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Em 'Run', romance quente e mistério para escapar da realidade

Série criada por Vicky Jones, parceira de Phoebe Waller-Bridge em ‘Fleabag’, acaba de estrear na HBO

Por Mariane Morisawa
Atualização:

Vicky Jones percebeu a ironia de lançar Run (Corra) no meio de uma pandemia que colocou todo mundo em isolamento social. Na série, que passa aos domingos, à meia-noite, na HBO, Ruby (a ótima Merritt Wever), uma dona de casa e mãe de família, recebe uma mensagem de texto: “Corra”. Quem enviou foi Billy (Domhnall Gleeson), seu namorado dos tempos de faculdade. Uns 15 anos atrás, eles firmaram um pacto. Se um deles enviasse um SMS dizendo “Corra”, e o outro respondesse, eles se encontrariam na plataforma da estação Grand Central, em Nova York, e partiriam numa aventura através do país. 

“É meio engraçado estrear agora uma série sobre fugir da sua família - eu imagino que muitos estão fantasiando fazer exatamente isso nesse momento”, disse Jones em entrevista exclusiva ao Estado. “Mas queríamos que fosse uma diversão escapista e alegre para as pessoas.”

Chamado. A mãe e dona de casa Ruby, interpretada por Merritt Wever, parte em busca de um antigo amor da faculdade. Foto: HBO

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A ideia inicial surgiu de uma brincadeira entre ela e sua sócia na companhia teatral DryWrite, Phoebe Waller-Bridge - juntas, elas fizeram o monólogo Fleabag, que depois virou a série fenômeno da BBC e que está disponível no Brasil na Amazon Prime Vídeo. 

“Tínhamos essa piada, em que sussurrávamos ‘corra’ uma para a outra quando queríamos fugir de um evento social, uma coisa de trabalho ou um relacionamento.”  Jones sempre foi a parte menos visível dessa parceria. “Eu prefiro não estar sob os holofotes. Mas, para falar a verdade, tem sido legal falar sobre a série”, disse Vicky Jones. Phoebe Waller-Bridge é produtora executiva de Run e faz uma participação especial.

Na série, o pacto é entre dois personagens que foram muito apaixonados, mas que, por algum motivo, não ficaram juntos. “Tinha algo de Antes do Amanhecer por causa da sensação de acompanhar o romance momento a momento, mas sabíamos que não poderíamos fazer a mesma coisa”, contou a roteirista. 

As histórias românticas parecem estar fora de moda, então criar algo novo era um desafio. “Não é tão empolgante só ver como duas pessoas que parecem ser certas uma para a outra ficam juntas. Queria algo mais complicado emocionalmente e porque ambos têm outras questões a resolver.” 

Vicky Jones também desejava misturar gêneros, jogando uma pitada de Alfred Hitchcock. “Muitos estranhos entram para aumentar o mistério, e os dois têm segredos que não revelam para o outro. É isso que move a história. Espero assim estar sempre um passo adiante do público e fazer algo original.”

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Assim como em Fleabag (e em Killing Eve, criada por Waller-Bridge e na qual Vicky Jones contribuiu com um roteiro), as expectativas sobre a personagem feminina são subvertidas. Não é comum, afinal, ver mães abandonando seus filhos. “No início, Ruby teria apenas enteados. Mas percebi que isso era covardia. Estava com medo de contar a história de uma mulher que deixa seus filhos de verdade e ainda assim é interessante e alguém por quem a gente torce”, disse a criadora de Run. “Eu me tornei mãe nesse período e claro que é um horror uma mãe deixar sua família. Só que eu consigo entendê-la, porque vivi na pele a expectativa em torno da maternidade, que para ser uma mãe perfeita você tem de colocar todo o mundo em primeiro lugar. Mas é só uma história, gente!”

Como em Fleabag, Run não se furta a mostrar o desejo sexual feminino - até porque o encontro entre Ruby e Billy é quente. Mas sempre de forma bem realista. “O sexo na TV e no cinema sempre me soou falso. Sem falar do pornô”, afirmou ainda Jones.

“Phoebe e eu conversamos sobre como deve ser pouco saudável a cabeça dos jovens que crescem vendo pornografia tão irreal. Fora que para nós era importante falar de coisas que escondemos por vergonha ou culpa. Não me parece uma proposta tão radical.”

Vicky Jones também percebeu como o nascimento de seu filho fez com que quisesse escrever personagens masculinos mais vulneráveis e sensíveis. “Os melhores homens que conheço são capazes de chorar sem sentir vergonha e não têm medo das mulheres”, explicou.

“Queria que Billy, o personagem, fosse assim. Alguém que também tem facetas irritantes, mas que é essencialmente um homem maravilhoso, um homem que meu filho pode admirar e, espero, com quem se pareça”, acrescentou. 

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