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'Ele é o Darth Vader do sertão', diz Serrado sobre seu personagem em 'Velho Chico'

Personagem vai se revelando vilão na novela das 9 e ganha figurinos cada vez mais escuros

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Por Redação
Atualização:
 Foto: ARTUR MENINEA/DIVULGAÇÃO

Em meio a uma concepção toda barroca, figurino de cores fortes e adereços que beiram o exagero, o deputado Carlos Eduardo é de uma discrição que aparentemente o localizava em terreno quase nulo na novela das 9 da Globo, Velho Chico. Engano. De uns poucos capítulos para cá, o moço que aceitou se casar com a filha grávida do coronel, para assumir uma paternidade alheia, tem dado sinais evidentes de que sua cobiça de poder é patológica. E o público há de reparar como as peças do guarda-roupa do político vivido por Marcelo Serrado vai ganhando tonalidades cada vez mais escuras. “Esse deputado vai começar a escurecer, agora”, adianta o ator em entrevista ao Estado por telefone, entre uma gravação e outra.

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“A aparência dele, que era bege, um pouco azul, vai ficando mais cinza, o bege vai ficando marrom, até chegar no preto. A gente vai escurecendo esse personagem aos poucos. E ele termina no dark, na sombra, é o Darth Vader do sertão”, define. A retomada do romance entre sua mulher, Maria Tereza (Camila Pitanga), e Santo (Domingos Montaigner), nos capítulos a seguir, corrói o personagem, a quem Serrado também trata como Iago, um dos maiores vilões da literatura mundial, da obra de Shakespeare, Otelo. “Quando o Luiz (Fernando Carvalho, diretor artístico da novela) me falou desse personagem, lá atrás, ele disse: ‘ele tem essa vilania que a gente vai descobrindo aos poucos’. Era aquele cara que estava ali, atrás do coronel, ele não tem, a princípio, essa conotação de vilão, é meio Iago, tem um jeito meio de cobra, parece uma coisa, mas, na verdade é outra. É muito interessante ir descobrindo essas camadas do personagem.”

Na véspera da nossa conversa, Serrado gravou uma cena com Camila que lhe deu a dimensão de que o casal entra agora num embate sem volta. “Não há mais amor na minha relação com ela. Quer dizer, amor há, principalmente dele, mas não tem mais jeito de a gente se dar bem, a gente já criou uma oposição muito grande, muito nítida”. Na semana que passou, a história de Benedito Ruy Barbosa mostrou Carlos Eduardo esbravejando contra a volta de Martim (Lee Taylor), herdeiro direto do coronel Afrânio (Antonio Fagundes), de quem ele espera herdar a fazenda e todo o poder de Grotas do São Francisco, cidade que parou no tempo. E flagrou o momento em que ele vê uma prostituta colocando sonífero na bebida do sogro, sem que o genro se mova para alertar o coronel Saruê sobre a fraude. Houve ainda o dia em que Carlos Eduardo se refestelou na cadeira do coronel e fumou de seu charuto. Mais a seguir, quem sabe, é até capaz de matar por amor, arrisca Serrado. 

Já a compreensão do que significa a paixão e a obsessão pelo poder foi missão que levou o ator a passar dois dias em Brasília, no coração do Congresso, antes do início das gravações. “Conheci todos os deputados, de todas as alas, tirei foto com todo mundo, conversei com muita gente, pessoas díspares, aquilo é um retrato da sociedade, o retrato da sociedade brasileira. Quer dizer, a sociedade é muito mais interessante que aquilo, acredito eu. A gente tem que torcer por uma limpeza geral. Mas, do poder, o que eu achei mais interessante é que tem uma solidão também. Aqueles caras, quando terminam tudo, emendas a aprovar e não sei o que mais, ficam ali no cafezinho, sozinhos. Às vezes, o deputado que não é muito famoso fica ali num canto, só. Isso me interessou muito: saber como humanizar essa figura.”

Criado na zona sul carioca, em Ipanema, Serrado se surpreende com a capacidade que Luiz Fernando tem de fazê-lo entrar em cena com arquétipos totalmente diferentes do seu, como aconteceu na série Alexandre e Outros Heróis, baseada em texto de Graciliano Ramos. “Eu tinha acabado de fazer o Crô (filme baseado no mordomo afetado vivido por ele na novela ‘Fina Estampa’, de Aguinaldo Silva), e ele me pegou pra fazer um cara que tocava embolada, ruivo, com sotaque paraibano, no sertão do nordeste, com 1,60 m de altura. Isso é uma coisa que move muito os atores.”

Serrado também esteve no nordeste como Mundinho, no remake de Gabriela, exibida como novela das onze em 2012, mas ressalta que o universo atual nada tem a ver com aquele de Jorge Amado, em que o tom farsesco dava as rédeas. “Ali era comédia, aqui é hard core. É dedo na ferida, é LFC (sigla das iniciais do diretor). Tem UFC e LFC”, brinca. “A gente faz cenas contundentes, a emoção tem que ser no grau máximo, não vamos dourar a pílula.” E celebra a chance de estar numa produção que se dá ao luxo de abrigar cenas como uma aula de democracia para as crianças, como protagonizou Irandhir Santos, há poucos capítulos, ou noções de cuidados com a terra e os alimentos, o uso de agrotóxicos e a deterioração do São Francisco, temas permanentemente abordados no folhetim, entre um beijo aqui e um tiro acolá.

Daqui até o fim, mais de 80 capítulos faltam para traçar o destino dos personagens de Velho Chico. Para Serrado, Carlos Eduardo seguirá, até lá, em rumo vertical. “O Luiz criou um caminho muito sem volta para ele, as coisas vão aos poucos se desenhando para esse personagem, pra ele se transformar num ‘Darth Vader do Sertão’, meio Clemente (Júlio Machado, capanga de Afrânio na 1ª fase da novela, que só vestia preto), essa figura da sombra, da dor, do ciúme.” No capítulo de sexta, visivelmente ressentido, Carlos Eduardo disse à mulher que sabe que não é considerado “da família”, mas sim como “agregado”. “Essa família é doente. Eu cansei de ser o remédio dela”. 

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