a qual eu me posicionei com verdade? Quem se julga alguma coisa para dar opinião sobre isso? A repórter veio botar veneno e fiquei meio perplexo. Daí, apareceu um vídeo dizendo que dei “piti”. Mas eu não me importo. Quando você se posiciona publicamente, tem de lidar com forças dos dois lados.

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