Enfim, um ladrão que merece aplausos

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Por Mário Viana e e-mail: mvianinha@hotmail.com
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Se tem um ator que está suando a camisa em Duas Caras, é o excelente Flávio Bauraqui. Na pele do motorista Ezequiel, o gaúcho Bauraqui mostra que bons atores valorizam seus personagens. Ezequiel poderia ser apenas o chofer particular do vilão Marconi Ferraço, mas o autor da trama criou um motorista evangélico filho da poderosa Setembrina (Chica Xavier). Ezequiel é o sincretismo religioso brasileiro posto em prática. Há méritos no texto, claro, mas muito do peso de Ezequiel vem do trabalho de Bauraqui, que defende o motorista com garra - e sem julgá-lo. Em momento algum ele passa a imagem de que esta religião é melhor que aquela, por exemplo. Seu olhar de desalento ao ver que as leituras bíblicas só faziam Zé da Feira pegar no sono eram comoventes, nem de leve tocavam o ridículo - e olhe que ele estava contracenando, por assim dizer, com Eri Johnson. O conflito de Ezequiel é íntimo, mas deverá ganhar proporções coletivas, agora que seu caminho vai se cruzar com o da justiceira-com-cara-de-coitada Maria Paula (Marjorie Estiano). Obviamente, não tenho a mais pálida idéia do que Aguinaldo Silva pretende fazer da trajetória de Ezequiel. Mas se ele aceitar sugestões, aqui vai uma: por desígnios que só novelistas conseguem, promova o embate de Ezequiel e Evilásio (Lázaro Ramos). Será a chance de o grande público ver o duelo artístico de dois dos melhores atores negros da nova geração. Não será o primeiro encontro dos dois. Em 2002, no filme Madame Satã, de Karim Ainouz, Bauraqui roubava a cena de Lázaro. Ele vivia Tabu, um travesti covarde. Na cena em que Satã voltava da cadeia, ouvia-se só a voz de Tabu, que fugira da briga. E a platéia estourava na risada, imaginando a cara-de-pau do travesti. Na TV, estreou em Paraíso Tropical, como Evaldo. Que venham outras boas performances de Bauraqui. O público merece. E já que depois de amanhã é 2008, que tal brincar de novelista? Mande por e-mail, num curto parágrafo (esse detalhe é fundamental), aquela que seria a novela ideal: a mocinha da novela X com o mocinho da novela Y, perseguidos pelo vilão da Z. E como núcleo de humor, os personagens A, B e C. Vamos tentar montar um quebra-cabeças da teledramaturgia nacional. E feliz 2008!

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