'É através da educação que vem a transformação. Minha esperança vem daí', diz Taís Araújo

A atriz fala sobre as expectativas que tem em uma nova geração de brasileiros, sobre racismo e sobre a nova temporada da série, 'Mister Brau', que estreia no dia 24 de abril

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Por Adriana Del Ré
Atualização:

Taís Araújo está de volta à TV, e, com ela, retorna também a poderosa Michele Brau, da série Mister Brau, cuja 4.ª temporada estreia no próximo dia 24, na Globo. Aos 39 anos, a atriz carioca entrou na lista das personalidades mais influentes de 2017, ao lado do marido, Lázaro Ramos – o ator fez sucesso com seu livro, Na Minha Pele, e polarizou as atenções na Flip. “Ele fez um livro muito cuidado, muito agregador”, elogia Taís. Casada há 14 anos com Lázaro, ela e o marido fazem sucesso também com Mister Brau, que gira em torno de Brau, estrela da música, e de sua família e seus amigos. Taís Araújo conversou com o Estado, por telefone, do Rio. 

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Sua personagem, Michele, vem crescendo da primeira temporada de Mister Brau para cá. Agora, ela vira uma diva internacional. Fale sobre essa evolução dela. O Mister Brau é uma série que começou para ter só uma temporada. Quando as outras temporadas foram chegando, a gente tinha que inventar histórias. A gente deve muito aos autores, ao que está acontecendo na sociedade. Esta temporada foi isso: o que a gente vai fazer agora? Vamos colocar a Michele estourando profissionalmente, e o que vai acontecer com nosso protagonista, que é o Brau? Vai causar diretamente um conflito entre ele e a mulher. É algo que a gente está discutindo na sociedade: quando a mulher ganha mais dinheiro que o homem, quando ela se desenvolve profissionalmente mais que o homem. 

E como Brau reage a isso? Reage muito mal. Ele não consegue segurar essa onda. Daí que vem esse conflito. Tudo foi construído para a queda do herói, para abalar sua estrutura. E ele fica bem abalado. Ao mesmo tempo, tem uma coisa que é linda de busca de identidade dele. É bonito ver essa fragilidade do Brau e que também não há maldade no comportamento da Michele, de surfar nesse sucesso que ela está fazendo. Ela não disputa. Ele passa sete episódios nessa busca (pela identidade) e no 8.º é que acontece uma explosão. É lindo o que acontece nesse reencontro dele com o que ele é artisticamente. 

A atriz: naTV, em 'Mister Brau'; no teatro, em 'O Topo da Montanha'. Foto:Wilton Junior/Estadão 

Os números musicais continuam?  Na temporada passada, tivemos participações muito importantes, Elza, Liniker. Nesta, são só os shows da Michele, a carreira internacional dela. São megashows. Tem a chegada na Priscila, personagem que o Lázaro fazia no Sexo Frágil. O sexto episódio é inteirinho musical. O Brau vai fazer uma cirurgia, toma uma anestesia, entra numa viagem e o episódio é todo musical.

Você se despediu do Saia Justa, do GNT, em 2017, por causa do Mister Brau. É algo que você quer voltar a fazer?  Agora não, porque tenho tanta coisa para fazer. Não dá tempo. Sofri muito para sair. O Mister Brau exige muito, e não daria para fazer os dois ao mesmo tempo. Foi um momento muito importante para mim profissionalmente. Eu já tinha apresentado programa, passei 4 anos apresentando Superbonita, mas era um programa completamente diferente de tudo o que eu já tinha feito. 

No ano passado, falei com Lázaro sobre sua participação no Saia Justa e ele me falou que achava bacana você poder exercitar essa questão da comunicação, que você tem passado por um processo bonito de construção de uma maneira de comunicar aquilo que pensa. Quando você sentiu necessidade de expor esse seu lado?  Acho que foi a partir do momento que comecei a escrever nas redes sociais. Trabalho desde menina. Muitas vezes, eu via que as pessoas acreditavam que eu fosse mais do que realmente era. Quando alguém vai escrever alguma coisa sobre você, é uma imagem que a pessoa faz. Não necessariamente o que você é. Então, acho que consegui me comunicar, porque sou eu escrevendo, o que eu acredito, e não a imagem que as pessoas têm de mim, ou preestabelecem.

'Mister Brau'. A nova temporada: o casal durante gravações em Angola. Foto:AntonioGamito/Globo 

Você participou do TEDxSãoPaulo do ano passado, com um discurso que repercutiu sobre ‘como criar crianças doces num país ácido’. Como foi colocar seu ponto de vista, sobre sociedade, racismo? Foi um texto que levei mais de um mês para elaborar. O TEDx que participei era sobre educação. Tenho dois filhos, não sou uma educadora. Então, o que eu poderia falar era sobre minha angústia como mãe na criação de duas crianças. Está cada vez mais complexo viver aqui e respirar tranquilamente, sem viver num sobressalto. Isso, de fato, é uma preocupação nossa. 

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Por causa desse discurso, você também foi atacada nas redes. Então, pergunto: o quanto avançamos no debate sobre o racismo? Tenho sensação de que tem avanço, sim. A gente está conseguindo devagar se livrar do mito da democracia racial, que acho que é o primeiro passo para a gente discutir de maneira madura o país em que a gente vive. É aquela coisa: vem o progresso e, então, vem uma onda mais conservadora para rebater. Esses passos são incômodos, abalam estruturas, muitas até já preestabelecidas. Acho muito natural que tenham essas ondas contrárias. Acho que a gente deve estar preparado, sabemos o país em que vivemos. Acho que é assim: coração calmo e passos firmes para continuar. 

Você sofreu ataque racista nas redes. Entrou com processo? Entrei. Existe uma lei que está aí para defender a gente, e a gente tem que fazer uso dela, a nosso favor. Isso garante que a sensação de impunidade não prevaleça, que acho que é um dos grandes problemas do nosso país em todos os sentidos. Muitas vezes, diante de muitas situações, queixas não são dadas, processos não vão para frente. Acho que a gente como cidadão tem que saber que tem direitos. A gente usa pouco nossos direitos, a gente exige pouco nossos direitos.

Qual desejo e receio para seus filhos dentro dessa sociedade? A gente tem uma geração inteira que entrou na faculdade, que se formou, e acho que a vida dos filhos deles já será diferente. A chance que uma geração inteira teve de entrar na universidade e se formar é o que vai disparar uma possível mudança mais significativa no País. Não acredito em outra coisa senão em educação para tudo. Consequentemente, a gente consegue diminuir a desigualdade social. A partir da educação, a gente tem grandes conquistas e elas serão vistas conforme o tempo vai passando, e a gente vai se educando, e a gente vai exigindo nossos direitos. A educação é realmente generosa, ela não muda só a vida de quem está lá dentro, como consegue mudar a vida de quem está em volta dessa pessoa, porque o conhecimento amplifica, contagia. A minha esperança vem daí. E todo meu desejo é que cada vez mais as pessoas tenham acesso à educação, é através dela que vem a transformação. 

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