Em 'Taboo', Tom Hardy está à vontade tanto como herói quanto como vilão

Ator faz um vingador na Europa de 1814 na série criada com o diretor Ridley Scott e o pai Chris Hardy

PUBLICIDADE

Por Alexis Soloski
Atualização:

“Não me encaixo num gênero”, disse o ator. “Não é uma infantilidade, uma imaturidade, simplesmente não me encaixo”.

É fácil acreditar nele. Neste universo de estrelas, Tom tem menos probabilidade de se encaixar do que a maioria. Recentemente, no hotel Ritz-Carlton, de frente para o Central Park, os bíceps tatuados do ator mal cabiam na camiseta preta apertada e suas pernas saltavam por cima do braço da poltrona dourada em que estava sentado, enquanto tomava sopa de galinha, ou ficava com um cigarro eletrônico na boca. Sua mente rápida, contraditória, pulava de uma associação para outra a uma velocidade absurda.

“Não me encaixo num gênero”, disse o ator Foto: FX / Divulgação

PUBLICIDADE

Mais conhecido por personagens como Bane em O Cavaleiro das Trevas Ressurge, John Fitzgerald em O Regresso, Bill Sikes e Heathcliff nas adaptações para a televisão de Oliver Twist e O Morro dos Ventos Uivantes, e o papel principal em Mad Max: Estrada da Fúria, Tom tem uma frase sua para definir os vilões que poderiam ser heróis, heróis que poderiam ser vilões e vários homens mascarados.

Agora, ele está dando vida a um papel característico próprio em Taboo, uma aventura que ele criou juntamente com o produtor e diretor Ridley Scott, o roteirista Steven Knight e o seu pai, o escritor Chris Hardy (estreou no dia 10 na FX). Ele interpreta James Keziah Delaney, um homem há muito considerado morto, que regressa à Inglaterra, em 1814, vindo da África, com um saco de diamantes e o plano de se vingar da Companhia Britânica das Índias Orientais.

Tom falou sobre o que o influenciou para este trabalho; sobre sua barba; e sobre o motivo pelo qual ele não gosta de galopar. A seguir, trechos da conversa.

Você e seu pai começaram a desenvolver o tema de Taboo há nove anos?

Eu havia acabado de interpretar o papel de Bill Sikes em Oliver Twist. Pensei: seria bom que existisse um Bill Sikes que fosse bem falado. Ele, quem sabe, poderia ser como Heathcliff, ou ter um pouco de Hannibal Lecter, ou de Sherlock Holmes. Talvez até ser algo como Édipo. Ou mesmo um pouco como Jack, o Estripador. Imagine que fosse um ex-soldado que voltou e agora não pode mais se reintegrar na sociedade. E meu pai disse: “Tom, é uma carga muito grande para colocar num único personagem”, e me mandou para fora da sala. Mais ou menos um ano mais tarde, ele voltou a falar do assunto comigo com o tratamento que ele havia dado ao argumento.

Publicidade

De que maneira a Companhia das Índias Orientais se envolveu na trama?

Bom, a companhia existia há algum tempo. Nós procurávamos alguma coisa que personificasse a corporação global - alguma coisa como o J.P. Morgan, Monsanto ou o território da Monsanto. Alguns historiadores estão preocupados com a possibilidade de tentarmos denegrir uma grande instituição.

Fale sobre James Delaney.

Nossa ideia era criar uma história moderna, uma escritura nova, que parecesse ter sido extraída de um livro que não fora encontrado há 100 anos, e depois ver o que poderíamos fazer sem dragões ou computação gráfica. James Delaney é um explorador, um tipo maquiavélico. Ele poderia se adequar a toda a gama de personagens, do odioso ao nobre. Ele foi tão longe na selvageria e na barbárie que acabou saindo o contrário.

Como você se preparou para o papel?

Na realidade, eu penso a atuação em duas partes. Existe a atuação que convence e a que não convence. A atuação que convence refere-se à agitação e ao fluxo da narração do que quero e do que vou fazer para chegar lá, e a transição da energia entre dois atores ou mais. E há a camuflagem, a criação da silhueta e o disfarce, quer você use um narigão, quer seja ligeiramente sutil.

Então, o que fez em relação a Delany?

Publicidade

Nada. Passei nove anos falando a respeito dele. Talvez tenha atuado em 5% do espetáculo, na maior parte estava sempre me mexendo, trabalhando com diretores de departamento ou de marketing. Não tive tempo de representar. O chapéu ajuda e também as cicatrizes.

E seu corte de cabelo realmente horrível.

Naquela época, as pessoas usavam o cabelo cortado de determinada maneira que emulava as estátuas romanas, a época grega. Seu cabelo parece ter sido mastigado por um cavalo. Parece feio. Para mim, é um desafio.

Voce teve de aprender a andar a cavalo para Taboo?

Meu cavalo se chamava Rusty. Qualquer pessoa podia montá-lo. Ele é brilhante. Aprendi o mínimo possível. Por exemplo, não a galopar.

É mesmo? Você faz tantas acrobacias.

Quando criança, caí do cavalo.

Publicidade

Você tem muitas cenas em que está sem camisa. Foi um truque para cobrir suas tatuagens?

- Levou cerca de duas horas. Tivemos que cobrir minhas tatuagens e aplicar também as tatuagens de ashanti. Nós a chamamos a Segunda-feira Nua. Eu estava tirando a roupa no Tâmisa, caminhando pelo Tâmisa em vários parques a 50 quilômetros de Londres, reservando quantas tomadas poderíamos usar para as sequências de sonho e coisas assim. Não foi suficiente para o corte final em comparação com o frio que fazia. Janeiro em Londres era frio.

De certo modo, esta é a história de uma vingança. Você se considera uma pessoa vingativa?

Não esqueço o que acontece. Mas, na realidade, não. Felizmente, nada me aconteceu que pudesse me levar a cobrar ou a desejar uma vingança.

Você tem um rosto muito bom...

Você também. 

Bom, eu não estou sempre num filme me escondendo atrás de uma máscara ou debaixo de um chapéu.

Publicidade

Acho que quando era jovem, no início da carreira de ator, havia uma pressa para ser ou parecer de determinada maneira - boa presença, dentes bonitos, bronzeado. Esta não chegou a ser uma constante que eu consiga manter. Vacilo um pouco. Mesmo tendo uma cara boa, não posso me basear exclusivamente nisto. O meu coração não está aí. Gosto também de barba. Não que a vida toda tenha me preocupado com isto ou com tatuagens, mas até certo ponto, sim, se tenho algo que você quer, então vou acabar com isso. Ou talvez eu seja incrivelmente vulnerável, logo, se pareço assim, talvez você me deixe em paz.

TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.