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Esquisitão, estiloso e maquiavélico

Obcecado pelo poder e com um ar retrô, Albano movimenta a trama de Tempos Modernos

Por Alline Dauroiz - O Estado de S. Paulo
Atualização:

Após estrear na TV como Tony, vilão psicótico de Da Cor do Pecado (2004), Guilherme Weber não para de colecionar personagens excêntricos. Em Belíssima (2005), viveu um judeu apegado às tradições, também ex-marido manipulador. Benny, o gay ferino da minissérie Queridos Amigos (2008), Artur Xis, estilista inspirado em Denner, em Ciranda de Pedra (2008), e o Barão de Itararé, vilão tresloucado no especial O Natal do Menino Imperador (2008), somam-se à lista de tipos esquisitões desse curitibano que aos 20 anos fundou uma companhia de teatro.

 

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Agora, aos 34, Weber encarna mais um vilão, em Tempos Modernos, novela das 7 da Globo. Dessa vez, com o diferencial de ser um vilão com consciência de seu papel. "Quando uma bomba explode na cara dele, ele se preocupa de ter queimado a sobrancelha, porque vilão sem sobrancelha não é vilão (risos)."

 

Em um papo com o Estado, Weber conta como bebe na cultura pop para compor seus personagens e diz que espera ser "pé quente" para o autor estreante Bosco Brasil, assim como foi para João Emanuel Carneiro, em 2004.

 

Em geral, seus personagens na TV são excêntricos. É você quem escolhe os papéis?

 

Não. Na TV, você acaba sendo escolhido. No começo, tive de recusar papéis, por estar em temporada com a minha companhia (a Sutil Cia. de Teatro), recusas que me doeram - a (autora) Maria Adelaide Amaral me chamou para fazer A Casa das Sete Mulheres e Um Só Coração. Depois, tive a sorte de ser chamado só para ótimos papéis. Confesso que as parcerias me interessam mais do que os personagens, especialmente em TV, onde os personagens podem virar qualquer coisa.

 

O Albano é noivo da Regeane (Viviane Pasmanter) e tem uma relação picante com a Deodora (Grazi Massafera). Acha que ele chega a ser galã?

 

Não, longe disso. Meus personagens não passam por esse universo, até porque não tenho perfil para isso. São personagens de composição, doentes, complexos...

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O Tony de Da Cor do Pecado era mesmo bem maluco. O Albano tem algo de Tony?

 

Não. Claro que ambos são arquétipos de vilão, mas além de o Tony ser mais realista, toda maldade dele nascia do amor pela Bárbara (Giovanna Antonelli). Já o Albano é obcecado pelo poder. Ele deve ter sido um menino muito simples, que começou ali como office-boy, desejando o poder.

 

Na época, você disse que o Tony era meio David Bowie. O Albano lembra alguém?

 

Sempre penso em alguma coisa, quando o universo pop pode entrar em cena. O Tony tinha uma forma meio Bowie de viver, meio vampiresco. Agora, como a novela discute o controle da liberdade, lembrei do tom de espionagem de filmes ingleses da década de 70. Lembrei de um em que o Michael Caine usava óculos grandes. E o Albano ficou com esse ar meio anos 70 e cara de louco.

 

Um vilão de quadrinhos.

 

A novela tem uma narrativa com cortes de HQ, supercloses no meio das cenas. Tem um clima parecido com o das novelas dos anos 80, que eu assistia quando era garoto, meio Cassiano (Gabus Mendes).

 

Você era noveleiro?

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Tenho muitas referências das novelas das 7. Vamp, Top Model, Ti-ti-ti, Vereda Tropical, Hipertensão, Transas e Caretas... Os personagens eram fortes, mas definidos pelos ambientes. Em Transas e Caretas, havia dois irmãos. Enquanto um tinha um apartamento ultratecnológico, o outro morava num cheio de antiguidades e tocava harpa. Tempos Modernos tem isso: o Titã, que representa a cidade moderna, de poder; e a Galeria do Rock, o lugar de produção cultural, onde tribos se encontram.

 

Gosta do jeito que a cidade é retratada nas novelas?

 

Novela é um universo de fantasia. Uma figurinista disse algo que não esqueço: em novela, pobre é classe média, classe média é rico, e rico é milionário. Então, é inevitável que a cidade apareça com lente de aumento, assim como o Rio não é o das novelas.

 

Você é muito ligado ao teatro. Os mais xiitas do meio chegaram a recriminá-lo quando decidiu fazer TV?

 

Minha geração é programada para repudiar TV. Quando comecei nas novelas, senti sim uma certa patrulha intelectual. Diziam: "Que decepção! Você se vendeu." Teatro é mais pessoal, mas TV é um universo pop que cumpre papel social forte no País. Quando filmei Árido Movie, no interior de Pernambuco, às 18h, todo mundo ia para a casa ver novela. Era um momento brilhante na vida das pessoas. Até hoje, quando gravo novela, penso naquelas pessoas.

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