Ele pagou a língua?

SUCESSO Autor de canção que critica a televisão, Tony Bellotto hoje colhe os louros de fazer TV inteligente

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Por Redação
Atualização:

TV afiada. Programa gravado no Rio tem clima caseiro. Foto: Marcos Arcoverde/AE

 

 

 

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Quando Tony Bellotto escreveu com os colegas do Titãs a letra de Televisão, para o álbum homônimo de 1985, não imaginou que um dia comandaria um programa tão duradouro no veículo que até então criticava. Hoje, 25 anos depois, o músico e escritor está prestes a estrear a 10.ª temporada de seu programa, o Afinando a Língua, que há 11 anos é um dos mais vistos do Canal Futura. A atração fala sobre Língua Portuguesa e literatura por meio da música.

 

Nesta temporada, que estreia dia 21 de setembro, foi lançado no Twitter o concurso Banda Afinada: a banda que obtivesse mais votos dos internautas faria um episódio do programa. Em duas semanas, 200 bandas se inscreveram - dessas, cinco foram selecionadas e, com 84,95% dos votos, os vencedores foram os meninos da Curimba, de Campo Grande, Mato Grosso do Sul.

 

"Foi um case de sucesso", diz a diretora de programação do canal, Débora Garcia. Vencemos o desafio de falar com o jovem. Foram 25 mil rettwittes, o que significa mais de 2 milhões de público potencial alcançado". diz.

 

 

Era digital. Da plateia, Tony vê a banda que se inscreveu em concurso lançado no Twitter. Foto: Marcos Arcoverde/AE

 

 

 

Neste bate papo, entre as gravações de dois dos 13 episódios desta nova temporada, Tony Bellotto conta sobre sua relação de amor e ódio com a TV comercial.

 

Qual a fórmula para se manter em um programa cultural durante tanto tempo?

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Foi uma sacada do Hugo Barreto (secretário Geral da Fundação Roberto Marinho), que me convidou em 1998, com uma ideia meio vaga de chamar a atenção dos jovens que ouvem música e têm resistência e preguiça de ler e mostrar, por meio das letras das músicas, que a literatura é tão interessante quanto. E com o tempo, o programa foi deixando o lado didático, para falar mais de linguagem. No começo, achamos que o público ia ser jovem, meio MTV, e com o tempo, vimos que a audiência é bem variada. Garçons e porteiros vêm me falar que adoram.

 

Você não acaba falando mais de música do que de literatura?

A gente tem uma certa liberdade. Porque falar de literatura não é a mesma coisa que ler. E a música acontece. Um Alceu Valença, que teve formação híbrida, ouvindo cantadores do Nordeste a um Elvis Presley, que recita um poema com tanta paixão, diz muito mais do que ficar ali falando da obra do Dostoievski, do Machado de Assis.

 

Seu programa contraria um pouco a letra da canção "A televisão me deixou burro, muito burro demais." Quem mudou: você ou a televisão?

(Risos) Acho que foi a televisão. Quando a gente escreveu Televisão não existia a TV a cabo, que permitiu uma TV de mais qualidade. A TV aberta continua deixando a música muito atual. Adoro assistir TV e vejo muito mais coisas de canais alternativos. Gosto de canais de jornalismo, de música, algo que cada vez menos a gente encontra na TV, de programas de gastronomia, que antes eram tão bagaceira e hoje são geniais.

 

A TV deixou de ser vilã?

Deixou. Mas quando a gente compôs a música, era uma crítica bem-humorada, de alguém que já estava inserido naquilo. Os Titãs sempre tiveram uma relação positiva com a TV. Acho que a TV foi vilã num pensamento meio marxista, que era o ópio do povo, que emburrecia as crianças. Quando eu era pequeno e morava no interior com meus pais, professores universitários, não tínhamos TV. Hoje não imagino uma sociedade sem televisão.

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Você é um pai que pega no pé dos seus filhos (Nina, João e Antônio, de 28, 15 e 13 anos), com o português?

Lembro que quando meu filho mais velho estava na 5.ª série e não estava indo bem em gramática, eu disse: "Pô, João. Não faz isso comigo que pega mal para mim." Sempre corrijo essas manias de falar frases clichê, o "tipo assim". Tento mostrar a riqueza da língua, a possibilidade de usar palavras inusitadas. Mas não sou um pai chato. Não quer ler não lê.

 

Seu programa é um dos mais populares do Futura. Já te convidaram para uma TV comercial?

Nunca. Seria genial se rolasse, acredito que exista espaço. Um dos programas com mais música na TV aberta é o (Altas Horas) do Serginho Groisman (Globo)que, embora esteja num horário marginal, pelo menos não fica se mediocrizando em nome da competição. Acho estranho nunca terem me chamado.

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